segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Contexto social degradante

Apesar do caos da segurança pública, é preciso se reafirmar o respeito às opiniões em contrário, em sintonia com o salutar princípio democrático, mas é importante se pensar que o sistema penitenciário faz parte de triste realidade, inserida em um contexto social muito degradante e injusto do país.
Nem por isso o ser humano, a vida humana, precisa pagar e ser responsabilizado pelas deformações e mazelas próprias do homem, que normalmente age ao sabor de suas conveniências, principalmente na vida pública.
O sistema prisional brasileiro é de longe o que de pior se pode imaginar na face da terra, onde o criminoso, que já não tinha boa índole, é simplesmente transformado em animal irracional e passa a agir sob o domínio da monstruosidade e da barbárie, em dissonância com o princípio humanitário, quando é trancafiado.
É plenamente inconcebível se aceitar como normal o sistema carcerário brasileiro, que tem profundas deficiências, em termos de funcionamento e de acondicionamento de presos, o que termina tendo reflexo no comportamento dos apenados, mas isso não tem a ver com a situação dos gastos despendidos com o sistema e principalmente com os presos, porque, no contexto geral, tudo isso faz parte do ciclo da vida, onde se insere a criminalidade, que se encontra presente em todo mundo, com a diferença de que tem país que trata os presos com a devida dignidade necessária ao cumprimento da sua pena e até mesmo à sua ressocialização, que o condiciona a sua reintegração à sociedade.
Isso vale dizer que, pelo fato de ser preso não significa que se trate da escória do mundo e deva ser execrado pelo resto da vida, quando se sabe que o homem é o resultado do meio e não existe nada pior do que o ambiente das prisões brasileiras para ajudar a deformar ainda mais aquele cuja índole seja de maldade e perversidade.
É preferível se acreditar que o respeito ao ser humano é dever de esperança na sua recuperação, desde que haja condições favoráveis para tanto, o que parece, no particular, não ser o caso das masmorras brasileiras, onde o preso se degenera ainda mais ao se integrar às facções envolvidas com drogas e as piores criminalidades, com extensão ultramuros dos presídios.
Não se trata de tentativa de convencimento de coisa alguma, mais sim de analisar os fatos sob o prisma da realidade, que é nua e crua, em que não se pode condenar exclusivamente o preso, quando muitos são os culpados pelas desgraças do mundo, mas o governo é o principal culpado, que não cuida como é do seu dever institucional, tanto do sistema prisional, como dos demais sistemas - educacional, de saúde, de segurança pública etc. -, permitindo que o caos esteja presente em tudo que incumbe ao Estado, que precisa passar urgentemente por reestruturação, remodelação e reformulação das suas estruturas, de modo que as mazelas sejam, enfim, extirpadas e o país tenha condições de retomar o caminho do desenvolvimento socioeconômico.
É sempre bom que haja pensamentos divergentes, porque, ao fim, há de prevalecer aqueles que estejam mais próximos da racionalidade e do bom senso, como forma capaz de contribuir para beneficiar o desenvolvimento da humanidade.
A sociedade precisa se conscientizar de que a crise do sistema carcerário encontra-se carente do equacionamento em conjunto com o sistema de segurança pública, ante a identidade existente entre ambos, que se encontram igualmente falidos e precisando de urgentes reformulações, com vistas à eliminação dos gargalos que se agigantam à medida que as mazelas se intensificam, dando azo ao surgimento de massacrantes rebeliões, cujos resultados extrapolam o bom senso e a racionalidade próprias do homem.
Enfim, em que pese o caos imperante no seio da sociedade, em particular no que diz respeito à falta de segurança pública e à balbúrdia nos presídios, que têm o poder de intranquilizar, assombrar e até penalizar a todos, o ser humano precisa se conscientizar de que o assunto pertinente ao massacre de Manaus e outros acontecidos no país cinge-se precisamente a vidas humanas e isso necessariamente toca diretamente no sentimento e no olhar que se voltam para o ser humano em si e não para a sua situação de presidiários, que tem a ver com a sua condição de apenado, o que é outra história.
Convém que os resultados das tragédias ocorridas nos presídios no Norte do país sirvam não somente de lição, mas também de alerta para as autoridades incumbidas de zelar pelo sistema carcerário, com vistas a possibilitar a urgente adoção de medidas que já deveriam ter sido tomadas há décadas, desde quando foi decretada a sua falência, o que poderiam ter sido preservadas centenas de vidas humanas e evitado tanto sofrimento para igual número de famílias, que são atingidas profundamente com a lamentável situação. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 9 de janeiro de 2017

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