sexta-feira, 29 de junho de 2018

Interpretando pesquisa eleitoral

Segundo foi divulgado na mídia, o Ibope acaba de “divulgar pesquisa eleitoral sobre a intenção de voto dos brasileiros para a Presidência da República no primeiro turno.”.
          A direção do Ibope esclarece que o levantamento em apreço ouviu dois mil eleitores, espalhados por 128 municípios, entre os dias 21 e 24 do fluente mês.
Foram apresentados dois cenários, com e sem a participação do ex-presidente da República petista na disputa, que se encontra preso desde o dia 7 de abril último, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), onde cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, na operação Lava-Jato, com relação ao caso do tríplex.
Por já ter sido condenado na segunda instância, o político, de quebra, também se tornou inelegível, por força das normas insculpidas na Lei da Ficha Limpa, e dependerá da Justiça Eleitoral para concorrer ao cargo presidencial, muito embora a legislação eleitoral somente abre exceção para casos excepcionais.
Conforme o resultado da aludida pesquisa, o petista tem 33% de intenção de voto, frise-se, dos dois mil eleitores consultados, vindo em seguida o deputado federal ultradireitista pelo Rio de Janeiro, com 15%, e a ambientalista, com 7%. 
É preciso que o responsável pela divulgação da pesquisa em referência tenha o mínimo de sinceridade, espírito público e responsabilidade cívica, para divulgar exatamente o que diz o resultado da consulta realizada, conforme dito acima, junto a 2.000 eleitores, ou seja, repita-se, foram ouvidas duas mil pessoas, que deram sua opinião, não é verdade?
          Não obstante, o autor da notícia diz, sem o menor pudor nem responsabilidade com a verdade, em se tratando de coisa importante e da maior seriedade, que "(...) a intenção de voto dos brasileiros para a Presidência da República no primeiro turno.", fato que não condiz com a realidade, porque o resultado da pesquisa somente pode ser analisado e principalmente avaliado com base na opinião das 2.000 pessoas consultadas e jamais com relação aos brasileiros, o que é bem diferente, em termos de informação para a opinião pública, não é mesmo?.
A bem da verdade e de respeito ao público, a notícia correta, que corresponde exatamente à realidade, deveria ter sido a seguinte: “(...) a intenção de voto dos dois mil eleitores consultados para a Presidência da República, no primeiro turno.".
Vejam que os eleitores brasileiros habilitados ao voto, ou seja, em condições reais de eleger os candidatos a cargos públicos eletivos, já ultrapassaram de 146 milhões, fato que tem astronômica diferença entre a quantidade consultada e a realidade existente de votantes, não é mesmo?
Outro fato bastante interessante, que chama a atenção até mesmo de quem não é especialista em sistema eleitoral, é a quantidade informada dos municípios, no total de 128, sem haver a indicação precisa e exata sobre as localidades e muito menos sobre as regiões brasileiras nas quais as pesquisas foram realizadas, ou seja, há a falta das indicações das maiores concentrações das pesquisas, se em cidades do Nordeste, do Sul ou de qual região, se em cidades pequenas ou grandes, se na periferia (de população menos informada) ou nos centos, em setores de classe alta ou baixa) etc., sabendo-se que há regiões do país com enorme predominância de eleitores absolutamente favoráveis a determinado candidato, em razão da notória compensação conhecida pela importantíssima distribuição de renda, como se os recursos não proviessem dos sacrificados contribuintes.
Além do mais, é sabido que o Brasil tem mais de 5.750 municípios, diante de apenas 128 onde houve as consultas eleitorais, o que também é outro dado nevrálgico relevantíssimo para a cogitação sobre a preferência do eleitorado, que, por enquanto, ao que parece, tem servido como elemento de manipulação a serviço de pesquisa eleitoral absolutamente desacreditada e pouco confiável, em termos exatos sobre a preferência eleitoral, dando a entender que se trata de pesquisas sob encomenda, feitas por interesses e destinadas ao atendimento de conveniências, com a finalidade de beneficiar alguém, não é verdade?
Ademais, para se ter ideia sobre a exata representatividade dos dados levantados na pesquisa em comento, os dois mil eleitores consultados correspondem a exatamente o percentual de 0,000014% (2 mil de 146 milhões) do total de eleitores brasileiros e 2,85% (128 de mais de 5.750) do total dos municípios, o que, convenhamos, são dados superinsignificantes para alguém pretender se arvorar a tentar fazer avaliação sobre o possível desempenho político eleitoral dos candidatos presidenciais, em termos da contagem de votos para eles, justamente porque é evidente a estupenda fragilidade da base de dados, não é mesmo?
Não se quer dizer com isso que as pesquisas em si estejam maculadas, mas sim apenas tentando mostrar, de forma bastante didática e pedagógica possíveis, a realidade que as pessoas ignoram e quem tem interesse no resultado delas não esclarecem os fatos exatamente na forma como é mostrada neste texto, que não tem qualquer objetivo senão de contribuir para a melhor interpretação por parte dos interessados sobre a verdade quanto àquilo que ninguém tem interesse de fazê-lo, qual seja, mostrar a verdade sobre o significado das pesquisas em si, como forma de deixar o eleitor minimamente informado sobre determinada pesquisa, que precisa ser entendida como situação bastante restrita, como se viu acima, em relação à globalização do sistema eleitoral, não é verdade?
Diante dessas questões técnicas suscitadas, com a maior plausibilidade, pode-se, sem o mínimo de esforço, concluir que as pesquisas eleitorais carecem de esclarecimentos sobre a sua dinâmica e mais credibilidade, à vista das supracitadas constatações, de modo a se mostrar aos eleitores brasileiros elementos capazes de se assegurar que os resultados das consultas realizadas têm realmente fundo de fidedignidade e são de extrema precisão, diante da necessidade da validade jurídica e material para se transmitir, com segurança, à opinião pública a certeza de que o seu resultado reflete o desejo sincero e honesto de mostrar o quadro político, sem qualquer subterfúgio ou forma de manipulação ou enganação aos eleitores, como fazem normal e naturalmente os países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos, eleitorais e democráticos, que precisam ser acompanhados pelos países que não podem mais deixar de imprimir o mínimo de dignidade e vontade de proceder com correção, lealdade e, sobretudo, espírito público, com a responsabilidade inerente às atividades político-eleitorais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 29 de junho de 2018

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