terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Inoportuna preocupação

Logo após o presidente dos Estados Unidos da América ter assinado o decreto da liberação dos recursos para a construção do muro na fronteira com o México, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil publicou nota para demonstrar sua preocupação com tal medida.   
O Itamaraty, mesmo sem ser consultado oficialmente, disse que “a grande maioria dos países da América Latina mantém estreitos laços de amizade com o povo dos Estados Unidos. Por isso, o governo brasileiro recebeu com preocupação a ideia da construção de um muro para separar nações irmãs do nosso continente, sem que haja consenso entre ambasO Brasil sempre se conduziu com base na firme crença de que as questões entre povos amigos – como é o caso de Estados Unidos e México – devem ser solucionadas pelo diálogo e pela construção de espaços de entendimento”.
Em princípio, até parece que o Itamaraty se antecipa aos fatos para se manifestar sobre algo que foge completamente dos interesses do Brasil, em se tratando que a questão envolve dois países absolutamente desinteressados da opinião ou preocupação que não vai contribuir para coisa alguma senão para chamar atenção para algo completamente descabido.
Em termos diplomáticos, o Brasil precisa crescer e aprender, para saber que cada nação, por sua autonomia e independência, deve equacionar e solucionar as suas questões, sem a interferência de quem quer que seja, muito menos da "potência" tupiniquim, que já tem problemas além da conta para ficar se preocupando com as querelas envolvendo a maior e verdadeira potência mundial.
Antes de o Itamaraty imaginar opinar sobre as questões de outros países, sem ao menos ser chamado a opinar, precisa se voltar para a devassidão das fronteiras brasileiras, onde passam carradas de drogas, armas e outros contrabandos que alimentam o crime organizado e contribuem para infernizar a vida dos brasileiros de bem, que trabalham e pagam muitos tributos, em escala mundialmente incomparável com a situação tupiniquim.
O Itamaraty precisa atentar para o fato de que o salutar princípio da diplomacia bem-sucedida começa com o respeito à autonomia das nações amigas e não opinar senão quando for consultado pela via diplomática, sempre preservando o direito de cada país em adotar as medidas que ele achar conveniente para os seus interesses.
Ou seja, o Brasil perdeu excelente oportunidade para ficar quietinho e calado no seu banquinho, deixando que os EUA e o México encontrem os caminhos adequados para solucionar esse baita imbróglio do muro da vergonha, sem embargo de se colocar à disposição para possível fornecimento de material metalúrgico, que deve ser a matéria-prima para a construção dele, cujas exportações poderão render milhões de dólares e contribuir para o superávit da balança comercial brasileira.
Enquanto isso, o país tupiniquim precisa se preocupar de alguma maneira para a construção de barreiras (muros) na sua extensa fronteira, para impedir a incontrolável e vergonhosa importação ilegal de drogas, armas e outras excrescências que apenas contribuem para a desmoralização das autoridades brasileiras e a insegurança dos brasileiros, em face da escancarada prova da incompetência administrativa, pela existência de fronteira (brasileira) absolutamente devassa, cuidada apenas por medidas paliativas que contribuem para facilitar a ação da criminalidade, que se robustece à medida que elas ficam mais escancaradas e liberadas para as ações ilegais.
Ao invés de o Brasil mostrar preocupação com a questão do muro americano, ele deveria se voltar para o seu interior e perceber que ele já tem problemas alarmantes para ficar opinando sobre situação que não lhe diz respeito, nem remotamente.
Além do mais, não se pode desprezar o adágio segundo o qual quem fica olhando para os problemas dos outros, termina se esquecendo dos seus, e é exatamente o que está acontecendo com o Brasil.
O Brasil precisa, com urgência, enxergar primeiro seus infindáveis problemas, para depois se preocupar e opinar sobre as questões ao redor do mundo, mas somente quando for consultado para tanto e se tiver condições para fazê-lo, porque não é de bom tom, em termos diplomáticos, ficar se imiscuindo em assunto onde não é chamado, quanto mais em relação à primeira potência econômica mundial, que normalmente dá pesado troco, à sua moda truculenta. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 31 de janeiro de 2017

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