Em
crônica recente, procurei mostrar que os brasileiros precisam se conscientizar
de que, sem a sua vontade, o sistema político-eleitoral continuará em
lastimável precariedade, em que há de prevalecer o império imposto pelos
políticos inescrupulosos, que se profissionalizam justamente para defenderem,
basicamente, seus interesses.
Também
foi mostrado que a mudança que se impõe naquele sistema depende exclusivamente
da vontade do eleitor de comparecer maciçamente às urnas, para votar em
candidatos que se comprometam em trabalhar como verdadeiro representante do
povo, na defesa dos interesses deste.
Naquela
crônica, foi dito que o protesto eleitoral, representado pela ausência às urnas,
apenas tinha o condão de beneficiar os maus políticos, que já conseguiram convencer
seus eleitores de que o ideal sistema político é exatamente aquele que fomenta
o populismo e em seu nome será exercido o poder.
Em
síntese, foi propugnado que, em sintonia com o princípio democrático, o eleitor
tem o dever de votar tão somente em candidatos compromissados com a defesa do
interesse da sociedade e procurar ser bastante criterioso com a imperiosa
necessidade de eliminação da vida pública dos homens públicos de índole
contrária aos princípios da ética, moralidade, dignidade, honorabilidade e de
outros ínsitos da decência nas atividades político-administrativas.
Em
lúcido e equilibrado comentário acerca do aludido artigo, o prezado conterrâneo
Ditinho Minervino disse o seguinte, verbis:
“O complicado
de tudo isso é que políticos se acham no direito de hereditariedade: o sistema
permite isso. Dificilmente pessoas desligadas dos mandatários têm a chance de
surgir candidato, e o eleitor fica com 5 opções: votar no ruim, votar no pior,
anular o voto, votar em branco, ou não comparecer às urnas. Com os ‘ministros’
que temos, sem serem concursados, fica praticamente impossível evitar a
candidatura dos corruptos. No Brasil, as leis não funcionam, não saem do papel.
Não entendo por que o STF é composto por 11 ministros. No meu rude pensar, tudo
que fosse parar no tribunal tinha que ter maioria dos votos, mas vejo que cada
um faz o que quer. Portanto, acredito que se alguém tiver a intenção de mudar o
Brasil, esse alguém tem que ter capacidade para promover uma INTERVENÇÃO
MILITAR.”.
Diante
dessa importante contribuição ao debate, eu disse que, tempos idos, havia escrito
uma crônica onde disse que as pessoas de bem, com dignidade e vergonha na cara,
não se interessavam pela política, exatamente para não deixarem de ser
honestas.
Foi
esclarecido ao nobre Ditinho que a sua avaliação pende para a confirmação daquela
interessante assertiva, em que os políticos de carreira estão em vantagem e dominam
as eleições, não permitindo que haja a tão ansiosa renovação na representatividade
popular.
De
qualquer modo, que não seja por isso, porque o povo precisa se conscientizar de
que é preciso comparecer às urnas e procurar votar, pelo menos, no candidato
menos pior, porque dificilmente as pessoas de índole boas e honestas realmente possam
se interessar pelas atividades políticas, que já demonstraram a enorme
capacidade degenerativa dos princípios éticos e morais.
Fiz
questão de esclarecer ao amigo que os ministros do Supremo Tribunal Federal,
por força de norma regimental, podem, com base nesse instrumento jurídico,
decidir de forma monocrática, ou seja, por cota pessoal, dependendo da matéria,
a exemplo de habeas corpus, o que vale dizer que outros assuntos qualificados
somente são decididos e julgados pelo plenário, que, como ele havia enfatizado,
é composto por 11 ministros.
Quanto
à intervenção militar, isso é questão que nem deveria ser objeto de imaginação,
no âmbito do Estado Democrático de Direito representativo do Brasil, de que
trata a Carta da República, porque ela é a antítese dos princípios republicano
e democrático, em que o país passa a ser governado por regime de exceção e isso
somente tem cabimento nas piores republiquetas, por se tratar de golpe contra o
império da democracia, exatamente por não ter amparo constitucional para tanto.
Na
atual estrutura de governo, em que pesem as mazelas e as precariedades
demonstradas pelo presidente do país, envolvido em extremas impopularidade,
incompetência e crise de moralidade, convém, mesmo assim, que se respeite o status quo, na esperança de que o povo
se conscientize de que o Brasil já merece que seus governantes tenham melhor
preparo, em termos de competência administrativa e responsabilidade cívica, de
modo que o país possa ser comandado por quem tenha reais condições de entender
o que significam interesse público, zelo pela coisa pública e sobretudo os princípios
da ética, da moralidade, da legalidade, do decoro, da probidade, da
transparência, entre outros indispensáveis na gestão dos recursos públicos, que
precisam ser aplicados sob rigorosa observância aos conceitos de prioridade das
políticas públicas, no que concerne à austeridade e à economicidade.
Impõem-se
que sejam evitados os vergonhosos e irresponsáveis rombos nas contas públicas,
em que a incompetência, a ineficiência, o despreparo administrativo e a falta
de compromisso com as normas constitucional e legal resultam nas gastanças
acima do dinheiro arrecadado, resultando os injustificáveis descontroles das
contas públicas e até a incidência do crime de responsabilidade, com assento na
Lei Maior do país, por abuso de poder e até de desvio de finalidade.
Compete
ao poder popular, por meio do voto, sinalizar para os homens públicos o real
sentimento do que seja preciso ser feito para a mudança do sistema político-administrativo,
de modo que o Brasil possa retomar, o mais rapidamente possível, o caminho do
desenvolvimento socioeconômico, sob pena de continuar patinando no mesmo lugar,
em lamaçal consolidado por idealismo que se justifica apenas pela vontade
política da absoluta dominação das classes política e social e da conquista do
poder e da permanência nele, como forma de plena satisfação de interesses
pessoal e partidário, em cristalino prejuízo das causas nacionais e dos
brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 20 de junho de 2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário