Conforme
denúncia feita pela Rede Globo de Televisão, muitos livros novos, de várias disciplinas,
estavam amontoados e abandonados em um depósito completamente sujo e empoeirado,
onde também funciona uma oficina mecânica, da prefeitura de uma cidadezinha do interior
do Piauí.
Trata-se
de material que faz parte, pasmem, do Programa Nacional do Livro Didático e
deveria ter sido distribuído e usado para a educação de jovens e adultos e
também de estudantes com distorção de série e idade, ou seja, verdadeira preciosidade,
em se tratando das enormes carências de material didático, de grande
importância para o aprendizado, que, simplesmente é abandonado de forma
absolutamente irresponsável.
O
secretário municipal de Educação esclareceu que, em 2014, quando assumiu o
cargo, já encontrou os livros abandonados, tendo concluído que se tratava de material
defasado e que “Os livros não são novos,
os mesmos livros estão aí aguardando doação, são livros em desuso. Portanto, a
prefeitura tomou a providência que é fazer um processo licitatório para ser
destinado para instituição, por exemplo, que trabalha sem fins lucrativos para
fazer reciclagem”.
Segundo
a reportagem, o material se encontra amontoado e também espalhado em boa
extensão do depósito, sendo que alguns livros foram queimados e outros estão
no banheiro, fazendo às vezes, pasmem, de papel higiênico.
Na
pilha de livros, foi possível identificar uma das escolas que deveriam ter
recebido o material, que fica localizada na zona rural do município, cuja
diretora da unidade nem sabia da existência dele e, por isso, não o recebeu por
ela e agora vai ser apenas destruído, graças à irresponsabilidade
administrativa.
Ela
disse que “Jogar fora, não. Nós os
aproveitamos de todas as formas. Doa, para outras escolas, né. É assim. Rasgar
um livro, está rasgando uma história, o dinheiro do próprio aluno”.
Um
estudante declarou que se trata de “Desperdício
de conhecimento, porque livro é conhecimento. Então se o aluno tem a
oportunidade de conhecimento, para que deixar estragar ou ficar guardado”.
Não
há a menor dúvida de que se trata de grave crime contra a educação do país, que
tem enorme carência de material didático e de mais livros, que nunca estão desatualizados
ou velhos, porque o seu conteúdo jamais perderá a validade, por mais velho que eles
sejam, à vista da utilidade das informações e dos conhecimentos que eles são
capazes de transmitir às gerações, especialmente quando esses livros têm
destinação para local de real necessidade de conhecimentos.
Também
é evidente que os governos federal, estadual e municipal, apesar do grande
esforço para melhorar a educação, não se preocupam com a efetividade dos gastos
em nenhuma atividade governamental, deixando à mercê da incompetência e do
desleixo administrativos os cuidados que deveriam ser diretamente dos próprios governos,
que têm a responsabilidade de controlar e fiscalizar a boa e regular aplicação
dos recursos públicos, inclusive do custo-benefício.
No
caso específico, não teria havido o desperdício de material didático caso houvesse
rigoroso sistema de fiscalização sobre os programas educacionais, por meio de
equipes com a incumbência de acompanhar a efetividade da entrega dos livros ao
seu real destinatário, confirmando o cumprimento de importante programa
governamental, pertinente à eficiência do ensino público.
Esse
episódio evidencia o retrato fiel da educação de boa parte das regiões do país,
onde a pobreza intelectual e administrativa se dissemina como forma da eterna
dominação social pelos caciques políticos, que se beneficiam da falta de
instrução de seu povo, que permanece alheio à realidade sobre a evolução da
humanidade.
Não
é novidade que o Piauí é um dos estados mais pobres e subdesenvolvidos do
Brasil, graças a atitudes dessa natureza, por evitar que a cultura e a educação
tenham terra fértil para se expandir, como forma de conhecimento de seu povo.
O
brasileiro precisa se conscientizar de que um fato isolado não pode servir de
modelo para a generalização, a exemplo de muitos comentários sobre a questão em
foco, condenando o Nordeste, porque, certamente, nem todas as localidades
daquela região procedem com igual desleixo e também não é verdade que as demais
regiões do país procedem com a devida perfeição, cuidando a educação com o
maior zelo, a exemplo da insatisfação do povo, que tem sido generalizada.
Trata-se
da constatação de caso que precisa ser resolvido de modo a servir de exemplo
para o resto do país, sem que o Nordeste fique com a pecha de povo
subdesenvolvido, porque as mazelas sociais existem no país inteiro, sem
exceção.
Convém
que os fatos degradantes e inaceitáveis sejam devidamente apurados e, se for o
caso, o seu resultado possibilite a imputação de responsabilidades aos
verdadeiros culpados, para que haja o ressarcimento dos prejuízos levantados e
a aplicação das penalidades cabíveis, de modo que o repudiado episódio sirva de
salutar lição pedagógica, com vistas a se evitar que situações semelhantes ao
caso em comento não mais se repitam. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 24 de outubro de 2016
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