Um
âncora do Jornal da Noite, da Band, teria
colocado em dúvida a legitimidade dos depoimentos das mulheres que denunciaram
o médium de Abadiânia (GO), tendo afirmado que "entre esses relatos, tem muito trigo e tem também algum joio. Você acha crível mesmo que esse homem molestou
500 mulheres? Aos 76 anos de idade? É preciso mais que hormônios para se crer
numa história dessas".
Imediatamente,
as críticas surgiram com intensidade e vindas de todos quadrantes nas redes
sociais, sendo que uma delas partiu de uma famosa apresentadora do Jornal
GloboNews das 18h, que disse que estava "revoltada" com a declaração do colega e, demonstrando que não
o perdoaria, o rebateu nestes termos: "É
difícil até dizer o que eu sinto quando ouço um comentário como este... Não sei
se fico enojada, revoltada ou com pena pela total falta de informação dele.".
Incontinenti
e em tom de desabafo, o âncora da Band respondeu as declarações da âncora global,
dizendo que "Minha cara Leilane, eu
sou daqueles que ainda acham que antes de publicar, é melhor se informar sobre
o que você está falando. Lembre-se do Art. 14 do nosso Código de Ética. Se
tivesse ligado para mim, como manda a boa norma, teria poupado seu público de
tantas asneiras. Eu jamais defendi o
cara [João de Deus]. Ele é um estuprador serial. Mas não são nem serão 506
vítimas. A informação está errada. O que nada ameniza os crimes cometidos por
ele. Como eu disse, há muito trigo e pouco joio".
Em
princípio, o apresentador da Band demonstrou desacreditar que o médium seria
capaz de se manter em atividade, em pleno vigor físico, diante da sua idade, histórico
horroroso de abusos, dando a ideia de que até pode ter acontecido um caso ou
outro, mas jamais a alarmante quantidade para mais de 500 casos, conforme
relatos chegados ao conhecimento das entidades incumbidas das investigações
pertinentes, a cargo do Polícia Civil de Goiás e do Ministério Público.
Agora, a
reação da apresentadora global parece bastante coerente com o sentimento próprio
da mulher, que, nesses casos de abuso contra o sexo frágil, é preciso sim de
tomar partido, com o devido vigor, no sentido de que haja, em princípio, total
aceitação da sociedade para o fim das investigações dos casos denunciados, que
certamente serão depurados e avaliados aqueles que realmente são constituídos
de robusteza e credibilidade, com vistas à formalização das pertinentes denúncias
à Justiça, que há de julgá-los, na forma da lei, com a aplicação, se for o
caso, da condenação que corresponder aos crimes assim caracterizados como
delitos contra a sociedade, no caso, contra as mulheres abusadas na sua
integridade moral.
É
evidente que a função do jornalista, no caso de apresentadores dos dois acima identificados,
é manter muito bem informado o público e jamais ficarem trocando farpas um contra
o outro e vice-versa, porquanto a opinião pessoal tem pouca importância para a
formação de juízo da sociedade, quanto mais em relação a esse rumoroso caso de
Abadiânia, que tem como cerne a triste história de abusos sexuais protagonizadas
por pessoa a quem se acreditava que a sua missão era inconfundivelmente de
ajuda, assistência e apoio, no plano espiritual, às pessoas que ali ocorriam,
sem jamais se imaginar que algo monstruoso estivesse inserido por traz de todo
processo espiritual, em total evidência de promiscuidade, notadamente em
desonra da dignidade humana, que, infelizmente, ganhou repercussão mundial.
Ninguém
tem o direito de acreditar ou desacreditar nas versões sobre os fatos que
vieram à tona, mas convém, por cautela, que as conclusões sobre o seu
entendimento tenham por base o resultado das investigações sobre os fatos vindo
à lume, porque não passa de achismo acreditar ou desacreditar que o médium seja
ou não capaz de abusar de mulheres, principalmente quanto à incidência, se um,
dois ou quantos assédios por dia, evidentemente a depender a até mesmo de possível
interferência espiritual, conforme foi alegado pelo médium.
É preciso
que cada mulher abusada diga o que realmente sabe, até mesmo como forma de
aliviar o sentimento retesado de insatisfação, frustração de não tê-lo dito exatamente na ocasião do
infortúnio, que teria o mais correto, mas certamente por ter dúvida se aquilo
realmente teria acontecido de verdade, diante não somente da fragilidade da
paciente, mas, em especial, da finalidade primacial de ajuda espiritual, que é
absolutamente incompatível com abusos dessa ordem material, que tinha por
garantia a assepsia de impurezas espirituais, levando as mulheres a acreditar nessa
horrível farsa.
O
apresentador se houve com as maiores inexperiência e ingenuidade, ao defender
molestador contumaz, mostrando seu total desconhecimento de que o desequilíbrio
psicossomático contém inimagináveis variáveis intervenientes e estranhas à
normalidade pessoal, sendo que os sintomas podem variar conforme as crises que
sobrepõem ao domínio da pessoa, a depender do estilo de vida e das suas idiossincrasias
pessoais e espirituais, independentemente da idade de quem se encontra acometido
por essa doença, imaginando que seja o caso do médium, que tinha real compulsão
pela realização de seus intentos libidinosos com suas pacientes, embora não
fosse exatamente esse o seu dever de médium, acreditado pelas entidades
espirituais de purificação e bondade, tanto que elas praticavam curas
maravilhosas, reconhecidas por legião de seguidores, vinda dos quatro cantos do
mundo para ter assistência e saneamento para seus problemas.
À vista do exposto, parece que os princípios do bom senso e da
cautela aconselham que é preciso se aguardar o resultado das investigações
sobre os fatos denunciados, sempre na esperança de que todos são merecedores de
credibilidade, notadamente porque não faria o menor sentido que alguém pudesse ter
a irresponsabilidade de fazer denúncia se ela não tivesse o devido fundo de verdade,
para se manifestar sobre essa lamentável tragédia social, em que muitas mulheres
tiveram suas honras completamente desprezadas, graças ao desequilíbrio de
doente mental, que tinha inteligência suficiente para arquitetar planos capazes
de se evitar que seus delitos ficassem por tanto tempo sob sigilo absoluto.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 23 de dezembro de 2018
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