sábado, 21 de janeiro de 2017

Anseio de moralização

O homem que conseguiu ostentar, por muito tempo, o dono do currículo invejável de maior político tupiniquim da atualidade e que fez o mundo acreditar na sua sofrida história de vida, quando partiu do interior de Pernambuco para se aventurar na capital industrial do país, hoje, se agarra em tudo que seja possível para se livrar das garras da força-tarefa da Operação Lava-Jato e da toga da Justiça, onde já responde, como réu, a cinco processos, justamente por suspeita da prática dos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de influência, em que pese se julgar o homem mais honesto da face do planeta, somente aceitando ser comparado a Jesus Cristo, ante às suas virtudes e purezas incomparáveis aos imortais.
A relutância de não se submeter aos resultados das investigações produzidas sobre os fatos cuja autoria é atribuída ao político causa enorme perplexidade, sobretudo em razão de que nenhum juiz, sob pena do cometimento do crime de prevaricação, seria capaz de aceitar denúncia e tornar alguém réu, como nos casos pertinentes ao petista, se não estivessem presentes nos respectivos autos os elementos e as provas legalmente exigidas, mostrando e caracterizando, com clareza, o mínimo que seja, a materialização dos fatos tidos por irregulares.
Não obstante, o poderoso currículo de bom e influente político começou a desmoronar e ser jogado no lixo, a partir ao aflorar do escândalo do mensalão, que tinha por finalidade manter os partidos aliados no cabresto, mediante o desvio pelo PT de dinheiro de estatais, para ser repassado aos partidos e parlamentares aliados, em troca do apoio na aprovação de projetos do governo no Congresso Nacional.
A derrocada política veio mesmo com as afirmações dos procuradores do Ministério Público Federal de que o político era responsável pela orquestração do esquema de desvios bilionários da Petrobras, que tanto tinha a finalidade de manter o PT e partidos aliados, como de seu enriquecimento, conforme os casos elencados nos respectivos processos já em tramitação na Justiça.
          Com base nas denúncias, muitas delas oriundas de delações premiadas, em especial feitas por ex-executivos da Petrobras, as investigações da Operação Lava-Jato passaram a revelar, a partir de 2014, que o político teria sido o mentor e também beneficiário dos desvios ocorridos na Petrobras.
As ações que o político responde na Justiça estão vinculadas aos crimes de corrupção pertinente ao recebimento de propina revelada Lava-Jato e as demais por acusação referente ao recebimento de favores da Odebrecht, na compra de um terreno para o Instituto Lula e de uma cobertura em São Bernardo/SP, além de outra na Justiça de Brasília, por suspeita de obstrução da Lava-Jato e favorecimento à Odebrecht, em negócios na África, e de favorecimento a amigos na confecção de medidas provisórias, que acabaram envolvendo também um de seus filhos.
Embora o político possa ser condenado ainda este ano, por corrupção, ele está sendo lançado, às pressas, candidato ao relevante cargo de presidente da República, sob o argumento de que a oficialização da pré-candidatura poderia contribuir para livrá-lo das malhas da Justiça e serenar as disputas internas, em defesa da refundação do partido e da faxina ética, que afastaria do comando do partido próceres da corrente Construindo um Novo Brasil.
Nessas condições, os petistas imaginam que, se o político for condenado, há fortes motivos para se materializar a ideia fixa segundo a qual ele considerar-se-á “vítima de perseguição política” em mais uma “conspiração da mídia e das elites” para se evitar o seu regresso ao poder.
Segundo princípio fundamental com sede na Constituição, o exercício de cargo público, inclusive eletivo, tem como pressuposto que o seu ocupante deva previamente comprovar conduta ilibada, honestidade, moralidade e dignidade, entre outros requisitos, de modo a compatibilizá-los à integridade que se impõe no tratado da coisa pública.
É evidente que esses atributos estão apenas previstos como conceito inscrito na Carta Maior do país, porque, na prática, sempre têm prevalecido as leis dos homens, dos políticos poderosos, que conseguem convencer fanatizados e ingênuos simpatizantes que os princípios de decência não são aplicáveis ao pé da letra, porque o Brasil ainda não é um país sério, a ponto de se exigir o cumprimento de normas jurídicas absurdas, por contrariarem os interesses e as conveniências de políticos que estão respondendo, na condição de réu, a vários processos na Justiça, justamente pela acusação da prática de crimes da maior gravidade contra  a administração pública, que recomendariam, no mínimo, que o envolvido demonstrasse interesse, antes de qualquer outra pretensão, em contestar as denúncias, por meio de provas juridicamente válidas, em sintonia com o princípio segundo o qual o homem pública é obrigado a prestar contas, de forma permanente, de suas atividades na vida pública.
No caso em comento, o político está sendo lançado pré-candidato justamente na tentativa de antídoto às investigações da Operação Lava-Jato, que já comprovaram, por meio de provas robustas, a prática de crimes em dois casos, sem que houvesse qualquer forma de contestação, salvo as inócuas falácias de perseguição contra pessoa honrada, que não se digna a provar sua inocência, com o uso de documentos e provas mostrando a sua inculpabilidade quanto aos fatos denunciados.
Nos países sérios e evoluídos, a lucidez e a sensatez das pessoas contribuem para a conscientização de que há incompatibilidade de origem entre o zelo intrínseco da administração pública e a falta de decência do ocupante de cargo público, que não pode ser preenchido por pessoa que não tenha condições ética e moral, conquanto não atender aos pré-requisitos de decência e de conduto ilibada, que não se harmonizam com quem responde a processos na Justiça.
No caso em comento, o político deveria, preliminarmente, se livrar dos processos na Justiça, por meio de defesa constitucional, ao invés de tentar escapar das garras dela, com manobras absolutamente inócuas, como a de se lançar pré-candidato a destempo, logo ao relevante cargo de presidente da República, cujo ocupante tem o dever de dar o exemplo de dignidade, legalidade, honestidade, moralidade, entre outros princípios que são indispensáveis, a exemplo do que acontece nos países sérios e responsáveis pela decência na administração pública.
A condição de réu, evidentemente por responder a vários processos na Justiça e de não haver ainda comprovação de inculpabilidade, seria motivo mais que suficiente para que o político tivesse o mínimo de sensatez para reconhecer sua total incompatibilidade tanto para se candidatar como para ocupar o relevante cargo de presidente da República, diante da patente afronta aos princípios fundamentais ínsitos no ordenamento jurídico do país, que precisam ser preservados em nome da dignidade, moralidade e legalidade, entre outros, e da imperiosa necessidade de respeito aos brasileiros, que certamente anseiam por decência nas atividades político-administrativas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 21 de janeiro de 2017

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