Um
novel vereador de São Paulo, que é negro e tem 20 anos, afirmou que vai
apresentar propostas para conseguir a revogação do Dia da Consciência Negra e o
fim das cotas raciais em concursos públicos municipais da capital do estado.
Ele
é um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou projeção nas
manifestações pelo impeachment da presidente brasileira, tendo sido eleito com
pouco mais de 48.000 votos.
As
referidas propostas constavam das principais bandeiras de sua campanha e, após
a eleição, ele já havia publicado, em sua página no Facebook, que era “um absurdo” a existência de data como o
Dia da Consciência Negra, que “homenageie
um homem assassino escravagista”. O dia 20 de novembro foi escolhido como
homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, assassinado naquele
dia.
Ele
justifica seus projetos com a afirmação de que “É um debate que há muito tempo venho encampando, contrário às cotas,
porque acredito que elas reforçam o racismo ao invés de ajudar os negros.
O Dia da Consciência Negra é um feriado complicado, que muitas vezes
atrapalha esse combate (contra o racismo)”.
A
lei que instituiu o Dia da Consciência Negra é de âmbito federal e foi
sancionada pela ex-presidente do país, em 10 de novembro de 2011, cabendo aos
municípios ou Estados decidir se esse dia deve ou não ser feriado, como o é em
São Paulo, pela lei municipal promulgada em janeiro de 2004.
O
parlamentar também defende a proibição de homenagens em sessões solenes a
ditadores e genocidas “ou qualquer
personagem ou fato histórico que tenha atentado contra os direitos humanos e a
liberdade em algum momento da história.”.
Ele
disse que “Já protestei na Câmara contra
uma homenagem que fizeram a Fidel Castro em uma sessão solene que teve.
Pretendo trazer essa experiência e esse idealismo para dentro da Câmara, uma
casa legislativa que é a casa do povo, para que respeite as liberdades também
quando for homenagear alguém”.
A
transformação por lei de negros e pardos em classe “especial”, impondo à
sociedade, goela abaixo, status de
privilégios para eles representa, com muita clareza, uma forma capaz de potencializar
o racismo, que já é bem visível, à vista dos constantes fatos vindos à lume, em
que pese isso se tratar de crime, na forma da lei.
À
toda evidência, a raça negra não precisa de privilégios, mas sim de
oportunidades, em igualdade de condições com os demais brasileiros, à vista do
que dispõe princípio constitucional nesse sentido, segundo o qual os
brasileiros são iguais perante a lei.
Qualquer
medida destinada a privilegiar ou diferenciar alguma coisa como forma de
separação, não condiz com o salutar princípio constitucional de isonomia, de
igualdade, que tem como fundamento o Estado Democrático de Direito, também
assegurado na Carta Magna.
O
reconhecimento de qualquer direito do cidadão é assegurado na Lei Maior do país
e qualquer forma que procure destacar, discriminar, por qualquer meio, as
qualidades, os sentimentos ou quaisquer outras motivações não pode ser
considerada normal nem importante para o aprimoramento do desenvolvimento
humanitário, que tem como princípio a aceitação às regras saudáveis de
igualdade interracial, salvo raríssimas exceções justificáveis.
É
induvidoso que o vereador paulistano vai precisar encarar muita incompreensão,
resistência e obstáculo na tentativa de implementar seus projetos políticos,
mas ele tem todo direito de pensar com patriotismo, racionalidade e sensatez,
em benefício das causas de elevação e de reafirmação da raça negra, que não
pode ficar eternamente dependente do poder público, a implorar por
reconhecimento se não o fizer por merecer por seus próprios méritos.
É
lamentável que mentalidades pouco evoluídas prefiram, ainda em pleno século
XXI, continuar parecendo que a raça negra se integra à categoria inferior, que
depende ad aeternum do reconhecimento
do Estado para se integrar à sociedade e fazer valer as condições de existência
como gente, fato que somente demonstra o real convencimento de inferioridade
com relação ao seu semelhante, que, também por ignorância, leva esse fato erroneamente
em consideração, diante do princípio da igualdade entre os humanos que precisa ser
enaltecido e defendido com o devido ardor, como forma de contribuir para o desenvolvimento
humanitário.
A
única forma válida e ainda aceita pelo ser humano, por que amparada na Constituição
e em razão das dificuldades econômicas, é a cota social, que tem como princípio
a ajuda por parte do Estado às pessoas carentes, não tendo, nesse particular,
segregação de cor, etnia, religião ou qualquer forma de relacionamento social, mas
sim a importância assistencial-financeira com base na comprovada necessidade de
apoio momentâneo dos cofres públicos, que se obrigam a ajudar pessoas de
qualquer raça - preta, branca, indígena etc. -, desde que comprovem carência
financeira, tão somente em igualdade de condições entre todas que realmente merecem
igual tratamento por parte do Estado.
O
certo é que, de tanto haver discriminação, o Brasil está, agora, assoberbado de
cotas, sendo que algumas podem até ser justificáveis, mas muitas são
absolutamente injustas, por não resistirem aos ideais parâmetros de igualdade e
principalmente de justiça social, que compete ao Estado a sua preservação, como
forma do estrito cumprimento dos princípios constitucionais e legais do país.
Nenhuma
nação consegue se desenvolver, sob o primado da justiça social, por qualquer
motivo, se tiver por meta o desprezo ao saudável princípio da igualdade de
tratamento entre seu povo, porque não é razoável e muito menos devido que apenas
determinada etnia seja beneficiada, indiscutivelmente por meio de injustificável
norma legal, em claro detrimento de outros segmentos sociais em igualdade
condições de carência de apoio, tendo em conta que a Carta Magna estabelece,
com cristalina clareza, que todos são iguais perante a lei, evidentemente em
termos de direitos e obrigações. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de janeiro de 2017
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