sábado, 14 de janeiro de 2017

Aspiração nacional?

O principal político brasileiro disse, durante encontro com militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que vai voltar a ser presidente da República e, em tom de ameaça, asseverou: “Se preparem, porque, se necessário, eu serei candidato. Se eu for candidato, é para a gente ganhar as eleições. Nós vamos voltar a governar este país”.
A plateia que o ouvia usava bonés vermelhos com a inscrição “Estamos com Lula” e gritavam “Brasil pra frente, Lula presidente”.
Ao ensejo, o político também afirmou que espera receber desculpas daqueles que o acusam agora por crimes de corrupção. Ele afirmou que “A única coisa que eu peço a Deus é que essas pessoas, quando chegarem à conclusão de que não tem nada contra mim, peçam desculpas”.
Na avaliação dele, o ódio construído contra seu governo está prejudicando o Brasil, porque “Não é possível que o ódio que eles têm de mim faça com que prejudiquem o país”.
No discurso, ele aproveitou para também criticar a gestão do governo federal, ao dizer que “O que está acontecendo no Brasil é algo anormal. Esse país não pode sair da alegria, do otimismo e da esperança que estava para a desgraça que estamos vivendo hoje”.
O político acusou o presidente do país de entregar a Petrobras a multinacionais e destruir as políticas de valorização nacional da empresa e ainda defendeu que o governo federal precisa voltar a fazer investimentos diretos e a bancar financiamentos a pequenos empresários e consumidores através dos bancos públicos.
O ex-presidente disse ainda que durante este ano vai andar pelo país para recuperar a imagem do PT e a sua própria imagem, tendo reafirmado que a legenda está sendo criminalizada pela mídia e Justiça.
O presidente nacional do partido disse que “O PT ainda não tomou a sua decisão, embora sinta que é aspiração nacional que o presidente Lula retome o governo do país através de eleição direta”.
Até o momento, o importante político tupiniquim é réu em cinco processos judiciais, sendo três deles no âmbito da Operação Lava-Jato – dois dos quais estão com o juiz responsável por essa operação, alvo de constantes e ácidas críticas do político e de seus advogados, que o consideram parcial.
O político também é réu em ações decorrentes das operações Zelotes e Janus e apenas uma condenação, em segunda instância, pode torná-lo inelegível para retorno ao Palácio do Planalto, na próxima eleição presidencial.
É bastante estranho que o político tenha acusado o governo atual de ter entregue a Petrobras a empresas multinacionais e ainda de destruir suas políticas de valorização, como se os governos petistas tivessem sido capazes de defender o patrimônio da petrolífera, conquanto o petrolão e a marca avassaladora da degeneração daquela empresa, em plenos governos petistas, mas o político e seu partido não tiveram a menor sensibilidade para assumir a culpa por inominável e trágica situação que causou imensurável prejuízo aos interesses nacionais.
Também é impressionante como alguém pode concluir que o retorno do petista à Presidência do país seja aspiração nacional, dando a entender que os brasileiros não tenham a menor capacidade nem condições para aquilatar os estragos causados pelos governos petistas ao país, cujas gestões não podem ser avaliadas exclusivamente pela distribuição de renda, que sequer excedera a incumbência constitucional do Estado de dar assistência às pessoas carentes, na forma de programa de Estado e não de governo, como assim tenha sido sempre tratado.
Os referidos governos precisam ser avaliados pelo conjunto da obra, principalmente por sua completa omissão com relação aos demais programas de governo, que foram relegados a planos secundários, a exemplo das reformas estrutural e conjuntural e da priorização das políticas de desenvolvimento socioeconômicas, permitindo que o país se distanciasse das demais nações que se adaptaram à evolução mundial.
Enquanto o país deixou de ser modernizado e de ter entrado para história, com a utilização de mecanismos de valorização e priorização das políticas capazes de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, os governos petistas têm histórico de alianças espúrias, que se uniram à banda podre da política, para a formação de alianças de governabilidade, onde havia a prevalência do loteamento de órgãos e entidades públicos, em troca de apoio no Congresso Nacional e na sustentabilidade à perenidade no poder, cujo resultado foi a destruição da eficiência da administração do país, conforme demonstram os serviços públicos prestados à população, reconhecidamente de péssima qualidade.
Foram nos governos petistas que floresceram os famigerados e escandalosos casos de corrupção denominados de mensalão e petrolão, sendo que este representa o mais perverso caso de aparelhamento em uma empresa estatal, que teve por consequência a gigantesca destruição do seu patrimônio, cujos efeitos devoradores ainda continuam repercutindo intensamente, à luz das investigações da Operação Lava-Jato, que já envolveu importantes políticos, executivos, empresários e outros assemelhados criminosos, que desviaram bilhões de reais de seus cofres.
Também é herança de governos petistas a terrível recessão econômica, que se arrasta por dois longos anos, trazendo no seu bojo alarmante onda de desemprego nunca vista na história republicana, além da falta de investimentos na produção.
É muito difícil compreender como pode haver aspiração nacional para o retorno ao governo de pessoa que não consegue se defender na Justiça senão acusando a polícia, os investigadores e o juiz que cuidam das investigações das denúncias objeto da transformação dele em réu, sob a prática de graves crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha, além das suspeitas de enriquecimento ilícito.
Até o momento, o político apela no sentido de que os casos de investigação e denúncias contra ele não sejam tratados como ódio ao seu governo e que as pessoas, reconhecendo a inocência dele, embora sem que ele se esforçasse ainda em apresentar as defesas pertinentes, acompanhadas das provas juridicamente válidas, em contestação aos fatos denunciados, peçam desculpas a ele, dando a entender que há processos contra ele de vitimização, ódio e injustiça, tudo por conta da tentativa do seu afastamento do Palácio do Planalto.
Por seu turno, o alerta do petista tem toda pertinência, no sentido de que os brasileiros se preparem, tendo em vista que o seu retorno ao Palácio do Planalto é motivo de muita preocupação, à vista do mar pútrido que ainda perturba a consciência cívica dos brasileiros, diante dos resultados das investigações sob a incumbência da Operação Lava-Jato, que acenam para gigantesco esquema criminoso de desvio de dinheiro dos cofres da então maior empresa estatal brasileira, que se encontrava sob a gestão do governo de então, sendo que o principal envolvido, segundo os procuradores do Ministério Público Federal, é o ex-presidente, que seria o general da quadrilha que saqueou a Petrobras, de forma abusiva.
Há realmente motivos de temor e preocupação, diante dos fatos já investigados, que demonstram a robusteza das provas encontradas nas transações fraudulentos, conforme a condenação de diversos importantes políticos, empreiteiros, executivos e outros inescrupulosos criminosos assemelhados, além da transformação de outros poderosos políticos em réu, entre os quais o próprio político, que, ao invés de ficar ameaçando usar seu poder para voltar à Presidência da República, deveria justificar e esclarecer, com provas juridicamente aceitáveis, como forma de contestação, os fatos já denunciados e aceitos pela Justiça.
À luz do bom senso e da racionalidade, em face da dinâmica dos acontecimentos, quando os fatos ainda se encontram completamente anuviados e carregados de suspeitas sobre a prática de graves atos irregulares, convém que os políticos já transformados em réus tenham a dignidade de, antes de pretender assumir importantes cargos públicos, cuidar de limpar seus nomes junto ao poder Judiciário, como forma imprescindível de prestação de contas sobre seus atos, mesmo que se sintam injustiçados, porque não tem como haver aspiração nacional maior do que a necessidade da comprovação da inocência perante a Justiça, que tem o poder constitucional de julgar os atos infracionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de janeiro de 2017

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