segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Ameaça sobre o quê?


A prestigiada revista britânica The Economist traz na capa da sua última edição o candidato à Presidência da República pelo PSL, escrito em português "Bolsonaro presidente",  e diz que ele é uma ameaça, não só para o país, mas para toda a América Latina.
O editorial foi publicado com o título "Jair Bolsonaro, a última ameaça da América Latina", a indicar que a revista analisa o momento atual do Brasil, tendo afirmado que "a economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está completamente podre".
A publicação compara o brasileiro ao presidente norte-americano e afirma que, "se a vitória for para Bolsonaro, um populista de direita, o Brasil corre o risco de tornar tudo pior".
A reportagem diz que "Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina".
Aliás, não é de agora que aludida revista vem acompanhando as crises econômica, social e política brasileiras, quando se manifestava frequentemente no último governo petista, cujos fatores são apontados por ela para o crescimento nas pesquisas do presidenciável carioca.
O citado editorial afirma que "Os populistas recorrem a queixas semelhantes. Economia fracassada é uma delas -- e no Brasil a falha foi catastrófica. Na pior recessão de sua história, o PIB encolheu 10% entre 2014 e 2016 e ainda não se recuperou. A taxa de desemprego é de 12%".
A revista foi mais além, tendo dito, sem o menor pudor e de forma grosseira e deselegante para o seu nível, que, como líder nas pesquisas, o ultradireitista é "xerife sem noção".
É evidente que as notícias sobre a reportagem publicada com chamada de capa da mundialmente famosa revista The Economist são publicadas, na imprensa brasileira, em resumo do seu conteúdo, em que sobressaem apenas alguns tópicos, sem maiores detalhes sobre a essência dos fatos, dizendo que o presidenciável é ameaça para o Brasil e a América Latina, mas isso representa o extremo da irresponsabilidade, por não se esclarecer exatamente quais são as formas pelas quais as ditas ameaças vão se materializar contra especificamente o quê, deixando as dúvidas no ar, para quem quiser interpretar e isso é imperdoável para revista de renome, que tem a obrigação de primar pela objetividade e clareza das suas matérias.
Não se sabe se os detalhamentos dessa “ameaça” constam da matéria publicada diretamente pela revista, no caso, explicando cada motivação e a fundamentando para assegurar de que jeito vai se processar tal ameaça, elencando com o devido cuidado a inevitabilidade dela, em termos de responsabilidade de imprensa séria.
Constituem brutal e monstruosa leviandade críticas e acusações dessa magnitude, absolutamente desacompanhadas dos devidos fundamentos, pelos menos, na forma do noticiário publicado na mídia brasileira, que apenas faz menção ao fato de que o candidato ultradireitista é simplesmente uma ameaça, como se isso desse a certeza que os demais candidatos estão longe de ser ameaça sequer ao Brasil, quando se sabe perfeitamente que existem outros candidatos potencialmente capazes de ameaçar os interesses dos brasileiros, principalmente quanto à incompetência e outras faltas de cuidados e zelos para com a coisa pública, o patrimônio dos brasileiros, cuja colocação à prova já deixou seus rastros na experiência desastrosa de governos recentes, que conseguiram destroçar o patrimônio da principal empresa petrolífera brasileira, mas, mesmo assim, tem candidato da mesma agremiação que ainda pretende retornar ao poder.
O que se percebe, diante da notoriedade, é que a revista britânica foi muito infeliz em escolher somente um candidato para acusá-lo sem ter prova nem fundamento para tanto, quando ela teria o dever de bem informar, sem qualquer questionamento, de demonstrar análise e avaliação completas e amplas sobre o histórico político de todos os candidatos, em se tratando de processo eleitoral com ampla repercussão no mundo, além da indiscutível participação de outros candidatos de ideologias centrista e esquerdista, fato este que evidencia clara discriminação para com o candidato focado por ela, que é o líder das intenções de voto.
É até possível se imaginar que a candidatura do presidenciável fluminense possa inclinar-se para governo mais aproximado da linha militarizada e isso tem algo que pode suscitar dúvidas e incertezas, diante da falta de definição detalhada quanto à execução dos planos estratégicos de seu governo, mas já se sabe, de antemão, que a sua centralidade de ação será mesmo o ferrenho, intenso e corajoso combate à bandidagem que tomou conta do Brasil e isso, por certo, tem o condão de contrariar a linha político-ideológica de muitos homens públicos que preferem a banalização da criminalidade e da impunidade, como forma de se manterem sólidos no poder.
Por seu turno, na outra extremidade, muitos brasileiros já acostumados com as “benesses” e as denominadas pseudoconquistas sociais vislumbram o eventual retorno do principal partido de esquerda ao poder, que pode ter o infeliz e inexorável destino a transformação do Brasil em uma destroçada Venezuela, por se tratar de agremiação declaradamente apoiadora das ditaduras de Cuba e desse país, em cuja ideologia se assenta a defesa do controle social da mídia e do emprego da violência, principalmente no campo, por movimentos sociais e principalmente da intransigência à regular aplicação do ordenamento jurídico, a exemplo do recente impeachment e da prisão do seu líder maior, que são chamados de “golpe”, quando, em ambos os casos, o império da constitucionalidade esteve presente, segundo a chancela do Supremo Tribunal Federal, que tem se manifestado rigorosamente pela legitimidade dos procedimentos até então adotados, o que afasta qualquer suspeita de golpe, que tem como fonte justamente o desprezo à Constituição e às leis do país.
Os exemplos acima são pequenos detalhes como a revista teria sido de maneira parcial e injusta na sua análise de apenas tratar a situação de um candidato, quando os eleitores, em termos de espírito democrático, que a revista britânica sabe muito bem o que seja isso, não se satisfazem somente com as pauladas dadas com imperdoável violência apenas no lombo do candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto, dando a impressão de que se trata de matéria questionável, sob vários aspectos ínsitos dos princípios civilizatórios e democráticos.
A depender do anglo de quem precisa avaliar o momento político-histórico brasileiro, pode facilmente tirar as suas conclusões quanto aos possíveis riscos que o país terá que enfrentar nessa tão disputada campanha eleitoral, em que é possível que o candidato ultradireitista possa ser ameaça ao Brasil, à América Latina e ao mundo, mas não deixa de haver monstruosa injustiça contra ele e os brasileiros que os demais candidatos não tenham sido igualmente avaliados pela prestigiada revista, com aplicação dos mesmos critérios e pesos usados.
É preciso que a verdade e a mentira sobre um candidato sejam ditas igualmente com relação aos outros presidenciáveis, porque certamente eles também podem ter potenciais predicativos de ameaças maléficas como comandantes dos brasileiros, que estão igualmente correndo sérios riscos, certamente por diferente terrível maneira de governabilidade, caso em que a revista também tem a sua parcela de culpa por sua imperdoável omissão quanto a estes, em clara demonstração de injustiça e parcialidade, cuja atitude não condiz com a sua competente linha editorial.
Convém que também sejam mostrados os defeitos e as qualidades de cada um dos demais presidenciáveis, incluindo e especificando, se for o caso, o grau de ameaça aos princípios democrático e republicano, com as respectivas avaliações, de forma responsável e justa, sobre os predicativos e as falhas inerentes eles, todos passando pelo mesmo crivo de avaliação imparcial e criteriosa, porque, do contrário, poder-se-ia se inferir que a matéria em apreço tem cunho tendencioso e antidemocrático, exatamente por não refletir a real situação político-eleitoral brasileira da atualidade, diante da sua importância para a definição do voto consciente dos brasileiros. Acorda, Brasil!
Brasília, em 24 de setembro de 2018

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