sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Influência ilegítima do presídio

O candidato do PT à Presidência da República afirmou, em entrevista ao Jornal da Globo, que o seu crescimento recente nas pesquisas eleitorais não ocorreu só por causa do apoio do político preso.
Ele entende que, se "Fosse só isso, haveria transferência para todo lugar onde ele apoia – e não funciona automaticamente", embora ele reconheça que "obviamente o presidente Lula é quem mais encarna esse projeto". 
Trata-se de afirmação para lá de incoerente e desproposita, em termos políticos, levando-se em conta que as pesquisas realizadas anteriormente, quando o titular da chapa petista era ainda o todo-poderoso, o atual candidato, quando colocado na agenda da pesquisa, o muito que ele conseguia eram míseros 4%, diferentemente dos possíveis 16% referentes ao resultado de agora, o que significa que ele apenas tenta relativizar, de forma claramente desprezível, a participação do político mais importante do seu partido, não assumindo situação verdadeira que não tem como ser dissimulada, porque os fatos falam por si sós.
Esse fato não condiz com o que realmente vem acontecendo, haja vista que a imprensa já vinculou a transferência de votos à futura ingerência que o político preso certamente teria em eventual governo petista, dando a entender que o candidato seria apenas mero fantoche, pessoa mandada para cumprir ordens superiores, não tendo a menor personalidade como homem público, o que se confirmaria apenas os 4% de preferência do eleitor e que o restante pertence mesmo ao homem forte do partido.
Essa candidatura inventada pelo patrono do PT sinaliza para a indiscutível ideia de que tudo não passa da implementação de estratégico e maquiavélico projeto arquitetado pelo líder-mor, como forma de mostrar ao mundo o seu poder e a sua influência políticos.
Além do mais, esse projeto, que é basicamente concentrado na influência do principal político do PT, não passa de demonstração de que o partido pensa tão somente em plena e absoluta dominação das classes política e social, evidentemente na reconquista do poder e na perenidade nele, diante do malogro materializado com o impeachment da afilhada dele, que foi capaz de demonstrar extrema potencialidade de incompetência e ineficiência na administração do país, à vista, em especial, da condução desastrada e fracassada da economia, que apenas patinava, em enorme recessão.
Trata-se, na verdade, de quadro dantesco e surreal, em que um presidiário consegue manobrar de dentro da cadeia, de forma absolutamente patética, o processo político de seu partido, em evidente estado de desmoralização e decadência que isso deveria representar para o mundo civilizado e sério, em se tratando de atividades políticas que exigem o máximo de observância aos princípios da ética, moralidade, legalidade, honorabilidade, entre outros que não condizem com a representatividade de pessoa encarcerada, que tem enorme dificuldade para compreender o que sejam princípios ético e moral na política.
Por seu turno, o real sentido da segregação prisional funciona, na forma da lei, exatamente como isolamento do convívio social, ou seja, o mundo do presidiário se restringe ao que acontece exclusivamente na sua sela, que é precisamente para não acontecer absolutamente nada, em condições isonômicas com os demais presos, que não têm qualquer regalia, repita-se, de acordo com a legislação que rege o sistema prisional, que fala em cumprimento de pena e isso significa a perda dos direitos de cidadania, tanto nas cercanias do Brasil como do resto do mundo.
O político se encontra nessa lamentável situação justamente por ter praticado atos criminosos, assim entendido com a devida chancela do Poder Judiciário, que, por unanimidade de entendimentos jurisdicionais, deixou de reconhecer como juridicamente válidas as suas contraprovas sobre os fatos denunciados, na forma legal, tendo decidido pela aprovação de sentenças condenatórias, com a sanção de prisão pelo período de doze anos e um mês, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não importando, ao caso, que se trate de cidadão que demonstrava ser amante dos pobres, por ter entendido priorizar, na sua gestão, políticas voltadas para as famílias carentes de ajuda do Estado, entendido assim com o emprego de recursos dos contribuintes e não dele ou do seu partido, cujas medidas foram transformadas, de forma visível, em projeto eleitoreiro em potencial, conforme foi materializado na última eleição presidencial, onde foi constatado que municípios pobres, que são a maioria do Nordeste, deram quase 90% do total dos votos à candidata do partido do governo, sob a garantia da continuidade do Bolsa Família.
