domingo, 9 de setembro de 2018

Basta à doentia ideologia

Em questão de segundo um tresloucado foi capaz de abalar as estruturas da democracia brasileira, que ainda se encontra em alicerce capenga desnível, além de quase tirar a vida de ser humano, tendo-o ferido com seríssima gravidade.
Esse atentado contra um presidencial, de natureza gravíssima, sob o prisma humano e pessoal, mostra a fragilidade da vida, mesmo sob a proteção da Polícia Federal, que não conseguiu evitar investida covarde e traiçoeira, à vista da multidão, que apenas quedou-se em perplexidade e impotência para evitar brutal insensatez perpetrada por um de muitos que, insensíveis aos princípios humanitários, se solidarizam com o algoz, como que dizendo que fariam o mesmo ou até pior, em clara demonstração de desumanidade que não tem limite, quando a doentia ideologia é posta em ação cega e inconsequente.
Por outro ângulo, o esfaqueamento de que se trata feriu brutal e gravemente a democracia, porque o seu objetivo insano era calar a voz de candidato presidencial que, além de liderar a preferência de voto, não tem medo de dizer o seu sentimento de brasilidade que é próprio dele e de muitos cidadãos, que defendem urgentes mudanças no Brasil, mas isso teve preço muito além do que se poderia imaginar ou pensar, em face dos avanços da humanidade, que alguém seria capaz de protagonizar tamanha barbaridade, em contrariedade aos salutares princípios democrático e humanitário, de defesa de ideias, que pode ser de direita, esquerda, centro ou quaisquer outras sejam, que tenham por objetivo o fortalecimento da vontade popular, como assim pensam as mentes sadias.
Como se vê, o brutal crime pode acarretar inegáveis consequências pessoais e políticas, porque ele é divisor de águas, diante da necessidade de urgentes mudanças tanto no que se refere às vidas das pessoas afetadas pelo incidente como no que diz respeito à sucessão presidencial propriamente dita, com implicação direta na política nacional, ante a reviravolta processada na campanha presidencial, que precisa ser repensada, para se evirar que outras e terríveis loucuras possam ainda reincidir contra a vida e a democracia, porque não se tem a menor segurança que outros malucos possam surgir de repente, com intenções destrutivas e monstruosas.
Por sorte do presidencial, a intenção assassina do criminoso não foi concluída como planejada, mas a ação em si foi capaz de atingir quase que mortalmente um ser humano e o arcabouço da civilidade e da convivência política do país, em ato absolutamente rejeitado pela sociedade - ressalvado o pensamento de adversários políticos -, como forma desejável para a solução das demandas pela via da violência, não importando a sua índole ideológica.
Foi de suma importância que, de imediato e à unanimidade, houvesse o repúdio da sociedade sensata e sensível contra o bestial atentado, à vista das manifestações responsáveis e sinceras de autoridades, dos demais candidatos à Presidência da República, do mundo civilizado e de todos, em expressão de solidariedade ao ser humano ferido covarde e brutalmente.
É evidente que o surpreendente incidente fez com que os candidatos parassem suas atividades para refletirem sobre os caminhos a serem tomados quanto às estratégias da campanha eleitoral, tendo como principal ingrediente o horroroso acontecimento com o presidencial carioca, porque não se pode mais ser desprezado o notório eco de terrível e ensurdecedora pregação de ódio e de indiferença à racionalidade e ao bom senso.
Não há como fugir dessa importante reflexão, que é premente e necessária, de modo que é preciso de reconhecer que a campanha eleitoral, desde muito tempo, está eivada de fortes sentimentos de animosidade, que extrapolam em muito a racionalidade do tradicional embate de opiniões e visões apenas centrado no terreno da política, porque muitos políticos vêm mostrando disposição para o enfrentamento do adversário como se houvesse a imperiosa necessidade de destruição física de verdadeiro inimigo, quando o jogo não passa de meras ideias políticas, em contexto absolutamente de transparência política.
