A então embaixadora do Brasil em
Malabo, capital da Guiné Equatorial, na África, escreveu, em telegrama reservado
enviado ao Itamaraty, após ter testemunhado a seguinte conversa: “Lula citou, então, telefonema que dera ano
passado ao Presidente Obiang sobre a importância de se adjudicar obra de
construção do aeroporto de Mongomeyen à empresa Odebrecht”, o que
significa, em português claro que o petista havia pedido ao presidente da Guiné
que desse a obra do aeroporto à Odebrecht, fato que caracteriza, de forma
contundente, a diplomata brasileira flagrando o ex-presidente em admissão
verbal e explícita agindo em favor da Odebrecht.
O
aludido relato sigiloso, revelado por ÉPOCA, é forte evidência de que o
ex-presidente, após deixar a Presidência da República, passou a atuar como lobista da Odebrecht, contrariando tanto a afirmação dele
como da empreiteira, fato que se harmoniza com igual revelação da revista, mostrada
com base também por meio de telegramas do Itamaraty, que o petista havia feito
lobby em Cuba, tendo igualmente feito uso do nome da presidente brasileira para
assegurar que o BNDES continuaria financiando
obras naquele país.
O
telegrama da Guiné integra os documentos confidenciais obtidos por ÉPOCA sobre
as atividades do ex-presidente e da Odebrecht em países que receberam
financiamento do BNDES, cuja análise sobre seu conteúdo está sendo feita pelo Ministério Público Federal, no processo que apura a participação do
petista em possível tráfico de influência internacional, crime tipificado pelo
Código Penal, por atuação em benefício da maior construtora
brasileira, que também se envolveu no petrolão.
Os
documentos levantados por ÉPOCA evidenciam que o petista atuou junto a governos
da África, à procura de bons negócios para a Odebrecht e outras empreiteiras, de
quem recebia astronômicas remunerações por “palestras”. Ele teria usado o nome
da presidente do país com relação ao financiamento de Cuba. Os documentos
revelam, ainda, que ele, quando na Presidência da República, marcou reuniões de
empresários africanos com o presidente do BNDES, fato que contradiz a versão do
executivo sobre as relações do petista com ele e o banco.
O
ex-presidente foi citado num relatório da Polícia Federal na Operação Lava-Jato
mostrando uma série de trocas de e-mails
de executivos daquela construtora, onde consta, numa dessas
mensagens, que o então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior diz ao presidente da Odebrecht que o “PR fez o lobby” para a
construtora numa obra na Namíbia, na África. “PR”, segundo os investigadores,
significa Presidente da República, cargo ocupado pelo petista na época dos
fatos.
O
presidente de Gana, na África, pediu o apoio do petista para conseguir junto às
autoridades brasileiras a liberação de linha de crédito no valor de US$ 1
bilhão para financiamento de projetos de infraestrutura. Segundo consta em
telegrama reservado do Itamaraty, o presidente ganês “frisou que o apoio do ex-presidente Lula a essa sua demanda
serviria para facilitar e acelerar as necessárias negociações relativas à
aprovação do crédito”.
Uma
mensagem diplomática destaca que “O
ex-presidente Lula disse acreditar que o BNDES teria condições de acolher a
solicitação da parte ganense e, nesse sentido, intercederia junto à presidenta
Dilma Rousseff”. Quatro meses depois, o BNDES liberou o financiamento no
valor de US$ 202,1 milhões (R$ 452,7 milhões,
em valores da época) para a construção de uma rodovia em Gana.
Sobre
a atuação do ex-presidente, o Instituto que tem o seu nome disse que as visitas
dele a África foram mais de cortesia e amizade, tendo contribuído para ajudar a
dinamizar as discussões em torno da relação entre atores privados dos dois
países e, principalmente, atraiu a atenção de empresários brasileiros para o
potencial de investimentos no Benin.
O
Instituto disse ainda que “Temos a
absoluta certeza da legalidade e lisura da conduta do ex-presidente Lula,
antes, durante e depois do exercício da Presidência do país, e da sua atuação
pautada pelo interesse nacional”.
O
BNDES disse que “todos os contatos entre o presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, e o então presidente Lula ocorreram dentro do papel institucional
de cada um e da mais absoluta lisura”.
A
Odebrecht disse que mantém uma relação institucional com o ex-presidente e que ele foi
convidado para fazer palestras em eventos voltados a defender “as potencialidades do Brasil e de suas
empresas”.
Estranha-se
que empresas envolvidas no Petrolão repassem recursos da ordem de R$ 10 milhões
para LILS, empresa de palestras do ex-presidente, tiveram origem lícita e uma
contraprestação de serviços.
Conforme
levantamentos realizados em documentos secretos em poder do Itamaraty e aos quais
a revista EPOCA teve acesso, surgem mais fatos e evidências que contradizem a
versão segundo a qual o ex-presidente da República petista nunca tenha feito
lobby para a Odebrecht e outras empreiteiras e que ele também não teria usado o
nome da presidente brasileira para a facilitação dos financiamentos para países
estrangeiros.
Não fosse o ex-presidente da República brasileiro, a
sua atuação não seria simplesmente considerada como lobby, mas sim crime de
lesa-pátria, ante a gravidade do fato e a falta de sensibilidade ínsita em
importante homem público, que demonstra desprezo à situação de penúria e de
carência dos brasileiros, tão necessitados de assistência de toda ordem, como
saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, transportes,
infraestrutura e tantas obras públicas que o esforço para conseguir dinheiro
para os países da África e da América Latina constitui verdadeira traição ao
país e aos brasileiros.
Os fatos mostram que a atuação do ex-presidente, no
apoio às construtoras brasileiras, que ele tenha se beneficiado ou não da
situação, não pode ser considerada vantajosa para o Brasil, mesmo sob a
alegação de que a diplomacia
presidencial contribuiu para aumentar as exportações brasileiras de produtos e
serviços, porque a análise precisa ser feita sobre o resultado dos
investimentos em obras para beneficiar os brasileiros, que estão ajudando somente
o desenvolvimento de outros países, embora também carentes, mas os recursos
gerados aqui jamais deveriam ter saído dos cofres públicos senão para o financiamento de obras em terras
tupiniquins, para exclusivo benefício do povo daqui.
Os
brasileiros precisam se conscientizar de que o bom e precioso lobby deve ser
sempre enaltecido e valorizado quando ele for feito em favor dos interesses do
Brasil, ou seja, quando os ex-presidentes e demais homens públicos tiverem a
sensibilidade de que, enquanto o país estiver em absoluta carência de recursos
e seu povo passando por privações de toda ordem, sofrendo por falta de obras e
serviços essenciais, seus esforços devam ser sempre no sentido da obtenção de
recursos e financiamentos para o Brasil e jamais em sentido contrário, porque
não há fato algum que justifique a saída de recursos da instituição que foi
criada exclusivamente para o desenvolvimento econômico e social do povo
brasileiro, não justificando que o BNDES faça financiamento para o exterior,
diante da calamidade por que passam os brasileiros, em termos de obras públicas
e assistência social de grande magnitude. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de outubro de 2016
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