quinta-feira, 7 de junho de 2018

À beira do abismo?


Conforme reportagem especial publicada na revista ISTOÉ, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil de governos e ex-todo-poderoso do PT, já condenado pela Operação Lava-Jato a 12 anos de prisão, denunciado mais três vezes pelo Ministério Público Federal, com sucessivos pedidos de habeas corpus negados pela Justiça, além de se encontrar preso sem a menor perspectiva de saída da cadeia, entrou em desespero, emagreceu dez quilos e mergulhou em depressão profunda.
Diante desse quadro desolador e um tanto devastador, para quem já foi considerado o principal artífice do partido que revolucionou a história político-brasileira, ele decidiu dizer à Polícia Federal, em forma de delação premiada, a verdade sobre fatos escabrosos e criminosos relacionados com o desvio de dinheiro da Petrobras.
Aquela revista disse que apurou que “a delação contém elementos suficientes para dinamitar o PT, partido que ele ajudou a fundar. Suas revelações, feitas em longos depoimentos à PF em abril, envolvem principalmente os ex-presidentes Lula e Dilma, a quem acusa de práticas de corrupção estratosféricas.”.
Consta da reportagem que um delegado da Polícia Federal, que participou das oitivas do ex-ministro, afirmou que “A delação de Palocci destrói o PT”, cujo roteiro foi concluído e servirá de fundamento para novas investigações e condenações dos protagonistas do esquema criminoso.
A reportagem ressalta que, como coordenador das campanhas presidenciais dos petistas, o ex-ministro detalhou, na delação, como eles se beneficiaram dos recursos repassados pelas empreiteiras, ilegalmente desviados da Petrobras, para o financiamento das milionárias campanhas eleitorais e a utilização do “dinheiro sujo para o enriquecimento pessoal. E tudo armado dentro do gabinete presidencial no Palácio do Planalto.”.
O texto esclarece que “o ex-ministro apresentou datas, horários e locais onde o dinheiro era entregue. Um pacote chegou a ser deixado na sede do Instituto Lula em São Paulo por “Brani” ou Branislav Kontic, assessor direto do ex-ministro, num final de semana, fora do horário do expediente. No total, o ex-presidente, segundo Palocci, recebeu mais de R$ 10 milhões em dinheiro vivo das mãos de Brani. No apagar das luzes de 2010, quando Lula estava na iminência de deixar o Palácio do Planalto, o assessor transportou várias remessas de dinheiro vivo ao petista, em quantias que somavam R$ 50 mil cada pacote. Lula demonstrava discrição. Às vezes, mandava deixar o malote num local previamente combinado.”.
Segundo a reportagem, o ex-ministro disse que “o dinheiro servia para o ex-presidente custear suas próprias despesas. Todos os valores milionários estavam ‘depositados’ na conta ‘Amigo’, mantida no departamento de propinas da Odebrecht. A conta chegou a ter R$ 40 milhões para atender às necessidades do ex-presidente. Os valores só podiam ser movimentados com autorização de Palocci, o ‘italiano’. O dinheiro era uma contrapartida à facilitação das operações da Odebrecht no governo Dilma, com quem Marcelo não tinha boa relação.”.
Na delação, o ex-ministro conta que, “entre o final de 2013 e início de 2014, sacou da conta “Amigo” R$ 4 milhões para cobrir um rombo nas contas do Instituto Lula. Dessa vez, o ex-presidente designou Okamotto para cumprir a tarefa. Não teria sido a primeira nem a última. As expressões ‘resolve com o Okamotto’ ou ‘o Okamotto vai lhe procurar’ eram a senha para o recebimento da propina. ‘O Paulo Okamotto (presidente do instituto) me disse que tinha um buraco nas contas e me pediu ajuda para resolver’, explicou Palocci. Okamotto falava em nome de Lula. Autorizado por ele. Sempre”.
