Na crônica intitulada “Afronta aos princípios
republicanos“, eu fui levado a fazer importantes conclusões sobre a indicação
do filho do presidente da República, pelo próprio pai, para exercer o cargo de
embaixador do Brasil nos Estados Unidos da América, tendo dito que se tratava
de garoto inexperiente e despreparado para representar o país, em situação tão
especial, a se permitir a ilação sobre o desprestígio não somente da carreira
diplomática, mas do afronta aos princípios da ética e da moralidade, em especial
por se tratar de escolha diretamente pelo pai-presidente em favor de seu filho.
Tendo afirmado ainda que, à toda evidência, com base
no currículo do filho do presidente, que nada foi apresentado de substancial para
a opinião pública, senão a carreira política, a sua formação aponta para desqualificação
plena para o exercício do relevante cargo de embaixador, por mais que se possam
dizer em contrário, sendo inevitável a caracterização pela firme figura do abominável
nepotismo, execrável diante dos saudáveis princípios da ética e da moralidade.
Um sempre atento cidadão, entendendo contrariamente
às minhas conclusões, ponderou que “(...) o cargo de Embaixador é um cargo
político. Eduardo está na política há tempos, foi o deputado mais votado. Dizer
que é um “garoto” despreparado é exagero e preconceito. É o mesmo que pessoas
afirmavam que o Bolsonaro não estava preparado para ser Presidente. É filho
dele, sim, eu penso que ele perde muito em abandonar o cargo de deputado, pois
ele poderia ser um senador ou um governador, pois seu trabalho como deputado é
de ótima qualidade. A carreira diplomática requer capacidade especial e os
diplomatas de carreira irão ajudá-lo. Normal. A Hilare Clinton perdeu a eleição
e foi nomeada embaixadora, eu nunca vi crítica.”.
Eu
peço vênia ao autor da mensagem acima para dizer que, em razão da
especificidade do cargo, a nomeação de embaixador merece ser considerada, em essência,
de natureza técnica, à vista da obrigatória formação da Carreira de Diplomata
do Itamaraty, mediante curso preparatório especifico, longo, intensivo e extremamente
exigido, além da extensa caminhada na preparação para se ficar pronto e
preparado para o exercício das funções próprias de embaixador, de grande
responsabilidade, por representar os altos interesses do Brasil.
Ademais,
é preciso se notar, como fato de suma importância para a precisa definição sobre
o cargo político, é que, nestas condições, quando se muda de governo,
principalmente sendo de oposição, todos os cargos políticos são automaticamente
mudados, sem exceção, como, por exemplo, os ministros, os secretários de Estado
etc., mas os embaixadores permanecem nos seus cargos, exatamente porque eles
exercem funções estritamente técnicas e, se fossem políticas, haveria generalizada
revoada de diplomatas e talvez nem tivesse tanta gente para as mudanças.
É
preciso ficar bem claro que sempre procuro analisar os fatos à luz da realidade,
sob a minha ótica, não cabendo, por questão de princípios, na referida crônica fato
que possa ser considerado exagerado nem preconceituoso, tendo em conta que não
se conhece nada, nada mesmo, em termos de substancialidade do currículo do
filho do presidente, apresentando trabalho, conhecimento, experiência ou resultado
da vida pública, que ele tenha produzido na área própria de embaixador, salvo
poucos meses à frente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos
Deputados, que não tem nada relacionado com o trabalho de embaixada, a
justificar, com tão pouca idade, apenas 35 anos, a assunção do cargo de
embaixador, logo da mais importante embaixada brasileira, como se isso fosse algo
para experiência, brincadeira de aprendizagem no serviço, quando a função trata
de importantes negócios considerados de extremas relevância e responsabilidade.
