segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A mistura do público com o privado

O governador de Minas Gerais fez uso de helicóptero oficial do estado para buscar o filho em condomínio turístico e luxuoso, onde ele teria passado as festas de entrada do ano-novo.
Diante da enorme repercussão negativa, o governador tentou explicar o injustificável, ao afirmar que teria viajado com a intenção de passar o dia com o filho, que havia comemorado a virada de ano na casa de amigos, mas o passeio foi interrompido sob a justificativa de que o filho não estaria se sentindo bem.
São palavras do governador mineiro: “Ainda no voo de ida, ele (o filho) comunicou-se comigo, dizendo que não se sentia bem, e perguntava se não me incomodaria voltar mais cedo com ele para BH, em vez de almoçar lá. Obviamente, eu concordei e voltamos juntos, logo após o pouso, ainda pela manhã. Ou seja, nenhuma novidade, nada ilegal ou irregular”.
O político disse que os ataques contra ele fazem parte de “campanha insidiosa” de pequeno setor da oposição.
Já a assessoria do governo mineiro afirmou que o Decreto 44.028/2005, assinado pelo seu antecessor, prevê “a utilização de aeronave oficial por parte do Chefe do Executivo em deslocamentos de qualquer natureza. Desde 2005, portanto, e com respaldo legal daquela norma, são registrados voos em aeronaves oficiais nos deslocamentos de governadores mineiros acompanhados de familiares”.
Embora o estado esteja comprovadamente falido, conforme decreto assinada pelo governador, chancelando calamidade financeira, ele continua torrando dinheiro público e dando péssimo exemplo de gestão, com a aquisição de duas aeronaves, no custo superior a R$ 22 milhões, o que certamente irá agravar ainda mais as finanças do estado.
A assessoria de imprensa do governo mineiro explicou que os referidos helicópteros serão alocados ao Gabinete Militar do governador e usados para missões de segurança pública e defesa civil, porém as aeronaves também ficarão à disposição do “comandante petista”, ou seja, simplesmente potencializando as fartas e abusivas mordomias com o dinheiro dos contribuintes.
Trata-se de gigantesca incoerência protagonizada pelo governador mineiro, que recém decretou estado de calamidade das finanças do Estado, em razão da grave crise econômica, mas ele continua abusando dos cofres públicos como se nada estivesse acontecendo de anormal, usufruindo, sem o menor pudor, as benesses e as mordomias dispendiosas e extravagantes custeadas pelo erário, em total desprezo justamente à crise econômico-financeira do Estado.
Ao que tudo indica, pelo visto, a calamidade financeira somente tem validade para a população, porque o aperto ainda não chegou no âmbito do palácio governamental, cujo titular não tem sensatez e sensibilidade para compreender que, se há crise, ela abrange o conjunto do estado, independentemente da existência ou não de norma disciplinando o uso de aeronave oficial, porque tomar a norma criada por seu antecessor, adotada em época quando não havia crise econômica como ocorre agora, para justificar ato insano, já diz exatamente o nível da mentalidade do político.
O mais grave ainda é a insensibilidade dele de interpretar as críticas como sendo "campanha insidiosa", quando o mínimo que se pode compreender nesse episódio é que o governador demonstrou muita falta de humildade para compreender o verdadeiro significado do que seja realmente interesse público, objetivo principal que justifica a destinação dos recursos arrecadados dos bestas dos contribuintes.
Na verdade, a existência de políticos com mentalidades segundo as quais ele é o próprio poder tem como responsável o povo, que os elege para mantê-los exercendo cargos públicos eletivos, ou seja, os acertos e os abusos cometidos por eles têm o respaldo do povo, que os escolhe pelo sufrágio universal para representá-lo.
À luz dos fatos indiscutivelmente deletérios, já passou do tempo para a aprovação de normas prevendo o afastamento sumário de representantes eleitos pelo povo, quando eles cometerem insanidades com recursos públicos, a exemplo do uso de bens públicos para fins particulares, além da obrigação do ressarcimento do dano causado ao erário.  
Convém que o povo se conscientize, o mais urgente possível, de que a escolha de seus representantes precisa ser bastante criteriosa, estudada e avaliada, sob os prismas do caráter e, em especial, da capacidade de gerir recursos públicos, de modo que sejam exigidos deles sensatez e sensibilidade político-administrativas capazes de se evitar confusão entre o público e o privado, de entender que suas causas jamais prevalecerão sobre o interesse público e de compreender que a dimensão da real crise econômico-financeira do erário é matéria que abrange inclusive as absurdas e injustificáveis mordomias e as benesses palacianas, com embargo dos projetos pessoais políticos de poder e de dominação. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 9 de janeiro de 2016

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