segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Desprezo ao patriotismo

           A então embaixadora do Brasil em Malabo, capital da Guiné Equatorial, na África, escreveu, em telegrama reservado enviado ao Itamaraty, após ter testemunhado a seguinte conversa: “Lula citou, então, telefonema que dera ano passado ao Presidente Obiang sobre a importância de se adjudicar obra de construção do aeroporto de Mongomeyen à empresa Odebrecht”, o que significa, em português claro que o petista havia pedido ao presidente da Guiné que desse a obra do aeroporto à Odebrecht, fato que caracteriza, de forma contundente, a diplomata brasileira flagrando o ex-presidente em admissão verbal e explícita agindo em favor da Odebrecht.  
O aludido relato sigiloso, revelado por ÉPOCA, é forte evidência de que o ex-presidente, após deixar a Presidência da República, passou a atuar como lobista da Odebrecht, contrariando tanto a afirmação dele como da empreiteira, fato que se harmoniza com igual revelação da revista, mostrada com base também por meio de telegramas do Itamaraty, que o petista havia feito lobby em Cuba, tendo igualmente feito uso do nome da presidente brasileira para assegurar que o BNDES continuaria financiando obras naquele país.
O telegrama da Guiné integra os documentos confidenciais obtidos por ÉPOCA sobre as atividades do ex-presidente e da Odebrecht em países que receberam financiamento do BNDES, cuja análise sobre seu conteúdo está sendo feita pelo Ministério Público Federal, no processo que apura a participação do petista em possível tráfico de influência internacional, crime tipificado pelo Código Penal, por atuação em benefício da maior construtora brasileira, que também se envolveu no petrolão.
          Os documentos levantados por ÉPOCA evidenciam que o petista atuou junto a governos da África, à procura de bons negócios para a Odebrecht e outras empreiteiras, de quem recebia astronômicas remunerações por “palestras”. Ele teria usado o nome da presidente do país com relação ao financiamento de Cuba. Os documentos revelam, ainda, que ele, quando na Presidência da República, marcou reuniões de empresários africanos com o presidente do BNDES, fato que contradiz a versão do executivo sobre as relações do petista com ele e o banco.
O ex-presidente foi citado num relatório da Polícia Federal na Operação Lava-Jato mostrando uma série de trocas de e-mails de executivos daquela construtora, onde consta, numa dessas mensagens, que o então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior diz ao presidente da Odebrecht que o “PR fez o lobby” para a construtora numa obra na Namíbia, na África. “PR”, segundo os investigadores, significa Presidente da República, cargo ocupado pelo petista na época dos fatos.
O presidente de Gana, na África, pediu o apoio do petista para conseguir junto às autoridades brasileiras a liberação de linha de crédito no valor de US$ 1 bilhão para financiamento de projetos de infraestrutura. Segundo consta em telegrama reservado do Itamaraty, o presidente ganês “frisou que o  apoio do ex-presidente Lula a essa sua demanda serviria para facilitar e acelerar as necessárias negociações relativas à aprovação do crédito”.
Uma mensagem diplomática destaca que “O ex-presidente Lula disse acreditar que o BNDES teria condições de acolher a solicitação da parte ganense e, nesse sentido, intercederia junto à presidenta Dilma Rousseff”. Quatro meses depois, o BNDES liberou o financiamento no valor de US$ 202,1 milhões (R$ 452,7 milhões, em valores da época) para a construção de uma rodovia em Gana.
Sobre a atuação do ex-presidente, o Instituto que tem o seu nome disse que as visitas dele a África foram mais de cortesia e amizade, tendo contribuído para ajudar a dinamizar as discussões em torno da relação entre atores privados dos dois países e, principalmente, atraiu a atenção de empresários brasileiros para o potencial de investimentos no Benin.
O Instituto disse ainda que “Temos a absoluta certeza da legalidade e lisura da conduta do ex-presidente Lula, antes, durante e depois do exercício da Presidência do país, e da sua atuação pautada pelo interesse nacional”.
O BNDES disse que “todos os contatos entre o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o então presidente Lula ocorreram dentro do papel institucional de cada um e da mais absoluta lisura”.
A Odebrecht disse que mantém uma relação institucional com o ex-presidente e que ele foi convidado para fazer palestras em eventos voltados a defender “as potencialidades do Brasil e de suas empresas”.
Estranha-se que empresas envolvidas no Petrolão repassem recursos da ordem de R$ 10 milhões para LILS, empresa de palestras do ex-presidente, tiveram origem lícita e uma contraprestação de serviços.
Conforme levantamentos realizados em documentos secretos em poder do Itamaraty e aos quais a revista EPOCA teve acesso, surgem mais fatos e evidências que contradizem a versão segundo a qual o ex-presidente da República petista nunca tenha feito lobby para a Odebrecht e outras empreiteiras e que ele também não teria usado o nome da presidente brasileira para a facilitação dos financiamentos para países estrangeiros.
Não fosse o ex-presidente da República brasileiro, a sua atuação não seria simplesmente considerada como lobby, mas sim crime de lesa-pátria, ante a gravidade do fato e a falta de sensibilidade ínsita em importante homem público, que demonstra desprezo à situação de penúria e de carência dos brasileiros, tão necessitados de assistência de toda ordem, como saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, transportes, infraestrutura e tantas obras públicas que o esforço para conseguir dinheiro para os países da África e da América Latina constitui verdadeira traição ao país e aos brasileiros.
Os fatos mostram que a atuação do ex-presidente, no apoio às construtoras brasileiras, que ele tenha se beneficiado ou não da situação, não pode ser considerada vantajosa para o Brasil, mesmo sob a alegação de que a diplomacia presidencial contribuiu para aumentar as exportações brasileiras de produtos e serviços, porque a análise precisa ser feita sobre o resultado dos investimentos em obras para beneficiar os brasileiros, que estão ajudando somente o desenvolvimento de outros países, embora também carentes, mas os recursos gerados aqui jamais deveriam ter saído dos cofres públicos senão para  o financiamento de obras em terras tupiniquins, para exclusivo benefício do povo daqui.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que o bom e precioso lobby deve ser sempre enaltecido e valorizado quando ele for feito em favor dos interesses do Brasil, ou seja, quando os ex-presidentes e demais homens públicos tiverem a sensibilidade de que, enquanto o país estiver em absoluta carência de recursos e seu povo passando por privações de toda ordem, sofrendo por falta de obras e serviços essenciais, seus esforços devam ser sempre no sentido da obtenção de recursos e financiamentos para o Brasil e jamais em sentido contrário, porque não há fato algum que justifique a saída de recursos da instituição que foi criada exclusivamente para o desenvolvimento econômico e social do povo brasileiro, não justificando que o BNDES faça financiamento para o exterior, diante da calamidade por que passam os brasileiros, em termos de obras públicas e assistência social de grande magnitude. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 17 de outubro de 2016

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