Um
senador pelo MDB de Alagoas saiu em defesa do médium de Abadiânia (GO), logo depois
que ele foi alvo de enxurrada de denúncias de assédio sexual contra mulheres.
Em
um primeiro momento, foram somente 10 casos de denúncias, que se tornaram
conhecidas por meio de um programa de televisão, mas, como diz o velho ditado,
onde passa um boi, sempre passa uma boiada, e foi exatamente o que terminou acontecendo,
quando as denúncias, agora já ultrapassam de 500 e muitas das vítimas já
confirmara em depoimentos à Polícia Civil e ao Ministério Público os
maus-tratos do médium.
Para
o político alagoano, na sua ânsia de defesa, o médium de Goiás "Não é o maior problema do Brasil. Não é um
Roger Abdelmassih (referência ao médico paulista abusador de mulheres à
procura de se engravidar) qualquer, e
deve, até pelo menos o trânsito em julgado, continuar curando a sociedade, que
parece mais doente e odienta".
O
senador das Alagoas também afirma que o médium goiano é um "patrimônio nosso, da espiritualidade, da
cura e da crença", evidentemente não enxergando as máculas tão
sublinhados nos seus atos de sublime abusador de mulheres.
O senador alagoano disse que fala com a autoridade e a responsabilidade
de quem fez a Lei Maria da Penha, que cominou com a figura do feminicídio na
legislação e os avanços contra a violência, a pedofilia e todos os crimes do
gênero.
Simplesmente, causa perplexidade à sociedade a insensata mentalidade do
senador alagoano, em achar, em primeiro plano, que a população, e não o médium,
é mais doente e odienta, somente porque mostrou abominação às práticas desumanas
de violência contra algumas de suas pacientes, no tratamento espiritual, como
se o continuado abuso sexual fosse permitido em nome da cura da sociedade, como
forma de recompensa pelo trabalho operado por meio da ajuda espiritual, onde ele,
pelo que faz, merece ser perdoado e compreendido.
Nem se pode dizer que esse político é insensível ao drama da sociedade, por
dá a entender que o médium pode continuar a cometer barbaridades em nome do
trabalho operado por ele, por via das entidades espirituais incorporadas nele,
ou seja, no entendimento do político, o médium não merece castigo por seus
crimes, em razão de ser atribuído a ele a cura de pessoas, quando uma coisa não
tem nada a ver com a outra, mas isso não foi levado na devida consideração pelo
médium.
Diante
da altíssima “credibilidade” do senador alagoano, demonstrada na vida pública,
com o devido e arraigado “zelo” aos princípios do “decoro” e da “moralidade”,
conforme atestam para mais de 15 processos de investigações e denúncias, em
tramitação no Supremo Tribunal Federal, pode-se imaginar que, além de o médium
ser homem de "deus", ele é também homem santo e honrado, nas palavras
do citado político, nada republicano, a ponto de ter a dignidade enxovalhada
por apenas mais de cinco centenas de mulheres, que devem ter, no que se pode
intuir sobre o pensamento pueril do político, aproveitado a fragilidade do anjinho e cometido
abusos contra ele, mas, para não serem castigadas pelas entidades do além, elas
possivelmente estão inventando essa terrível história de que o médio é que
teria sido capaz de molestá-las.
Numa
coisa, o senador alagoano tem razão, ao afirmar que o médium não é o médico
paulista, citado acima, porque este teve monstruosos 181 casos confirmados de
estupros atribuídos a ele, enquanto o abusador de Abadiânia, por enquanto, já contabiliza
mais de 500 denúncias, que ainda podem crescer, e essa diferença mostra a
enorme diferença entre um doente sexual do outro, mas a deformidade de ambos se
assemelha em crueldade contra as suas vítimas, em termos de irracionalidade e
monstruosidade, que, infelizmente, ainda tem gente que o defende, porque doente
é a sociedade, que também é odiosa, possivelmente por repudiar os procedimentos
deformados e abomináveis, tidos por alguns como normais.
É
visível a pobreza moral do Brasil, onde ainda tem político desse quilate como
lídimo representante do povo, o qual nem se toca em responder a montanha de acusações sobre
suspeitas de irregularidade com recursos públicos, cujas ações acerca de suspeitas
sobre a prática de atos nada republicanos, mais precisamente por corrupção na
vida pública, jamais aconselhariam que ele pudesse se manter em atividade pública,
exatamente diante indiscutível incompatibilidade entre os fatos denunciados à
Justiça e os sentimentos de moralidade e decoro ínsitos do exercício de cargos
públicos eletivos.
Com
tanta evidência como essa, nos países sérios, civilizados e evoluídos, em
termos políticos e democráticos, nenhum homem público na situação do senador
alagoano se sustentaria na vida pública, justamente porque, nessas nações, há o
devido respeito aos princípios republicano e democrático da ética, do decoro,
da moralidade, da dignidade no exercício de cargos públicos eletivos.
Nesse
contexto em que político sem condições morais para opinar, por que sem a menor
credibilidade, sobre questão da incumbência da Justiça, suscita-se a ideia
necessária, urgente e prudencial da aprovação de norma jurídica prevendo que o
homem público, com denúncia aceita pela Justiça, fica automaticamente inelegível
e, estando no exercício de cargo público eletivo, é obrigado a se afastar dele
enquanto seu caso não for solucionado, em termos da comprovação da sua
inocência, com a ação transitada em julgado.
É evidente que o político alagoano, por seu histórico negativo com
ligação a processos em tramitação na Justiça, não tem a mínima credibilidade
para se manifestar em defesa de quem está completamente complicado, em termos
morais, que até já se encontra preso, por força exatamente da gravidade das
denúncias sobre casos terrivelmente deprimentes de abusos sexuais contra
mulheres, em ambiente de trabalho espiritual e em nome justamente da cura e da
assepsia das impurezas espirituais, porque as suas características, em termos
de moralidade, não ajudam muito ao médium acusado de incontáveis casos delituosos
contra suas pacientes, que foram molestadas de forma cruel e desumana, salvo
provas em contrário, sendo que cura ou outra forma de trabalho espiritual não
tem o condão de justificar tamanhas irracionalidade e debilidade mental.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 19 de dezembro de 2018
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