sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Demonstração de insensatez



Diante de reiterados insucessos dos recursos impetrados nas cortes de Justiça, inclusive no Supremo Tribunal Federal, com a finalidade de fugir da caneta do competente juiz federal de Curitiba, o ex-presidente da República petista houve por bem enviar recurso ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, na tentativa de barrar ações que ele classifica como “abuso de poder” do magistrado e dos procuradores da Operação Lava-Jato.
O ex-presidente alega, na petição, que há “clara falta de imparcialidade” nas investigações e classifica como “atos ilegais” a gravação e divulgação de conversas privadas entre ele a ex-presidente da República, além de sua condução coercitiva para um depoimento, dando a entender que ele está acima da lei e não pode ser tratado como os pobres mortais.
Segundo o Ministério Público, a conversa telefônica entre o ex-presidente e a agora ex-presidente é um dos mais cristalinos exemplos de que a nomeação dele como ministro da Casa Civil do governo tinha o deliberado propósito de blindá-lo das investigações da Operação Lava-Jato, por permitir a transferência de seu caso para o Supremo, corte que o petista chamou, nos grampos judiciais, de “acovardado”, em claro desrespeito à sua relevância institucional.
O ex-presidente cita ainda entendimentos da Comissão de Direitos Humanos da ONU e de outras cortes internacionais acerca das ações “enviesadas” do juiz da Lava-Jato, dando a entender, na avaliação da defesa do petista, que o magistrado não teria condições de julgá-lo ou prendê-lo, mas, diz o recurso, “Se isso acontecer, que seja decidido por um juiz imparcial”.
A medida em referência permite se intuir, de forma transparente, que o ex-presidente tenta se manter no topo da mídia mundial como vítima e injustiçado, mas também com a insinuação de menosprezo à capacidade e à inteligência dos brasileiros, que estão ávidos por justificativas, mediante a indicação, por parte do petista, de elementos contestatórios e probantes sobre os fatos que estão sendo reiteradamente denunciados como ilícitos graves, mas os esclarecimentos do ex-presidente são somente no sentido de que ele sempre agiu em estrito cumprimento das normas legais e constitucionais do país, embora os fatos mostrem a realidade bem diferente, que exigem cabais contestações de que eles sequer aconteceram.
Nem precisaria de tanto esforço, com o uso de célebres advogados, de extremas experiência e sapiência jurídicas, se o ex-presidente se esforçasse com a simplicidade que lhe é peculiar para contestar, ele próprio, com elementos e provas capazes de demover cada fato, deixando claro que nenhum deles aconteceu na forma como a Polícia Federal e o Ministério Público comprovaram, por meio de notas fiscais, testemunhas, depoimentos, dados materiais e demais elementos juridicamente válidos de acusação de que eles aconteceram sim, com o que se evitariam as eternas suspeitas sobre quem se diz, com todo direito, o suprassumo da honestidade, mas tem evitado, conforme evidenciam os fatos, mostrar que mata a cobra, mas não se dispõe a apresentar as provas da sua materialidade sobre os fatos, ou seja, contestar caso a caso com os elementos pertinentes.
Nos termos do ordenamento jurídico, o ônus da prova cabe a quem acusa e, quanto a esse requisito, o Ministério Público vem juntando os elementos pertinentes aos fatos levantados nas investigações, dando consistência às denúncias apresentadas contra o petista, que se limita a espernear e muito, como nesse caso, em que o recurso se antecipa às decisões ainda preliminares da Justiça brasileira, que tem competência para examinar todos os casos, até o trânsito em julgado, inclusive os recursos sobre tais decisões, envolvendo o ex-presidente, que não precisaria se antecipar, para recorrer a organismos internacionais, em cristalino desprezo ao poder Judiciário brasileiro.
Não há a menor dúvida de que o ex-presidente é pessoa que merece o maior respeito, pelo tanto que ele diz ter feito para o país e os brasileiros, embora não faria o menor sentido se ele tivesse sido eleito presidente da República e depois reeleito e não tivesse competência para fazer algo em benefício da população, como era do seu dever como estadista, o que vale dizer, em tese, que ele apenas cumpriu, como alega, com a devida eficiência, o seu dever funcional, por ter sido remunerado para tanto como responsável pela aplicação dos recursos dos brasileiros.
Agora, ele precisa que o povo acredite na licitude de suas atuações também nas atividades como cidadão, que não pode deixar de agir com indispensável transparência, como importante princípio que confirma a integridade, honestidade e dignidade também e igualmente do homem público, de modo que não restem dúvidas quanto à legitimidade de seus atos na vida tanto pública como privada, a exemplo do que é normal acontecer com as pessoas públicas nos países sérios e desenvolvidos democraticamente.
Ressalte-se que o ex-presidente gasta milhões de dólares para pagar advogados caríssimos, para denunciar falha inexistente no poder Judiciário brasileiro, na tentativa de puxar o holofote da opinião mundial em seu socorro, como sendo pessoa perseguida e vítima da Justiça, exatamente no dia em que a Polícia Federal atesta a reforma da cozinha do sítio que ele usava, sob a orientação dele e da sua esposa, tendo os auspícios financeiros de duas construtoras, em operações suspeitíssimas, fato este que somente conspira contra a dignidade e a honestidade do petista.
Os brasileiros esperam que o ex-presidente, ao invés de recorrer a organismos internacionais, como no caso em comento, em absoluta demonstração de completo desespero de causa, deve antes apresentar à Justiça brasileira seus argumentos contestando as denúncias acolhidas contra ele, com o acompanhamento de provas capazes de infirmar os fatos dados como verdadeiros pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, que apenas cumpre a sua missão institucional de investigar as denúncias sobre irregularidades com recursos públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de outubro de 2016

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