Além desses valores, o ex-ministro revelou que “Lula fechou com o patriarca da empreiteira, Emílio Odebrecht, um “pacote de propinas” no valor de R$ 300 milhões para que o ex-presidente e Dilma utilizassem sempre que fosse preciso. O dinheiro foi usado nas campanhas petistas, sobretudo na de 2014. Os recursos eram usados ainda para pagar palestras fictícias de Lula. Sua empresa de palestras, a LILS, recebeu pelo menos R$ 30 milhões de empreiteiras a título de conferências não realizadas. Somente durante a criação da Sete Brasil, em 2010, foram desviados R$ 153 milhões, dos quais 50% foram para atender Lula.”.
Consta da revista que o ex-ministro teria dito que “o esquema foi discutido dentro do Palácio do Planalto, no gabinete presidencial.” e que a “A Sete Brasil foi constituída para produzir sondas de exploração de petróleo para a Petrobras, com a participação da Odebrecht, OAS e UTC. Somente seis sondas da Sete Brasil custariam US$ 4,8 bilhões, com o pagamento de 1% dos contratos em propinas, inclusive para o bolso de Lula, identificado nessa operação como ‘sapo barbudo’ por Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras e dirigente da Sete Brasil. Já tornada pública, a chamada operação Kadafi foi confirmada por Palocci, segundo apurou ISTOÉ. O ex-ministro ratificou que o líder líbio Muamar Kadafi, morto em 2011, enviou ilegalmente R$ 1 milhão para a campanha de Lula em 2002.”.
A revista disse que “O ex-ministro confessou ter participado de um esquema que escoou R$ 50 milhões da Braskem (empresa do grupo Odebrecht), no processo de renegociação de dívidas com a União. A propina foi acertada em 2009, num negócio envolvendo o então presidente Lula e o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, nos gabinetes palacianos. O dinheiro foi usado na campanha que elegeu Dilma em 2010. Palocci disse que o acerto foi detalhado num encontro, com a presença de Dilma, no qual Lula teria falado abertamente sobre a arrecadação de valores ilícitos para a campanha da sua sucessora. Dilma não impunha resistência. Agia naturalmente. Dava aval aos ilícitos. Lula também pediu propinas do pré-sal para campanha de Dilma, segundo Palocci ‘Ele (Lula) disse: ‘o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai lhe acompanhar nesse projeto, porque ele vai ter total sucesso e para que garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha da Dilma’.”.
A reportagem ressaltou que, de acordo com o ex-ministro, “o PT havia recebido R$ 50 milhões para ajudar na anulação das provas da Operação Castelo de Areia no Superior Tribunal de Justiça. O dinheiro foi repassado ao partido pela empreiteira Camargo Corrêa, a principal encrencada na operação. Parte da propina foi destinada à campanha da senadora Gleisi.”.
Junto com a delação, obviamente para a obtenção da redução de pena e se livrar da cadeia, o ex-ministro se compromete a devolver aos cofres da Petrobras o valor de R$ 50 milhões dos R$ 81 milhões que sua empresa Projeto teria recebido irregularmente, embora ela tenha faturado mais de R$ 200 milhões, de 47 clientes.
A delação em causa foi acertada com delegados da Polícia Federal, sem a participação do Ministério Público Federal, que considerou insuficientes as confissões do ex-ministro, mas a PF entendeu que os fatos são consistentes e as provas substanciais, que mostram, com elementos valiosos, os caminhos por onde teriam percorrido os dinheiros irregulares desviados da Petrobras.
A situação do ex-ministro pende da homologação da sua delação por desembargador do Tribunal Regional de Justiça da 4ª Região, ficando a perspectiva de que a liberdade dele vai depender, em muito, da avaliação sobre os elementos por ele fornecidos, em termos de consistência de seus relatos, que podem azedar a já complicada situação de muitos petistas, principalmente aqueles que se beneficiaram do dinheiro sujo com a lama podre da corrupção instituída e mantida nos palácios comandados por eles, que precisam pagar por seus pecados, a depender da confirmação dos fatos objeto da delação em apreço.