Convém
se reconhecer o esforço das pessoas que têm capacidade para entender que o
presidente da República seja preparado para exercer o cargo que ocupa, porque
ele próprio sempre dizia que não conhecia as matérias de muitas áreas, assegurando,
em manifestando sincera, que os ministros iriam entendê-las e resolver as
questões pertinentes, principalmente na área econômica, além de, na prática, já
ter comprovado que lhe faltam muitos atributos para ele ser o verdadeiro estadista
que o Brasil precisa e a indicação do próprio filho para embaixador não precisa
dizer mais nada.
Na
minha modesta opinião, posso opinar sobre o presidente porque, na ocasião, ele era
o único em quem eu podia votar, mesmo sabendo que ele não seria meu presidente
ideal, mas, nas circunstâncias, fui obrigado a votar e votarei sempre nele,
desde que não apareça outro candidato melhor, sem desmerecimento aos demais candidatos,
mas isso faz parte da preferência pessoal.
Na
verdade, o presidente tem algumas qualidades, mas precisa ser mais contrito e
compreender que há uma cartilha de manual na Presidência da República que
precisa ser religiosamente observada, em termos de liturgia do cargo, que é o
principal do país e, por isso mesmo, precisa ser valorizado, em termos de
respeito à relevância dele, algo que ele prefere desprezar, talvez na
compreensão de que precisa seguir a moda própria dele, que certamente não é a
mais recomendável.
De
qualquer forma, compete a cada qual interpretar os fatos segundo o seu modo e
de acordo com a sua consciência.
Infelizmente
os meus limitados conhecimentos me permitem opinar como gosto e penso,
respeitando sempre o entendimento das pessoas inteligentes e preparadas.
Com
minhas escusas, mas parece incoerência a afirmação, no caso, de que "A
carreira diplomática requer capacidade especial e os diplomatas de carreira
irão ajudá-lo.", porque isso vale dizer que ele não está preparado
para o cargo e, se estivesse, não precisaria de ajuda por parte dos diplomatas.
Democraticamente
e com base no princípio da razoabilidade, procuro sempre respeitar quem tenha entendimento
diferente do meu, diante do pensamento livre, mas seria bastante interessante
que esse confronto de pensamento tivesse por base algo consistente, como no
presente caso, em que a discordância apresentasse elementos mostrando que o currículo
do filho do presente é invejável e se encaixa perfeitamente nas exigências do
cargo de embaixador e somente ele e mais ninguém tem condições de preencher os requisitos
exigidos.
Em
síntese, não há a menor dúvida de que as pessoas que acreditavam nas mudanças
sentem-se frustradas quando o presidente não tem o menor pudor de encampar
questão polêmica que suscita questionamento sobre nepotismo ou não, que somente
tende a contribuir para contrariar parte da opinião pública que ainda
alimentava o sentimento da palavra mágica de mudança e que ela fosse realmente séria
e não apenas falácia de campanha eleitoral, para conquistar votos e depois se
dizer que há pouca importância para quem discordar da opinião e do entendimento
do presidente.
A
verdade é que, nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos
e democráticos, as promessas de campanha são levadas às últimas consequências,
a exemplo do que aconteceu com o presidente norte-americano, que disse para os
eleitores que construiria o muro da vergonha entre os EUA e o México e a sua
promessa se encontra mais viva do que nunca, mesmo contra tudo e todos, mas,
por último, a Justiça daquele país autorizou que ele investisse maciçamente nessa
obra extremamente absurda, quando certamente têm outras prioridades governamentais.
Mesmo
que o filho do presidente fosse realmente o suprassumo na diplomacia e em tudo
o mais que pudesse dominar melhor do que ninguém os negócios e os interesses do
Brasil, em termos de conhecimento, experiência e tudo que a liturgia do cargo exige,
só em ser filho do presidente e sendo indicado livre e diretamente por ele,
isso é forma explícita de privilégio, de autêntico nepotismo, que as pessoas que
primam pela necessidade da estrita observância dos princípios republicanos não
podem aquiescer, perdendo completamente qualquer sentido da razão o ato
pertinente, em se tratando de país sério e civilizado, porque, certamente, nem
nas piores republiquetas isso pode ser considerado normal nem ética e menos ainda
moral.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 31 de julho de 2019