O
cenário político atual, que vem sendo delineado por meio das pesquisas de intenção
de voto, mostra sombria perspectiva de possível segundo turno da eleição
presidencial, a ser disputado entre extremistas dispostos a seguirem em frente
sem qualquer perspectiva de acordo político, com vistas à obtenção do
indispensável consenso nacional.
Esse
fato contribuiu para a antecipada materialização da temida - pelo menos por
parte dos demais candidatos, que podem ficar à deriva no curso da campanha - estratégia
do que se pode chamar de “voto útil”, que nada mais é do que a intenção de se
votar em determinado candidato, não em razão de suas qualidades e capacidades
político-administrativas, mas sim por ele ser capaz de impedir a eleição de
alguém considerado extremamente indesejado, a exemplo dos candidatos do PSL e
PR, que estão liderando as pesquisas de intenção de voto, com margem de enorme dianteira
dos demais candidatos, dando a impressão de que eles são inalcançáveis e já
estão eventualmente no segundo turno.
Na
prática, esse movimento ganha relevo nas proximidades ou nos últimos dias antes
do primeiro turno ou apenas no segundo turno, em razão da constatação de que
algum dos candidatos ou os dois principais candidatos possam denotar risco ou
perigo para a democracia ou os interesses do país e do povo, recurso que o eleitor
tem feito uso nas últimas eleições.
Essa
forma de votação, com o sentido de protesto e repúdio aos candidatos
indesejáveis, por um lado ou por outro, surgiu, basicamente, a partir do
discurso de radicalização do PT, com seu declarado antagonismo às “elites”,
aliado ao seu comportamento arrogante perante quem demonstrasse repúdio à sua
cartilha de doutrinação antidemocrática e a suas concepções arredias aos
princípios da moralidade e da responsabilidade administrativa da gestão dos
recursos públicos, a exemplo dos famigerados mensalão e petrolão, fazendo com
que o “voto útil” parecesse, se consolidasse e se tornasse praticamente valioso
voto permanente contra esse partido.
Na
eleição de 2016, por exemplo, o “voto útil” ganhou relevo na votação para
prefeito da cidade de São Paulo, quando, de repente, houve enorme indisposição
ao PT e certamente ao então prefeito que é o atual presidenciável do partido,
que foi obrigado a amargar fragorosa derrota já no primeiro turno, pasmem, para
um novato e inexperiente tucano, tendo sido derrotado em todas as regiões da
cidade, inclusive nos redutos petistas.
A
perplexidade ocorreu porque até a véspera da eleição, as pesquisas indicavam eventual
segundo turno entre o tucano e o petista, que havia ganhado energia na reta
final, sem se descartar a possibilidade de vitória do tucano já no primeiro
turno, como de fato aconteceu.
A
chance de se impedir que o PT permanecesse com a sua característica pregação de
intolerância no segundo turno, em razão, principalmente, da igualdade de tempo
de exposição dos candidatos na televisão, nasceu para os paulistanos quando
eles preferiram dar estrondoso corretivo ao petista, exatamente no principal
colégio eleitoral do país, por meio do “voto útil”, que tem muito a ver com a
situação dos indecisos e principalmente daqueles que são radicalmente
contrários do PT.
Desta
feita, a indiscutível radicalização do PT suscitou seu antípoda de extrema perfeição,
o colérico movimento bolsonarista, que tem atraído fiéis e barulhentos
seguidores, os quais estão pouco se importando se o candidato sabe ao menos o
tamanho da encrenca que terá de enfrentar na hipótese de ser eleito presidente
do país, porque o que importa mesmo é que o capitão foi transformado no
verdadeiro paladino do antipetismo, algo de suma importância para a atual
política brasileira.
Não
há a menor dúvida de que o risco do enfrentamento já se tornou cáustica realidade
e o mais perigoso dos cenários já foi inexoravelmente caracterizado, em que os extremos
representam o mais radical antagonismo dos últimos tempos, evidenciando com
isso que a política tradicional cede lugar, em razão da sua quase impotência, por
mais que os envolvidos reclamem desse quadro político de realidade imutável.
