sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A gravidade das denúncias


Uma guia da Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, onde o médium denunciado por abusar de mulheres faz seus atendimentos espirituais, postou vídeo nas redes sociais em que procura defender seu líder de religião.
A amiga do médium relata como foi sua experiência no centro espírita e questiona a falta de provas sobre os supostos abusos sexuais denunciados por centenas de mulheres, na mídia e também junto ao Ministério Público, que resultaram em fortes mudanças em sua vida, dando por exemplo a cura de câncer de mama e aquisição de um imóvel.
Ela diz ainda que vê no médium acusado de abuso a figura de pai atencioso, generoso, bondoso e afirma que, por ser bastante requisitado, o médium dificilmente fica sozinho em sua sala - local onde teriam ocorrido os abusos denunciados.
Em seguida, a guia diz ter presenciado episódios em que mulheres pediram dinheiro ao médium João de Deus para bancar os custos da viagem a Abadiânia.
Na sua versão, ela teria presenciado três mulheres que teriam prometido entrar na Justiça, por assédio sexual, caso o seu líder espiritual se recusasse a pagar por seu silêncio, mas ela também não apresentou provas sobre esse relato.
Na sua defesa, a amiga do médium disse: "Estou aqui também para dar os bastidores de algumas mulheres em relação ao médium João de Deus. Então, a minha pergunta é: 'Por que você que esconde o rosto, que faz a denúncia, por que quando tudo lhe aconteceu [...] não pediu ajuda a quem quer que seja? Ou quem foi com você? [...] Por que você em vez de procurar a polícia, procurou a rede Globo?".
A aludida guia também questiona a falta de provas materiais contra o médium, tendo declarado, verbis: "Outra coisa, vivemos na era digital, onde podemos gravar uma imagem, gravar um barulho qualquer que seja...Onde estão estes recursos? Onde estão estas provas? Que sejam apresentadas, nós também queremos vê-las. Não esconda seu rosto".
Eis aí questão das mais delicadas tanto para quem acusa, que somente pode contar com a graça da boa vontade dos investigadores, que precisam formar juízo mais com base na quantidade das queixas, porque prova só se houver a geração de filhos ou algo mais plausível, e, no mais, é infinitamente impossível que alguém sozinha com o abusador consiga filmar, fotografar ou gravar algo do gênero, para servir de prova, já que a vítima se encontra sob absoluto controle do molestador, pela proximidade de ambos, no momento que tudo acontece e o médium jamais permitiria que pudesse haver qualquer resquício de provas sobre seu crime.
Vê-se que a defesa em comento se prende tão somente ao fato, basicamente, da cura de sua doença, acontecida justamente com emanação do plano espiritual, como tentativa de ajudá-lo, em termos de testemunha, não ajudando em nada como forma de justificativa para as possíveis maldades perpetradas no plano material, que se robustece a todo momento com a quantidade absurda de mulheres se apresentando para prestarem denúncias contra o médium, que também não tem como provar que é inocente acerca de fatos monstruosos, ainda da maior gravidade diante da sua missão essencialmente voltada para a caridade espiritual, por meio da qual havia as imperdoáveis perversidades contra pessoas inocentes e indefesas.
Nesse caso, não passa de ingenuidade se falar em provas, por mínimas que sejam, diante das circunstâncias de isolamento de somente duas pessoas próximas, uma da outra e molestador não iria facilitar no levantamento de provas contra ele, porque o criminoso sabe perfeitamente que qualquer prova é capaz de decretar o fim do seu império.  
O certo é que ninguém pode fazer juízo de valor sobre fatos que inexistem provas, mas, nas circunstâncias, a quantidade elevada de pessoas, para centenas, que alegam ter sido violentadas e abusadas pelo médium leva à necessidade urgente de investigação profunda de todos os casos vindos agora à tona, diante das fortes suspeitas sobre as semelhanças dos acontecimentos, absolutamente irracionais e injustificáveis, que ninguém se atreveria a se expor se não tivesse o mínimo de plausibilidade.
O questionamento sobre a falta de provas é muito simples de ser explicado, porque o paciente não está autorizado a gravar o seu atendimento e o episódio acontece justamente em circunstância de momento em que a pessoa se encontra sob tensão, com o pensamento completamente voltado para o mundo espiritual, na busca da sua cura, em que prevalece apenas o normal sentimento de que ali somente podem acontecer fatos de pureza, caridade, assistência eminentemente espiritual.
Ninguém, de sã consciência, pode imaginar que algo tão absurdo e estranho como essas investidas diabólicas sexuais possam acontecer em pleno centro espírita, cujo cerne do atendimento se relaciona com a caridade, a ajuda e o amparo para o bem material e espiritual, sem se atentar que poderiam haver consequências são absolutamente imprevisíveis e totalmente fora de controle por parte da pessoa agredida na sua honra, já nesse momento por parte de elemento doente, deformado e monstruoso, estritamente no plano terreno, fato este que contradiz completamente o sentido assistencialista de ajuda, amor e caridade próprios dos sentimentos benfazejos dos espíritos de luz, que trabalham no plano espiritual com o propósito de praticar exclusivamente o bem às pessoas crédulas e de boa vontade.
É lamentável que essa tragédia possa ter acontecido, mas as benfeitorias vindas do plano espiritual, de pureza e bondade, na construção do bem, não podem ser confundidas com os desastres e os horrores protagonizados por quem ainda se encontra no plano terrestre, cujos atos libidinosos e monstruosos são próprios, nesse caso, ao ser humano, cujo autor, se confirmada a sua culpa, precisa pagar por seus gravíssimos pecados, evidentemente se for o caso, depois de devidamente apurados, com a isenção e os critérios segundo o regramento jurídico pátrio, de modo que, enfim, os fatos possam ser aclarados e fundamentados, para o bem da sociedade, porquanto a imagem de pureza do médium somente por milagre será salva, à vista de centenas de denúncias da maior gravidade contra ele.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 14 de dezembro de 2018

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