segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Oportunismo político

O PT pretende lançar a pré-candidatura do seu maior líder à Presidência da República logo no início do fluente ano, cuja estratégia objetiva aproveitar politicamente a baixa popularidade do governo federal e o reforçar a defesa jurídica dele, que já é réu em cinco processos penais, sendo quatro deles provenientes da Operação Lava-Jato e seus desdobramentos.
O PT defende formalmente a antecipação da eleição presidencial em caso de cassação da chapa petista da última eleição pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Alguns líderes petistas defendem o lançamento da candidatura do todo-poderoso logo no começo do ano, em antecipação a possíveis condenações na Justiça, que possam ter reflexo no processo pertinente ou até levá-lo à prisão em 2017.
A pré-candidatura em questão reforçaria o discurso do partido, que acusa a Lava-Jato de tentar criminalizar as ações de seu líder máximo e do partido.
Ao ser lançado publicamente como candidato, segundo os defensores dessa ideia, o político poderá ser blindado parcialmente da citada operação.
O raciocínio em questão leva à ilação de que a pré-candidatura já lançada teria o condão de se facilitar a disseminação da tese segundo a qual se encontra em curso tentativa de interditar judicialmente a possibilidade de o político disputar a Presidência da República.
As lideranças petistas estão se valendo do bom desempenho do político nas pesquisas de opinião, a respaldar o esforço para a execução dessa estratégia política.
Na avaliação do coordenador do setorial jurídico do PT, “A necessidade de condenar Lula cresce na medida em que ele assume protagonismo nas eleições de 2018. Ao que parece a população começa a fazer a comparação entre os projetos”.
A possível antecipação da candidatura do maior líder do partido é direito que ninguém pode questionar, em se tratando de país cujos princípios republicanos estão assentados no Estado Democrático de Direito, onde a liberdade é ampla, geral e irrestrita e os partidos simplesmente podem sim exercê-la na sua plenitude e na forma como bem desejar.
Ao revés, não se pode ignorar que o dito Estado Democrático de Direito é importante via dupla, onde também prevalece o interesse público, que precisa ser considerado e levado em conta, em se tratando de candidatura notadamente ao cargo mais importante do país, cujo pretendente precisa satisfazer, previamente, os requisitos de conduta ilibada, compreendendo, entre múltiplos requisitos, a comprovação da honestidade, probidade, moralidade, legalidade etc.
No caso do todo-poderoso do partido, existem sérios obstáculos para a satisfação desses importantes requisitos, à vista de a sua atual condição de réu em cinco processos na Justiça, onde se encontra incurso nos crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, organização criminosa e outro, todos da maior gravidade contra a administração pública, fato que, à luz da decência política, jamais pode ser desprezado, por mais poderoso que seja o político envolvido, porque, em qualquer hipótese, sempre deve prevalecer o interesse público.
À toda evidência, essa histórica incongruência do pensamento petista não passaria de tremenda piada de péssimo gosto se ela fosse idealizada em um país com o mínimo de seriedade, cujos políticos sejam cônscios da responsabilidade cívica, diante da visível precariedade moral que se apresenta, no momento, o possível candidato ao mais importante cargo da República.
A estratégia se torna tão vexatória quanto emblemática por haver translúcida intenção de se evitar que as ações da Lava-Jato sejam resvaladas do alvo principal, no caso o maior político brasileiro, que aceita a realização de manobra política, como se já não estivesse completamente encalacrado, ao invés de encarar a Justiça, com a apresentação da sua defesa quanto às denúncias já aceitas por ela, que nada mais seria a devida e regular prestação de contas sobre suas atividades na vida pública.
Não há a menor legitimidade se houver o lançamento da candidatura de forma prematura, sem antes o político provar a sua inculpabilidade quanto aos fatos irregulares cuja autoria é atribuída a ele, pois a mácula permanece sobre suas costas e a população não perdoa quem foge da Justiça por meios ardilosos, como essa famigerada estratégia de candidatura a mais de ano antes da data legalmente prevista, ficando mais do que cristalino que ela não passa de mais uma das presepadas do partido campeão de patrocinar situações dantescas e degenerativas dos princípios da dignidade, legalidade, moralidade e honestidade, entre outros, a exemplo do mensalão e petrolão.
Caso o PT quisesse demonstrar os mínimos respeito e apreço não somente aos brasileiros, mas também aos princípios da legalidade, da moralidade e dignidade, antes do lançamento de absurda, escandalosa e precipitada candidatura prematura, nas atuais condições de questionamento sobre a lisura do pretendente, conviria que o partido se esforçasse e se empenhasse ao máximo no sentido de comprovar a inculpabilidade de quem já responde a cinco processos na Justiça.
Trata-se de indiscutível afronta à dignidade dos brasileiros, à vista de oportunista jogada política, porque o inusitado lançamento pode acontecer a destempo, em antecipação ao prazo legalmente estabelecido para todos os candidatos.
Embora não se trata ainda de condenação por nenhuma das denúncias aceitas pela Justiça, os fatos investigados pela Operação Lava-Jato e  denunciados às instâncias próprias exigem, no mínimo, as devidas justificativas não somente perante o poder Judiciário, mas em especial à sociedade, por dizer respeito a atos públicos questionados, como forma de prestação de contas que todo homem público tem o dever constitucional e legal de assim proceder, a exemplo do que é feito com naturalidade nos países sérios e evoluídos democraticamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES 

Brasília, em 16 de janeiro de 2017

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