segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Irresponsabilidade e abandono

Conforme denúncia feita pela Rede Globo de Televisão, muitos livros novos, de várias disciplinas, estavam amontoados e abandonados em um depósito completamente sujo e empoeirado, onde também funciona uma oficina mecânica, da prefeitura de uma cidadezinha do interior do Piauí.
Trata-se de material que faz parte, pasmem, do Programa Nacional do Livro Didático e deveria ter sido distribuído e usado para a educação de jovens e adultos e também de estudantes com distorção de série e idade, ou seja, verdadeira preciosidade, em se tratando das enormes carências de material didático, de grande importância para o aprendizado, que, simplesmente é abandonado de forma absolutamente irresponsável.
O secretário municipal de Educação esclareceu que, em 2014, quando assumiu o cargo, já encontrou os livros abandonados, tendo concluído que se tratava de material defasado e que “Os livros não são novos, os mesmos livros estão aí aguardando doação, são livros em desuso. Portanto, a prefeitura tomou a providência que é fazer um processo licitatório para ser destinado para instituição, por exemplo, que trabalha sem fins lucrativos para fazer reciclagem”.
Segundo a reportagem, o material se encontra amontoado e também espalhado em boa extensão do depósito, sendo que alguns livros foram queimados e outros estão no banheiro, fazendo às vezes, pasmem, de papel higiênico.
Na pilha de livros, foi possível identificar uma das escolas que deveriam ter recebido o material, que fica localizada na zona rural do município, cuja diretora da unidade nem sabia da existência dele e, por isso, não o recebeu por ela e agora vai ser apenas destruído, graças à irresponsabilidade administrativa.
Ela disse que “Jogar fora, não. Nós os aproveitamos de todas as formas. Doa, para outras escolas, né. É assim. Rasgar um livro, está rasgando uma história, o dinheiro do próprio aluno”.
Um estudante declarou que se trata de “Desperdício de conhecimento, porque livro é conhecimento. Então se o aluno tem a oportunidade de conhecimento, para que deixar estragar ou ficar guardado”.
          Não há a menor dúvida de que se trata de grave crime contra a educação do país, que tem enorme carência de material didático e de mais livros, que nunca estão desatualizados ou velhos, porque o seu conteúdo jamais perderá a validade, por mais velho que eles sejam, à vista da utilidade das informações e dos conhecimentos que eles são capazes de transmitir às gerações, especialmente quando esses livros têm destinação para local de real necessidade de conhecimentos.
Também é evidente que os governos federal, estadual e municipal, apesar do grande esforço para melhorar a educação, não se preocupam com a efetividade dos gastos em nenhuma atividade governamental, deixando à mercê da incompetência e do desleixo administrativos os cuidados que deveriam ser diretamente dos próprios governos, que têm a responsabilidade de controlar e fiscalizar a boa e regular aplicação dos recursos públicos, inclusive do custo-benefício.
No caso específico, não teria havido o desperdício de material didático caso houvesse rigoroso sistema de fiscalização sobre os programas educacionais, por meio de equipes com a incumbência de acompanhar a efetividade da entrega dos livros ao seu real destinatário, confirmando o cumprimento de importante programa governamental, pertinente à eficiência do ensino público.
Esse episódio evidencia o retrato fiel da educação de boa parte das regiões do país, onde a pobreza intelectual e administrativa se dissemina como forma da eterna dominação social pelos caciques políticos, que se beneficiam da falta de instrução de seu povo, que permanece alheio à realidade sobre a evolução da humanidade.
Não é novidade que o Piauí é um dos estados mais pobres e subdesenvolvidos do Brasil, graças a atitudes dessa natureza, por evitar que a cultura e a educação tenham terra fértil para se expandir, como forma de conhecimento de seu povo.
O brasileiro precisa se conscientizar de que um fato isolado não pode servir de modelo para a generalização, a exemplo de muitos comentários sobre a questão em foco, condenando o Nordeste, porque, certamente, nem todas as localidades daquela região procedem com igual desleixo e também não é verdade que as demais regiões do país procedem com a devida perfeição, cuidando a educação com o maior zelo, a exemplo da insatisfação do povo, que tem sido generalizada.
Trata-se da constatação de caso que precisa ser resolvido de modo a servir de exemplo para o resto do país, sem que o Nordeste fique com a pecha de povo subdesenvolvido, porque as mazelas sociais existem no país inteiro, sem exceção.
Convém que os fatos degradantes e inaceitáveis sejam devidamente apurados e, se for o caso, o seu resultado possibilite a imputação de responsabilidades aos verdadeiros culpados, para que haja o ressarcimento dos prejuízos levantados e a aplicação das penalidades cabíveis, de modo que o repudiado episódio sirva de salutar lição pedagógica, com vistas a se evitar que situações semelhantes ao caso em comento não mais se repitam. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 24 de outubro de 2016

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