Ainda
durante uma das mais longas sessões que antecederam o julgamento do impeachment
da presidente da República, uma senadora petista pelo Paraná fez uso da tribuna
do Senado Federal para atacar, de forma indelicada e indecente, seus pares, ao
afirmar, em alto e bom som, que “Aqui não
tem ninguém com condições de acusar ninguém. E nem de julgar! Qual é a moral
desse Senado para julgar a Presidente da República? Que moral têm os senadores
para dizer que ela é culpada? Quero saber!”.
Não
obstante, os fatos mostraram mais tarde, de maneira bastante cruel para a
senadora, que, naquela ocasião, ela poderia estar tão somente se refletindo no próprio
espelho, porque o Supremo Tribunal Federal, no mês passado, a transformou em ré,
juntamente com o seu marido, ex-ministro dos governos petistas, por força de denúncia
pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, decorrentes das
investigações levadas a efeito pela Operação Lava-Jato.
Segunda
a força-tarefa da Lava-Jato, existem fortes indícios de que a senadora teria recebido
o valor de R$ 1 milhão para a sua campanha ao Senado, em 2010, oriundos das “famosas”
propinas desviadas dos cofres da Petrobras.
A
decisão em apreço foi tomada por unanimidade, quando os ministros não tiveram a
menor dúvida em considerá-la ré - por obra do destino, uma vez que ela fazia
acusações em momento delicado, no julgamento do impeachment da ex-presidente do
país -, sendo a primeira integrante da Câmara Alta a ser julgada nessas condições,
ou seja, como ré na Lava-Jato, sendo privilegiada possivelmente pelo fato de integrar
o partido que protagonizou os escândalos que envergonham o Brasil.
Ou
seja, de forma irônica, a petista que denunciava seus colegas, dedo em riste,
há pouco mais de um mês, ousando questionar a moral dos senadores, passou a ser
a primeira ré no desalinhado pelotão dos envolvidos por suspeita de corrupção no
escândalo do petrolão.
Na
apreciação preliminar do ministro do Supremo, os argumentos e conjuntos
probatórios apresentados na denúncia contra a senadora petista são suficientes
para a abertura da ação penal, com o que foi acompanhado pelos demais juízes
integrantes da turma incumbida do julgamento da ação em apreço.
A
defesa já havia argumentado, em essência, que as provas constantes dos autos se
basearam apenas em depoimentos de delação premiada, mas o relator do caso, ao rebatê-las,
de forma enfática, afirmou que “Há outros
inúmeros indícios que reforçam as declarações prestadas por colaboradores, tais
como registros telefônicos, informações policiais e documentos apreendidos”,
sendo que um desses documentos é uma agenda do ex-diretor da Petrobras, onde
consta relação dos pagamentos de propina a políticos e as iniciais “PB” ao lado
do número “1,0”, que significam, conforme a delação do ex-diretor, “Paulo Bernardo” (esposo da senadora) e o
valor do repasse de R$ 1 milhão à campanha dela.
O
episódio em referência, faz lembrar o importante provérbio segundo o qual quem
tem telhado de vidro, não joga pedra em ninguém, o que significa se afirmar que
a senadora pode ter sido imprudente, diante do efeito bumerangue, que a atingiu
em cheio.
Não
obstante, esse velho adágio, ao que tudo indica, nunca será aprendido como
lição por integrantes do PT, principalmente porque eles, mesmo lambuzados na
sujeira da corrupção, como mostram os fatos sob investigação pela Operação Lava-Jato,
sempre se julgam imaculados, intocáveis e acima de qualquer suspeita, em que
pesem os fatos conspirarem contra as negações sobre a prática de atos
irregulares, como nesse caso do recebimento de propina de um milhão de reais,
dinheiro que não foi contabilizado nas contas da campanha da petista, que teve
a insensibilidade de se sentar sobre seu malfeito e a disposição para acusar
seus pares, com veemência descomunal, como se ela fosse a suprassumo da
correção e da moralidade.
Urge
que os brasileiros se conscientizem sobre a necessidade de se eliminar da vida
pública os políticos que não têm o mínimo de sensatez e dignidade para
reconhecer suas falhas, mas demonstram esperteza para agir sob impulsos
embalados pelas conveniências pessoais e partidárias, em desprezo à satisfação
do interesse público, que, enfim, é a razão da representação política
constituída pelo povo, e à estrita observância dos princípios da ética, dignidade,
moralidade, legalidade, entre outros indispensáveis ao exercício de cargos
públicos eletivos. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 16 de outubro de 2016
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