domingo, 23 de dezembro de 2018

Lamentável tragédia


Um âncora do Jornal da Noite, da Band, teria colocado em dúvida a legitimidade dos depoimentos das mulheres que denunciaram o médium de Abadiânia (GO), tendo afirmado que "entre esses relatos, tem muito trigo e tem também algum joio. Você acha crível mesmo que esse homem molestou 500 mulheres? Aos 76 anos de idade? É preciso mais que hormônios para se crer numa história dessas".
Imediatamente, as críticas surgiram com intensidade e vindas de todos quadrantes nas redes sociais, sendo que uma delas partiu de uma famosa apresentadora do Jornal GloboNews das 18h, que disse que estava "revoltada" com a declaração do colega e, demonstrando que não o perdoaria, o rebateu nestes termos: "É difícil até dizer o que eu sinto quando ouço um comentário como este... Não sei se fico enojada, revoltada ou com pena pela total falta de informação dele.".
Incontinenti e em tom de desabafo, o âncora da Band respondeu as declarações da âncora global, dizendo que "Minha cara Leilane, eu sou daqueles que ainda acham que antes de publicar, é melhor se informar sobre o que você está falando. Lembre-se do Art. 14 do nosso Código de Ética. Se tivesse ligado para mim, como manda a boa norma, teria poupado seu público de tantas asneiras. Eu jamais defendi o cara [João de Deus]. Ele é um estuprador serial. Mas não são nem serão 506 vítimas. A informação está errada. O que nada ameniza os crimes cometidos por ele. Como eu disse, há muito trigo e pouco joio".
Em princípio, o apresentador da Band demonstrou desacreditar que o médium seria capaz de se manter em atividade, em pleno vigor físico, diante da sua idade, histórico horroroso de abusos, dando a ideia de que até pode ter acontecido um caso ou outro, mas jamais a alarmante quantidade para mais de 500 casos, conforme relatos chegados ao conhecimento das entidades incumbidas das investigações pertinentes, a cargo do Polícia Civil de Goiás e do Ministério Público.
Agora, a reação da apresentadora global parece bastante coerente com o sentimento próprio da mulher, que, nesses casos de abuso contra o sexo frágil, é preciso sim de tomar partido, com o devido vigor, no sentido de que haja, em princípio, total aceitação da sociedade para o fim das investigações dos casos denunciados, que certamente serão depurados e avaliados aqueles que realmente são constituídos de robusteza e credibilidade, com vistas à formalização das pertinentes denúncias à Justiça, que há de julgá-los, na forma da lei, com a aplicação, se for o caso, da condenação que corresponder aos crimes assim caracterizados como delitos contra a sociedade, no caso, contra as mulheres abusadas na sua integridade moral.
É evidente que a função do jornalista, no caso de apresentadores dos dois acima identificados, é manter muito bem informado o público e jamais ficarem trocando farpas um contra o outro e vice-versa, porquanto a opinião pessoal tem pouca importância para a formação de juízo da sociedade, quanto mais em relação a esse rumoroso caso de Abadiânia, que tem como cerne a triste história de abusos sexuais protagonizadas por pessoa a quem se acreditava que a sua missão era inconfundivelmente de ajuda, assistência e apoio, no plano espiritual, às pessoas que ali ocorriam, sem jamais se imaginar que algo monstruoso estivesse inserido por traz de todo processo espiritual, em total evidência de promiscuidade, notadamente em desonra da dignidade humana, que, infelizmente, ganhou repercussão mundial.
Ninguém tem o direito de acreditar ou desacreditar nas versões sobre os fatos que vieram à tona, mas convém, por cautela, que as conclusões sobre o seu entendimento tenham por base o resultado das investigações sobre os fatos vindo à lume, porque não passa de achismo acreditar ou desacreditar que o médium seja ou não capaz de abusar de mulheres, principalmente quanto à incidência, se um, dois ou quantos assédios por dia, evidentemente a depender a até mesmo de possível interferência espiritual, conforme foi alegado pelo médium.
É preciso que cada mulher abusada diga o que realmente sabe, até mesmo como forma de aliviar o sentimento retesado de insatisfação, frustração  de não tê-lo dito exatamente na ocasião do infortúnio, que teria o mais correto, mas certamente por ter dúvida se aquilo realmente teria acontecido de verdade, diante não somente da fragilidade da paciente, mas, em especial, da finalidade primacial de ajuda espiritual, que é absolutamente incompatível com abusos dessa ordem material, que tinha por garantia a assepsia de impurezas espirituais, levando as mulheres a acreditar nessa horrível farsa.
          O apresentador se houve com as maiores inexperiência e ingenuidade, ao defender molestador contumaz, mostrando seu total desconhecimento de que o desequilíbrio psicossomático contém inimagináveis variáveis intervenientes e estranhas à normalidade pessoal, sendo que os sintomas podem variar conforme as crises que sobrepõem ao domínio da pessoa, a depender do estilo de vida e das suas idiossincrasias pessoais e espirituais, independentemente da idade de quem se encontra acometido por essa doença, imaginando que seja o caso do médium, que tinha real compulsão pela realização de seus intentos libidinosos com suas pacientes, embora não fosse exatamente esse o seu dever de médium, acreditado pelas entidades espirituais de purificação e bondade, tanto que elas praticavam curas maravilhosas, reconhecidas por legião de seguidores, vinda dos quatro cantos do mundo para ter assistência e saneamento para seus problemas.
À vista do exposto, parece que os princípios do bom senso e da cautela aconselham que é preciso se aguardar o resultado das investigações sobre os fatos denunciados, sempre na esperança de que todos são merecedores de credibilidade, notadamente porque não faria o menor sentido que alguém pudesse ter a irresponsabilidade de fazer denúncia se ela não tivesse o devido fundo de verdade, para se manifestar sobre essa lamentável tragédia social, em que muitas mulheres tiveram suas honras completamente desprezadas, graças ao desequilíbrio de doente mental, que tinha inteligência suficiente para arquitetar planos capazes de se evitar que seus delitos ficassem por tanto tempo sob sigilo absoluto.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 23 de dezembro de 2018

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