segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A cruel realidade

Com o advento da Operação Lava-Jato, as autoridades estão sentindo na pele o desconforto e as precariedades oferecidos nos presídios brasileiros, que têm a unanimidade potencializada com a interminável crise no sistema penitenciário, fato que tem deixado bastante irritado aquele que até há pouco tempo era responsável pelo caos instalado nas prisões do Estado do Rio de Janeiro, agora um dos importantes hóspedes do Complexo Penitenciário de Bangu.
Logo ele, que soube como poucos caprichar ao máximo no enaltecimento da sua imagem, quando dirigia aquele estado, agora reclama à Justiça Federal das péssimas condições em que se encontram as referidas dependências, a dificultar as reuniões dele com seus advogados.
A propósito, os causídicos do ex-governador enviaram ofício ao juiz federal responsável pelos processos da Operação Calicute, versando sobre queixa circunstanciada à estrutura da sala de entrevistas, sob o argumento de que eles “vêm se deparando nas entrevistas, acusado e patronos, com um parlatório de uso coletivo, de quatro baias separadas entre si por colunas de alvenaria, que se estendem do lado dos visitantes ao lado dos presos provisórios, divididos, por sua vez, por vidro espesso que parte do peitoril de alvenaria e alcança o teto”.
O time jurídico do peemedebista também relata à Justiça que “o único modo de comunicação disponível entre visitantes e presos provisórios é um interfone existente em cada baia, sendo que, em inúmeras visitas, apenas um, de quatro, tem funcionado”.
Eles alegam que a separação física e as más condições de comunicação contribuem para impossibilitar o manuseio de “qualquer documento” em conjunto e “opõe-se frontalmente aos direitos, tanto do acusado quanto dos patronos, de realizarem entre si entrevista pessoal e reservada e de ampla defesa, com o manuseio conjunto de documentos”.
Em conclusão, os aludidos advogados solicitam que o magistrado propicie a eles “entrevistas pessoais e reservadas”, determinando à unidade prisional a disponibilização de outro local para as reuniões, nas quais os defensores e o ex-governador possam manusear o processo eletrônico em um laptop.
O ex-governador se encontra preso por ter sido acusado pelo Ministério Público Federal de ter sido líder, na sua gestão, de esquema criminoso que desviou dos cofres do Rio de Janeiro a cifra de R$ 224 milhões, tendo se tornado réu em dois processos penais, por força de investigações da Operação Calicute e da Operação Lava-Jato.
O político responde a um processo no Rio de Janeiro e outro em Curitiba, em face de denúncias aceitas pela Justiça pela prática dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa.
Ou seja, os advogados não querem muita coisa não, apenas que o ex-governador e eles tenham tratamento VIP no recinto do presídio, em condições especiais e privilegiadas, de modo que seja possível a montagem de escritório com os devidos equipamentos, em condições ideais para a facilidade do manuseio de documentos e a realização de reuniões com absoluto conforto.
É muito provável que o ex-governador tenha até razão em reclamar das más condições do presídio, porque ele pode não ter sido avisado de que suas traquinagens com dinheiro público poderiam resultar em visita indesejável e permanente a Bangu, onde o tratamento é de "excelência" igualmente para todos, conforme o princípio constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei.
A propósito, em Brasília, um milionário condenado por crime de corrupção, por desvio de recursos públicos, na presunção de que em breve ele seria trancafiado na Papuda, mandou reformar, com recursos próprios, as celas do setor no qual possivelmente ele iria ocupar e, não deu outra, ele se encontra lá preso, com todo conforto, usufruindo o lugarzinho preparado com carinho por ele, embora isso tenha sido objeto de questionamento que não deve levar a nada, porque o bem público foi beneficiado com recursos particulares.
Isso leva à ilação de que o ex-governador poderia ter implementado, na sua gestão, melhoria dos presídios do sistema penitenciário de Bangu, incluindo as facilidades que agora ele reclama não existirem naquele presídio.
É pena que ele não tenha tido visão futurista, como teve o vivaldino brasiliense, que bancou com recursos em nome dele, embora se trate de dinheiro desviado dos cofres públicos, as reformas que ele agora desfruta sem reclamar.
Urge que os brasileiros não somente repudiem a insensibilidade dos inescrupulosos políticos tupiniquins, como aprendam a escolher seus representantes, entre outros princípios saudáveis e benéficos ao bem comum, pelo critérios da ética, moralidade, dignidade e honestidade, de modo que eles apenas sejam capazes de privilegiar o atendimento do interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 30 de janeiro de 2017

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