Se realmente o que o ex-companheiro e o ex-escudeiro fiel dos dois ex-presidentes da República petistas disse à Polícia Federal, na forma da sua delação premiada, conforme relatado por ele com minuciosos detalhes sobre o gigantesco esquema criminoso comandado pelo Palácio do Planalto, for verdadeiro e se ele também tiver como provar todos os fatos bombásticos vindos à tona, essas revelações têm a força explosiva de uma bomba nuclear em quantidade imensurável de megatons, com capacidade destrutiva tal para implodir não somente as estruturas da agremiação política, mas todos os sentimentos de defesa da alma mais pura do planeta, que ainda tenta se sustentar em uma inocência nunca comprovada, que poderá se ruir, em definitivo, com a transparência das revelações em referência.
É inacreditável que, se verdadeiros os fatos denunciados pelo ex-ministro, conforme reportagem especial, densa e contundente da revista ISTOÉ, também publicada no seu site, o Brasil tenha sido comandado por quadrilha poderosíssima, estrategicamente organizada e gerenciada no núcleo central do governo, no seio de palácio presidencial, em clara demonstração de que o país fora transformado numa gigantesca máquina de delinquência suprema, destinada a desviar recursos públicos com a finalidade de saciar interesses pessoais, partidários e políticos, tendo como principal objetivo a permanência no poder e a absoluta dominação das classes política e social, por meio de incrível e imaginável esquema criminoso que foi capaz de enganar até mesmo a ingenuidade de milhões de idólatras, completamente cegos e iludidos pela veneração, que certamente não se afastarão do sentimento nutrido na forte crença na inocência do todo-poderoso, mesmo que as provas e a materialidade sobre a autoria dos crimes atribuídos a ele foram escancaradas, porque é preciso que prevaleça intocável o seu inquestionável endeusamento.
O poder de persuasão da organização criminosa é tão forte que mesmo sendo verdadeiros os fatos, os fãs daquele que é considerado o seu comandante, segundo o Ministério Público Federal, vão continuar intocavelmente acreditando que pessoas tão “boazinhas” e “honestas” são absolutamente incapazes de protagonizar "deslizes tão insignificantes", de desviar recursos públicos para si ou partidos, como no caso desses fatos objeto da delação do ex-ministro, que, para eles, não deveria ter perdido seu tempo denunciando justamente pessoas imaculadas, insuspeitas e imunes a acusações de irregularidades.
Os seguidores dos políticos, por certo, vão apenas lamentar mais denúncias contra seus veneráveis e inatingíveis ídolos, justamente por acreditarem na inocência deles, à vista do tanto que eles se sacrificaram pela pobreza e se esforçaram ao máximo na vida pública em benefício de causas justas, em defesa dos desvalidos, com o assistencialismo transvestido de fins eleitoreiros, conforme mostram os fatos noticiados na mídia.
Convém salientar, por último, que ninguém é maluco ou totalmente insano em expor fatos tão marcantes e expressivos sobre gigantesco mar de irregularidades, cuja transparência pode ter o condão de destruir, em definitivo, carreiras políticas de extrema relevância nos cenários nacional e internacional, se eles não tivessem a devida consistência probante, tendo em vista que a sua primordial finalidade é tão somente a liberdade do delator, que somente será possível diante da confirmação de que são realmente valiosas as informações constantes da colaboração, considerada premiada justamente porque elas fornecem os fundamentos para o aprofundamento das investigações e diligências indispensáveis ao seguro julgamento das pessoas envolvidas.   
É decepcionante se perceber que, diante dos gigantescos e extraordinários avanços científicos e tecnológicos, em que a humanidade conseguiu alcançar excelentes níveis de modernidade, propiciando a maior amplidão possível para o homem poder facilmente descortinar o que seja realmente razoável e racional, ainda existem homens que preferem permanecer na escuridão, deixando de acreditar nos fatos verdadeiros, além de preferir se apegarem à versão de algo absolutamente destituído de plausibilidade e de consistência, a exemplo do que possa se transformar materializada a maior farsa da história republicana, em que ex-presidentes da República possam estar implicados com sujeira mais pútrida da face da terra, caso venham a ser comprovados os fatos denunciados pelo ex-ministro e ex-homem forte da íntima confiança de seus denunciados, o que robustece a credibilidade sobre a possível veracidade dos acontecimentos apontados na reportagem em comento. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 7 de junho de 2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário