O
alto grau da efervescência verificado na campanha pela Presidência da Câmara
dos Deputados, diante da proximidade da eleição interna, contribuiu para a
potencialização da disputa de cargos na Mesa Diretora pelos partidos, que
deixaram o pudor de lado, inclusive os partidos de oposição, para formalizar
alianças em troca deles.
Além
do cargo de presidente da Câmara, estão em jogo mais 10 importantes cargos da
Mesa Diretora, que têm sua relevância na forma de poder, influência, regalias e
tudo o mais que faz parte do egoísmo dos parlamentares, os quais serão
usufruídos nos próximos dois anos, pelo “esforço” de dirigir a Câmara, em
termos administrativos e politicamente.
O
caso mais emblemático diz respeito à posição do PT, que já manifestou seu
desejo de apoiar a candidatura do atual presidente, que é aliado do Palácio do
Planalto e votou a favor do impeachment da ex-presidente do país, em que pese o
único pré-candidato da oposição tentar convencer o PT e o PCdoB a apoiá-lo.
O
candidato da oposição demonstra seu descontentamento com a situação, ao afirmar
que, para ele, é "grande incoerência"
partidos que fazem oposição ao Palácio do Planalto apoiarem um aliado do
presidente do país.
Um
político do Ceará, aliado do PT, crítica duramente a posição desse partido, ao
afirmar que "não quer acreditar"
que o PT apoiará o atual presidente da Câmara, porque "Sendo verdade, perderam completamente a
noção de país, de nação e de interesse público. Trocar o restinho de
respeitabilidade por um carguinho e suas mordomias seria nada menos do que
traição".
Não
obstante, o novo líder do PT na Câmara foi categórico, ao afirmar que as
conversas da legenda com o atual presidente da Câmara não significam
precisamente um "problema",
sob a justificativa de que o PT já teve presidentes da Câmara que receberam
votos de siglas adversárias.
O
parlamentar avalia que é "importante"
o PT garantir espaço na nova Mesa Diretora, até mesmo para ter mais força como
oposição ao presidente do país, considerando que "Estamos vivendo uma situação política radicalizada. Para exercermos
nossa força de oposição, temos que ter nosso espaço político representado".
O
líder do PT esteve no ato de lançamento da candidatura do relator do
impeachment na Câmara, que faz parte da base de apoio ao governo, dando a
entender que seu partido poderá apoiar qualquer candidato, menos o de oposição,
desde que fature, como compensação, cargo na Mesa Diretora.
Enquanto
isso, o PCdoB também estuda apoiar a possível candidatura do atual presidente
da Casa, por considerar o candidato com maior chance de harmonizá-la.
O
líder do referido partido disse que vai buscar formar aliança com siglas que
tenham tamanhos semelhantes de bancada, independentemente da posição política,
ou seja, o que importa mesmo, no caso, não é a ideologia político-partidária,
mas sim a garantia de cargos.
O
líder do PSOL também criticou a aproximação de legendas com ideologias distintas
em troca de apoio mútuo, tendo afirmado que "Eu sou contrário (a esse tipo de aliança). Acho que os partidos, particularmente o PT, que era do governo, e também
outros que apoiavam a Dilma, o que não era o nosso caso, ao apoiarem a
candidatura de quem ajudou a fazer essa ruptura institucional (impeachment), me parece que confunde bastante não só a
sociedade civil, mas a sua própria militância. Acho que não vale a pena, em
nome de cargos, de pequenos espaços, perder a identidade".
Ele
disse que “Este é o momento de os
partidos de oposição, como o PT, reafirmarem o posicionamento deles contra o
governo Temer e às legendas que o sustentam no Congresso.”.
À
toda evidência, a situação política está tão complicada que as siglas do
Centrão estão se articulando, nos bastidores, para não apoiarem nenhum dos dois
candidatos do bloco, justamente objetivando garantir cargos na Mesa Diretora, ou
seja, o momento é de complicadas negociações para garantir lugar na mais
relevante mesa da Câmara.
Essa
forma de esdrúxula composição política é absolutamente coerente com a
mentalidade tacanha e medíocre dos homens públicos tupiniquins, que, em
demonstração de falta de identidade, visam obcecadamente à consecução de seus
objetivos pessoais e partidários, em claro prejuízo da satisfação do interesse
público, com absoluto atropelamento de suas ideologias, que são lançadas ao
espaço com a maior naturalidade, enquanto a conveniência pessoal ou partidária
e plenamente satisfeita.
No
presente episódio, os deputados deixam à mostra sua fragilidade de caráter,
diante da possibilidade de marcar posição no cenário político, com a ocupação
de cargo na Mesa Diretora da Câmara, a garantir prestígio e influência quanto
ao maior poder do usufruto de mordomias e benesses.
Os
brasileiros precisam se conscientizar, com urgência, de que seus delegados no
Congresso Nacional devam ser capazes de entender que a representatividade
política implica firmeza de caráter e dignidade, em respeito ao decoro
parlamentar, no sentido da abdicação de suas causas pessoais em nome da intransigente
defesa do interesse público, que assim deve ser o exercício de seus cargos
públicos eletivos, como forma de contribuição ao aperfeiçoamento dos princípios republicano e democrático. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 20 de janeiro de 2017
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