A
verdade é que o candidato ultradireitista aparece com incontestável liderança
em plena consolidação, à vista das pesquisas de intenção de voto, enquanto na
sua proximidade surge o candidato petista, que demonstra ter herdado parte
expressiva do capital eleitoral de seu poderoso padrinho.
Em
princípio, o presidenciável carioca demonstra não ser muito favorável ao
diálogo, que é reconhecido como a essência na democracia moderna, enquanto o petista
tem como bandeira projeto liberticida de poder, que encarna o frescor do ranço
da corrupção política e o desprezo pelos fundamentos da economia como método, a
vista do desastre da última gestão interrompida pelo meio do caminho, em muito
boa hora, antes que o Brasil fosse conduzido às profundezas do abismo.
À
toda evidência os referidos candidatos estão na disputa eleitoral muito mais
por conveniência pessoal ou até mesmo partidária e ambos, infelizmente, nada
têm para oferecer como contribuição capaz para solucionar as robustas crises
nacionais.
É
de todos sabido que o ex-capitão já demonstrou que não está nada preocupado com
a sua falta de qualificação e preparo para exercer o cargo presidencial, como
bem demonstra o seu currículo como parlamentar pouco atuante e nada interessado
sobre as questões nacionais
No
caso do petista, sabe-se que ele integra justamente o partido responsável pelo
surgimento das terríveis crises, principalmente a econômica, não tendo o menor
respaldo para garantir absolutamente nada, em termos de saneamento das mazelas
criadas e alimentadas nas hostes de seu ambiente partidário, além de ter sido
considerado um dos piores prefeitos da cidade de São Paulo, tanto que foi
derrotado logo no primeiro turno por um tucano neófito na política.
É
induvidoso de que a participação dos mencionados candidatos não somente enseja
temível guerra ideológica, cuja superação certamente poderá suscitar o agravamento
da já complicada e difícil situação do país, que bem merece urgente e radical
transformação da mediocridade administrativa dos últimos governos em
substancial gestão da coisa pública, sob a tutela de estadista cônscio da extrema
responsabilidade de soerguimento da nação que ainda patina desequilibrada no
lamaçal da incompetência e da ineficiência administrativas.
Não
constitui nenhuma novidade que, a pouco mais de dez dias do primeiro turno, a
campanha pelo “voto útil” se agigante e se torne preocupante tanto contra o
presidenciável ultradireitista como contra o petista ou contra ambos, simultaneamente,
porque parece que essa foi a possível hipótese escolhida na tentativa de que o
pior seja consagrado antecipadamente nas urnas.
Por
via de consequência, não tem nem como se imaginar, por minimamente que seja,
qualquer discussão, que seria essencial, em se tratando justamente de campanha
presidencial, de planos de governo, o que vale dizer que o eleitor, no momento,
é obrigado, nesse ambiente de “voto útil”, a fazer sua escolha não na base, especificamente,
ao que propõem os candidatos, mas sim levando em conta quem teria mais chance
de se evitar desastre ou trágico desfecho eleitoral, evidentemente com
monumental prejuízo para os interesses do Brasil.
Diante
da inevitável degradação da política brasileira, há que se lastimar que, no
calor da campanha eleitoral, para a escolha do mandatário do Brasil, poderia
estar se discutindo equacionamentos dos gravíssimos problemas nacionais e as adequadas
soluções para eles, mas o debate eleitoral foi descambado naturalmente para a
monopolização por ferrenha disputa entre minorias radicais.
É
inevitável o lamento, nesse esdrúxulo cenário de embate político de extremismos
antidemocráticos, por que o “voto útil”, que tem legitimidade, seja utilizado
como remédio no jogo da democracia, nem que seja para agir em punição aos
extremistas e sinalizar para o desejo do restabelecimento do valor do diálogo
político, em benefício do saudável aperfeiçoamento dos princípios democráticos.
Acorda, Brasil!
Brasília,
em 26 de setembro de 2018
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