quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Convite à sensatez


A garantia na urna eletrônica, no segundo turno, já havia sido contabilizada como certa bem antes da agressão sofrida pelo presidenciável ultradireitista, conforme mostravam os resultados das pesquisas de preferência de voto, ante a larga margem da sua diferença para o seu seguidor.
Até àquela cáustica ocasião, o deputado federal fluminense já se mantinha, na média, na proximidade dos 20% nas pesquisas, com indicação de que não haveria maiores dificuldades para ele se manter na liderança da preferência dos eleitores pesquisados, ou seja, tudo indicava que ninguém teria cacife para ultrapassá-lo, confirmando e garantindo assim uma das duas vagas para o importante e decisivo segundo turno.
Certamente que a segunda vaga, naquela altura da campanha eleitoral, estava sendo disputada por um dos três presidenciáveis vindos logo atrás dele, mas, depois dessa tragédia, que houve a transformação de mero discurso de campanha em dura realidade de brutal violência, quando antes se insinuavam que ele era o radical nessa história, que também tinha a fama de ser intransigente e outras possíveis adjetivações um tanto quanto injustas atribuídas a ele, isso certamente pode ter caído por terra, porque a agressão veio justamente da parte insatisfeita com o desempenho dele na disputa ao Palácio do Planalto, i.e., da oposição ainda não identificada pela polícia.
Ou seja, em termos de avaliação política, esse episódio pode refletir em importante benefício por parte do presidenciável agredido mortalmente, caso ele tenha o mínimo de competência para a devida exploração do caso, tão somente com o puro viés de sentimento humanitário, que assim precisa ser, ao invés de tentar alguma forma de revide ou revanche, como é próprio dos insensatos, mesmo que por meio da verborragia decrépita dos homens públicos incompetentes e aproveitadores, porque, agindo em sentido contrário à racionalidade, isso apenas tem o condão de acirrar ainda mais os ânimos que já atingiram o ápice de onde jamais deveria ter chegado, caso os protagonistas envolvidos tivessem o mínimo de tolerância e sensibilidades política e humanitária.
Não há margem para dúvidas de que, no calor da ferrenha disputa, os opositores do presidenciável abatido momentaneamente pela violência, com destaque da esquerda mais virulenta, resolveram entrar na divisão dessa rixa centralizada no abominável radicalismo que se encaminhava para o exacerbado e indesejável nível que chegou, com essa inaceitável barbárie.
À toda evidência, aquele que tinha a pecha do apego ao radicalismo, de repente, foi transformado em real vítima da truculência que jamais deveria ter saída do controle da racionalidade e do bom senso, tendo em conta que a violência nunca foi bom referencial para a iniciativa do entendimento, da paz e da harmonia entre os homens.
Essa guerra de opiniões entre torcidas e seguidores, que apenas acaba de começar, pode ter criado, involuntariamente, um presidenciável mártir, como resultado impossível da luta absolutamente injustificável existente entre “nós” contra “eles” e vice-versa, que não se harmoniza com o sentimento de democracia moderna.
Na verdade, os novos resultados das pesquisas realizadas depois do degradante ataque, já mostram que o candidato agredido foi duplamente beneficiado, quando houve subida na preferência por ele dos eleitores e ainda e descida do percentual de rejeição ao seu nome, fatos que indicam mais simpatia e menos repúdio à sua candidatura, contando pontos favoráveis, mesmo graças à tragédia anunciada.
Por certo, ainda existia muita gente que estava com receio e até indecisão, pode ter aproveitado o fator atentado para decidir, enfim, em mandar seu voto ao presidenciável que  tem sido adorado por uns e odiado por outros, certamente porque ele não tem conseguido, como devia, explicar seus defeitos, com destaque para o que dizem sobre ele, de homofóbico, racista, misógino e de muito mais outras tantas adjetivações que são capazes de afastar dele parcela expressiva de eleitores que poderiam levá-lo ao Palácio do Planalto, já no primeiro turno, se ele fosse candidato mais cordado, palatável e despojado da arrogância que não comportam no histórico de grandes e sensatos estadistas.
É muito provável que o presidenciável carioca ainda não tenha sido devidamente alertado de que o dono da poltrona número um do país, necessariamente, depois de eleito, assume a importante responsabilidade de presidir os destinos de todos os brasileiros, independentemente de ideologia, direita, esquerda, credo, raça ou o que for, em termos de preferência, porque, a partir de então é preciso se pensar apenas na solução dos gravíssimos problemas do Brasil, de interesse de todo seu povo, sem qualquer distinção.
O fato é que, antes do acidente em comento, o presidenciável  carioca, até poderia vencer ou superar os adversários no primeiro turno, mas teria enorme dificuldade para vencer no segundo turno, porque as pesquisas apontavam que ele perderia facilmente para qualquer um de seus opositores, em razão da enorme rejeição ao seu nome.
Ao que se percebe, esse quadro ganhou novo contorno, diante da comoção causada no seio dos eleitores que defendem o clima de harmonia e tolerância, em total reprovação à tresloucada ação de violência à democracia e à humanidade, que realmente somente teve o condão de mostrar que o homem ainda precisa evoluir bastante para compreender que a graciosa violência ainda pertence ao mundo da irracionalidade e da involução da espécie, por mais que se tentem justificar a violência pela simples violência.
É preciso sim que o presidenciável agredido, os partidos que o apoiam, os colaboradores de campanha, as cabeças pensantes e responsáveis por seu assessoramento, enfim, seus seguidores se unam com o propósito, o sentimento uniforme para entender que a lastimável agressão em apreço aconteceu como especial alerta de que tragédia pior poderia até vir a acontecer, com consequências da maior gravidade para a sociedade, em razão da insensata e crescente escala de insultos e ódio entre adversários.
Importa assinalar a insensatez e a insensibilidade do presidenciável agredido fazendo seu gesto peculiar, com as mãos, na maca hospitalar, tão logo teve alto da UTI, como se estivesse em posição de tiro, porque esse fato, por si só, representa a sua reafirmação de beligerância, que não condiz com o momento em que foi gravemente ferido, graças às suas absurdas ideias de armamento da população, quando se sabe que é muito mais sensato o devido aparelhamento do sistema de segurança pública, de incumbência do Estado, com mecanismos próprios de eficiência e competência, por meios suficientes de efetivo, material e preparo, para desarmar os bandidos ou impedir que eles andem armados.    
Diante dos fatos degradantes e dos estragos havidos, vitimando o próprio presidenciável, é de se supor que as importantes lições aprendidas, se é que se pode inferir do resultado de tragédia, sejam aproveitáveis em benefício da cidadania, no sentido de que algo especial e racional deva ser feito, no resto da campanha eleitoral, para transformar os ensinamentos hauridos em benefício da democracia e da sociedade, por meio de ações efetivas e construtivas de disseminação de bons exemplos, com atos e gestos somente de aproximação e acolhimento das pessoas, não importando as suas ideologias, com embargo de menções às lutas armadas, acrescido do repúdio às maldades vindas de quem quer que seja, porque os atos e fatos contrários à dignidade, à moral e aos saudáveis princípios democrático e republicano não passam despercebidos da lupa da população honrada e digna, que anseia pela moralização do país, a qual certamente saberá opinar, nas urnas, pelo melhor caminho a ser destinado aos brasileiros. Acorda, Brasil!
Brasília, em 13 de setembro de 2018

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