Pois bem, o que, na verdade, foi julgado precisamente pelo Poder Judiciário ato de corrupção perpetrado pelo mesmo homem que foi capaz de priorizar aquelas políticas sociais, em concomitância, segundo o veredicto da Justiça, com o recebimento de propina por ele, cujas acusações ele não conseguiu demover pelas vias legais oferecidas no curso constitucional e legal da ação condenatória, tanto é verdade que ele se encontra preso, em cumprimento de pena.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que, sendo atos absolutamente distintos e diferentes quanto aos seus resultados, cada qual naturalmente com as suas motivações, é até possível se lamentar que político com as qualidades dele, vistas assim sob o prisma da parte beneficiada das ações sociais, porque, para os demais brasileiros, ele não fez nada de extraordinário, dissonante do que faria qualquer governante cônscio da sua responsabilidade pública, nas circunstâncias, na mesma situação dele, que era tão somente executar as políticas sociais de incumbência do Estado, tenha que passar por situação tão deprimente para o ser humano.
Não obstante, esse fato, por si só, por mais magnânimo que possa ser assim considerado, não tem o condão de isentá-lo de responsabilidade por seus atos na vida pública e muito menos de responder por eles, na Justiça, quanto mais na parte que não corresponda exatamente com os consagrados princípios da legalidade, moralidade, dignidade, lisura, entre outros que precisam ser observados, com o devido rigor, no exercício de cargo público eletivo.    
A verdade é que, no mundo moderno, com o mínimo de seriedade e civilidade políticas e democráticas, o povo compreenderia de pronto o real sentido da prisão imposta ao homem público, no sentido de que o fato em si demostra, de forma inexorável, que a sentença condenatória equivale dizer que o apenado perde seus direitos políticos e nem por compaixão ele teria condições para participar de quaisquer atividades de natureza política, diante da incompatibilidade de o fora da lei poder influenciar no processo político da maior importância para os interesses da nação, fato esse que põe por terra a tentativa de projeto que tenha a sua orientação ou a sua vontade política, diante de emanação de elementos completamente alienado, por força da lei, do processo político-eleitoral.
Embora venha sendo tratado como mero adágio popular, a verdade é que o povo tem o governo que merece e parece que seja o caso em comento, que teima a confirmar esse sentimento, quando o povo, mesmo sabendo que o político não se encontra apto politicamente, ainda demonstra apoio aos seus projetos políticos, que apenas têm como pano de fundo a pretensão de reconquistar o poder e potencializar as políticas meramente populistas, sem a menor preocupação com planos de governo que possam viabilizar o crescimento econômico do país, conforme o modelo de governabilidade exposto por seu partido.
Por mais que se queira encontrar justificativa para atitude de apoio a político preso, somente se vislumbra alternativa possível para tanto sob o prisma da compreensão e do sentimento humanitários e jamais acerca do sentido da prisão em si, que até ela pode ser considerada injusta, por algumas pessoas, à vista da grandeza e da relevância políticas da pessoa envolvida, mas isso não esteve em julgamento pela Justiça nem faria sentido, conquanto a sua prisão é decorrente de prática de atos contrários à administração pública.
O certo é que o esforço do político preso não foi suficientemente capaz para provar a sua inculpabilidade quanto aos fatos denunciados à Justiça, o que vale dizer que o cumprimento da pena condiz exatamente que ele precisa se enquadrar aos ditames legais, no sentido da normal “quarentena” política e da preparação dos imprescindíveis elementos recursais, nas instâncias judiciais, legalmente adequadas para se contestarem os procedimentos adotados no caso, na busca da sua inocência.
Enquanto isso, os brasileiros precisam refletir sobre a necessidade de valorização dos interesses nacionais, mostrando, por meio de ações efetivas, que é importante se empenhar no apoio aos mecanismos de combate às práticas de corrupção e à daninha impunidade, com a negação de apoio a quem se encontra condenado e preso, porque agindo assim os políticos inescrupulosos e aproveitadores possam perceber o expressivo repúdio a quem deixa de seguir a conduta retilínea ditada pela imaculada cartilha dos bons e honestos homens públicos.    
É preciso se ressaltar que essa forma de política, de estrita harmonia com a linha populista, em que o povo, por meio desse sentimento, sem os menores pudores ético e moral, formaliza apoio a homem público excluído momentaneamente do processo político, por força de legislação de regência, apenas pelo sentimento de reconhecimento, gratidão ou recompensa, independentemente da prática política, somente encontra paralelo no Brasil, o que é bastante lamentável que isso ainda possa ocorrer na atualidade, quando a humanidade vem se esforçando ao máximo para alcançar níveis de moralidade e dignidade compatíveis com os princípios de decência e civilidade, porque é exatamente assim como devem proceder os cidadãos de bem e honrados. Acorda, Brasil!
           Brasília, em 21 de setembro de 2018

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