Há que se reconhecer a maneira indevida e deselegante da condução dos debates próprios da arena eleitoral, por se não admitir, por questão de sensatez e bom senso, que candidato presidencial tenha o desatino de afirmar, diante do povo, a sua impensada intenção de “fuzilar a petralhada”, numa infeliz figura de linguagem em referência exatamente contra os principais adversários, que, conforme o grau da sanidade mental de quem para ela é endereçada, tem significado de real sentimento de extermínio e isso é absolutamente inaceitável, no âmbito da campanha eleitoral, por demonstrar acinte e afronta, totalmente despropositados, diante do indiscutível estado de beligerância que não condiz com infeliz frase como essa.
Não que isso possa ter contribuído, de alguma forma, para justificar o bárbaro ataque desferido contra o presidenciável, mas certamente ele não teria sido considerado tão deselegante e precipitado, porque o candidato tem obrigação de ser elegante no tratamento, principalmente, contra seus adversários, para que ele possa ser tratado com o merecido e igual carinho, evidentemente a depender do grau de civilidade dele.
          Não à toa que semelhante clima de beligerância pode ter influenciado, em março último, o atentado a tiros contra dois ônibus da comitiva do ex-presidente da República petista, por ocasião da sua passagem pelo Paraná, sem que houvesse, felizmente, ferimentos contra ninguém, porém o clima antagônico demonstrava irracionalidade e incivilidade, entre adversários políticos, em completa dissonância com os princípios democráticos modernos.
É induvidoso que não é impossível deixar de ignorar ou minimizar o importante papel da discussão política, em termos da truculência na incontrolável escalada da violência, que sinaliza para o crescimento de risco real de desestabilização política brasileira.
Não se pode ignorar, porque é do conhecimento popular, que a degradação do debate político tem origem no feroz discurso antidemocrático que conseguiu a separação do país a partir das expressões “nós” contra “eles”, que foram consolidadas depois que o PT conquistou o poder e isso mereceu natural reação, com o avanço da intolerância petista, que logo se espraiou em direção à selvageria, com o beneplácito das autoridades constituídas, que não tiveram interesse e muito menos competência para pôr freios a essa escalada de violência que é impossível de controle.
Infelizmente, ainda no calor dos acontecimentos lamentáveis, em que a temperatura atingiu o máximo da fervura, a insensatez ainda predomina exatamente onde deveria partir excelentes lições para a candura, a compreensão e o desarmamento dos ânimos, como prova do verdadeiro e duradouro armistício no seio dos homens públicos, mas ao contrário disso, o presidente do PSL, a agremiação do presidenciável agredido, foi o primeiro a levantar a voz, ao bradar, como que incitando à luta: “Agora é guerra”.
Mais ou menos na mesma linha, com o sentimento de solidariedade, o candidato a vice-presidente na chapa, o general de Exército, de forma insensata, acusou o PT pelo atentado, não tendo, para tanto, qualquer indício, por mínimo que seja, para respaldar a sua impensada e gravíssima suspeita.
Ao contrário disso, já mais ponderada, a presidenciável ambientalista disse que “Essas eleições nos dão a possibilidade de pôr um ponto final na polarização, no ódio e na violência”, tendo afirmado ainda que “A violência não pode ser combatida cum uma arma na mão. É o amor e o respeito uns pelos outros dentro do coração, independentemente de cor, raça e ideologia.”.
Por seu turno, o presidenciável tucano afirmou, em referência ao atentado em tela, que "Não é na bala, nem na faca que vamos construir uma nação. A violência é o pior caminho para combater a violência. O ódio que divide o país cresceu com o PT e fez prosperar radicais de um lado de outro. Outra coisa é não deixar que esse acontecimento nos impeça de olhar com cuidado para os problemas do Brasil".
O tucano concluiu, afirmando que “É preciso ter um país em que seja possível viver sem medo e o episódio pode trazer uma nova nação".
É evidente que o presidenciável tucano mostra ter esperança de que, embora a agressão em apreço se trate de fato deplorável, o acontecimento em si possa contribuir para a reflexão das autoridades, de quem muitas vezes brotam as sementes do ódio, da disputa e do embate mais acirrados na busca do poder, e da própria sociedade, que não pode servir de combustível para o trucidamento dos cidadãos.
