segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Retrocesso político


O candidato a presidente da República pelo PDT afirmou que homens e mulheres "decentes" não merecem ser obrigados a fazer escolha entre os presidenciáveis pelo PSL e PT, no segundo turno da próxima eleição, dando a entender que ele é superior a eles.
Acontece que, na mais recente pesquisa de intenção de voto, realizada pelo instituto Datafolha, o candidato do PT teve surpreendente crescimento, passando de 9% para 13%, e empatou com o pedetista, que também contabilizou 13%, enquanto também houve crescimento do presidenciável carioca, que chegou aos 26% da preferência do eleitorado.
O presidenciável pedetista afirmou que "Eu quero organizar todos os brasileiros, homens e mulheres decentes, que dão valor ao trabalho e que não querem ser levados a um segundo turno que os leve a escolher entre o fascismo ou premiar todas as contradições gravíssimas do PT. Isso é uma escolha que o brasileiro não merecia".  
Não obstante, ele disse que há movimento em curso que permitirá "um final feliz em que vamos eleger o fim da polarização odienta, do ódio na política, e vamos construir um projeto nacional de desenvolvimento encantador".
O pedetista disse que pretende "unir o Brasil, mas não todo mundo. Quero unir o cidadão que trabalha, que respeita as diferenças, respeita as orientações sexuais diversas, as mulheres, negros, indígenas, meio ambiente, esse Brasil. O resto temos que derrotar, esse gueto de fascistas violentos, egoístas, que introduzem a cultura do ódio no Brasil", afirmações estas em clara referência a apoiadores do presidenciável fluminense.  
O candidato também fez duras críticas ao PT, ao ter afirmado que ele "não pensa no Brasil faz muito tempo. Se nós pedirmos para o povo refletir onde começa essa tragédia que nós estamos vivendo, qual é a data do desemprego, onde começam a quebrar as contas, onde se vulnerabilizou, o colapso da própria democracia, é o PT. O PT em aliança com Renan, Eunício, Eduardo Cunha. Isso que estão fazendo de novo. Não aprendeu rigorosamente nada - no Ceará, Haddad se juntou com ele (o presidente do Senado Federal)".
O pedetista aproveitou para mandar recado ao candidato do PT, que teria dito, no Jornal Nacional da Globo, "Qual é a pessoa que hoje está na vida pública que não está investigada?", ao afirmar: "Quero lembrar ao meu querido amigo Haddad que tem muita gente que não é investigada no Brasil – eu, Ciro, 12, não sou investigado. Nunca fui investigado".
Sobre o combate à corrupção, o presidenciável pedetista disse que "Essa é a primeira grande questão: dar o exemplo. Se o exemplo vem de cima, é muito improvável que o de baixo se sinta autorizado a roubar".
O pedetista é o exemplo de candidato que,  ao longo da sua carreira política tem conseguido acumular enorme história de contradições e fatos polêmicos capazes de desqualificá-lo como homem público confiável, a exemplo da sua posição atual de severo crítico do PT, exatamente depois que este partido bateu a porta na cara dele, que pretendia fazer aliança política, mas o seu principal cacique o exortou das proximidades petistas, dificultando o recebimento de votos dessa importante legenda.
Ou seja, a falta de personalidade do pedetista se confunde facilmente conforme o atendimento ou não de seus planos políticos, o que vale dizer que o PT jamais seria criticado, tão duramente, se a aliança pretendida por ele tivesse sido bem sucedida, o que demonstra, com muita clareza, que o que ele prega sobre a necessidade da união de pessoas decentes, trabalhadoras etc. não condiz absolutamente com o seu pensamento político, que tem como pano de fundo a satisfação dos interesses pessoais, em primeiro plano, conforme mostram os fatos, e isso é indubitavelmente prejudicial, em se tratando que a essência da atividade política tem tudo a ver com a satisfação primacial do interesse público.
As referidas afirmações do presidenciável cearense deixaram muito claro o seu extremado sentimento de discriminação aos brasileiros, não importando as suas ideologias ou preferências por candidatos de direita, centro ou esquerda, porque isso se insere no processo democrático de livre pensamento, como forma de possibilitar a escolha do seu representante político que melhor convém aos eleitores, inclusive na pessoa dele, que já demonstrou não ter o mínimo de equilíbrio emocional, como o que aconteceu neste último domingo, quando ele xingou um cidadão, com palavra inadequada, somente porque ele o fez pergunta sobre declaração que havia dado, recentemente.
À toda evidência, em termos de campanha eleitoral, os fatos mostram altos e baixos do candidato pedetista, evidenciando indiscutíveis sentimentos de agressividade e desrespeito exatamente contra candidatos que estão com intenção de voto acima de seu percentual, como forma de mera destruição moral não somente do presidencial adversário, mas também dos respectivos eleitores, como se eles fossem representantes políticos e eleitores sem decência e sem dignidade, naturalmente elegendo os eleitores dele como sendo os verdadeiros brasileiros, dando a entender, inclusive, que somente para estes o pedetista iria governar, caso fosse eleito, fato que demonstra não somente brutal erro crasso, mas injustificável desprezo à dignidade daqueles eleitores e candidatos.
É evidente que tem sido normal os candidatos presidenciáveis fazerem denúncias e acusações aos adversários políticos, com ressalva aos eleitores, mas desta feita, o candidato pedetista extrapolou o senso do racional e da razoabilidade, ao qualificar os eleitores que não votam nele como sendo indecentes e não darem valor ao trabalho, conquanto estes são insensatos e capazes de eleger o representante do “fascismo” ou de quem gosta de “premiar todas as contradições gravíssimas do PT”, em indiscutível demonstração da mais agressiva forma de irresponsabilidade sobre avaliação quanto ao pensamento político dos eleitores brasileiros, que certamente não merecem juízo de valor da pior manifestação de candidato que ainda não fez por merecer a confiança e a credibilidade dos eleitores, caso em que já estaria disparado na liderança da preferência eleitoral.   
Ou seja, o candidato pedetista comete lamentável juízo de valor sobre os eleitores brasileiros, os classificando erroneamente de decentes e indecentes, trabalhadores e não trabalhadores, em explícito e claro menosprezo ao Estado Democrático de Direito, em que cada brasileiro tem direito à livre escolha de credo, ideologia política, relacionamento social e principalmente eleger os candidatos da sua preferência, não importando quais sejam as suas bandeiras políticas, porque pensar diferentemente disso, como ele fez, é demonstração não somente de lamentável retrocesso político, mas sobretudo de desrespeito à individualidade social e à liberdade da mais autêntica expressão democrática e republicana, própria dos países civilizados e evoluídos, em termos políticos. Acorda, Brasil! 
Brasília, em 17 de setembro de 2018

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