Não dúvida de que o Brasil ingressa de vez na perigosa fase de turbulência e de fortes vácuos, em que seu destino político entrou em definitivo na rota escura, perigosa e tenebrosa das incertezas, tendo por base recente afirmação do ministro da Defesa, in verbis: “ apreensão entre os que têm responsabilidade de garantir a estabilidade das instituições, da lei e da ordem”.
Há informação noticiada na mídia de que o jornal O Estado de S. Paulo teria apurado que há clima de “perplexidade” no seio dos militares, sob a perspectiva quanto à urgente necessidade de, verbis: “desestimular o extremismo e isolar os radicais, de qualquer coloração política. Os dirigentes dos partidos precisam ter em mente que ou se ensarilham as armas, desfazendo o clima de rinha de galos que interdita o debate a sério sobre o futuro imediato do País, ou o Brasil mergulhará de vez no torvelinho da instabilidade”.
Parece razoável a ilação de que o ápice da intolerância e da irracionalidade chegou agora, nas mãos de facínora, que sintetiza o extremo da intolerância, irracionalidade e selvageria, absolutamente repudiáveis pela sociedade.
À toda evidência, a sociedade não pode mais tolerar a continuidade desse horroroso clima de instabilidade política, notoriamente passível de entendimento e pacificação, a dependerem exclusivamente da vontade política de se promoverem o desarmamento e o ensarilhamento dos sentimentos de ódio, rancor e violência, que são capazes da perpetração de ato de extrema irracionalidade, como esse agora consumado por um entre muitos potenciais insanos assemelhados a ele, de forma absolutamente injustificável, diante da extrema ausência de plausível motivação, salvo da desvairada defesa da ideologia política, decorrente de possível doutrinação não em benefício do povo ou da nação, mas sim de agremiações partidárias, que não demonstram o menor esforço para se evitar tragédia como a ocorrida.
Vejam-se melhor exemplo de confirmação do que foi explanado acima, quando o presidente do PT no Rio de Janeiro, que, ao invés de repudiar e condenar o atentado, que, mutatis mutandis, poderia até ser contra ele, na qualidade de político, aproveitou a agressão para provocação desairosa e degradante, tendo afirmado, pondo em dúvida a veracidade do ataque, que "Na boa... Essa facada tá mal contada... Que o candidato não tinha cérebro eu sabia... Mas que não tinha sangue é pra mim novidade... O cara ia resolver os problemas do Brasil a bala... Ameaça todo mundo e diz que vai dar tiro! Agora leva uma canivetada de um bandidinho imbecil e diz que é atentado terrorista... fascista frouxo de merda!".
Fica bastante evidente que o adversário político aproveita a situação de extrema gravidade criminosa, com risco de morte de ser humano, para fazer gozação e minimizar episódio seríssimo que exige, no mínimo, repúdio da sociedade em geral, em demonstração de que o ódio e o crime não podem ser acobertados e banalizados como fez, de forma descarada, esse pobre e desumano político, que é candidato a deputado federal, ou seja, com sua ideia de desumanidade ainda pensa em representar o povo, que possivelmente será eleito para continuar, no Congresso Nacional, disseminando suas ideias retrógradas e absolutamente dissonantes com os princípios de racionalidade, civilidade e humanidade.
É preciso sim ser mostrado por meio de ações e atos efetivos que realmente é urgente a conscientização sobre a necessidade da pacificação e da união sociais, para possibilitarem a construção e a consolidação da tão ansiada convivência amadurecida e civilizada dos irmãos brasileiros.
Urge que os homens públicos, com suas mentalidades políticas modernas, sensatas, preocupadas e interessadas na defesa da democracia brasileira se unam e ajam de maneira efetiva e concreta, com o firme propósito de serenar os ânimos exaltados e completamente fora dos limites de racionalidade e civilidade, em benefício da grandeza e do fortalecimento dos princípios republicano e democrático e, sobretudo, da valorização dos sentimentos humanitários. Acorda, Brasil!
Brasília, em 9 de setembro de 2018 

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