O
presidente da República disse, ontem, que aguarda "uma sinalização do
povo para tomar providências", a respeito das consequências econômicas
causadas pela pandemia da covid-19, entre elas o aumento da fome e da miséria.
Ao
comentar a atuação do Supremo Tribunal Federal, o presidente afirmou que não
quer brigar com ninguém, mas, segundo ele, "estamos na iminência de ter
um problema sério no Brasil".
O
presidente declarou que "O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu
devo tomar providências. Eu estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque
a fome, a miséria e o desemprego estão aí. Não vê quem não quer".
O
presidente disse, em conversa com apoiadores, na saída do Palácio do Planalto,
que "alguns" pedem providências imediatas, tendo reforçado que
fará "o que o povo quiser" que ele faça.
Em
tom severamente ameaçador, o presidente afirmou: "Amigos do Supremo
Tribunal Federal, daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui. Vi que um
ministro despachou um processo pra me julgar por genocídio. Olha, quem fechou
tudo e está com a política na mão não sou eu. Agora, não quero brigar com
ninguém, mas estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil",
tendo acrescentado que ainda "há tempo de mudar. É só parar,
usar menos a caneta e mais o coração".
Essa
direta advertência ao Supremo Tribunal Federal decorre de o fato de uma ministra
ter pedido ao presidente da Corte para a inclusão em pauta de julgamento referente
à notícia-crime contra o presidente do país, por suspeita de genocídio contra
as populações indígenas durante a pandemia do novo coronavírus.
Outro
fato que também incomodou bastante o presidente diz respeito à determinação de
outro ministro do Supremo, que já foi referendada pelo plenário da corte, para
que o Senado Federal instale Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar a atuação do governo federal
na pandemia.
À
vista dos casos mencionados acima, não há qualquer motivo para que o presidente
se sinta atingido na integridade das funções presidenciais, visto que as medidas
até aqui adotadas pelo Supremo estão em absoluta harmonia com o ordenamento
jurídico pátrio, ou seja, os atos questionados são decorrentes das atribuições institucionais
da corte.
No
caso da instalação da CPI, o ministro apenas atendeu recurso normal de dois
senadores, que alegaram que o presidente do Senado havia engavetado, sem justificativa
plausível, o pedido aprovado por senadores, quando a norma constitucional
determina simplesmente a instauração, quando forem atendidos os requisitos para
isso, o que foi o caso, ou seja, tudo conforme o figurino, no âmbito do direito
do exercício de se recorrer ao Supremo pelos senadores.
No
que se refere à notícia-crime, o Supremo precisa julgar denúncia feita por
parlamentares sobre atos praticados pelo governo, por ação ou omissão, o que
também, nesse ponto, em nada difere da competência constitucional do Supremo,
que não pode deixar de exercer as suas funções institucionais, em razão de incômodos
causados ao mandatário do país, por achar que precisa do apoio do povo para a
prática de possíveis atos discricionários, em retaliação ao Supremo, conforme
consta das suas explícitas intenções, sob a alegação de que o Brasil está no
limite.
O
povo votou nesse cidadão na esperança de que ele tivesse o mínimo de sabedoria e
compreensão sobre a realidade das nobreza e grandeza da responsabilidade de
governar o Brasil, sem o mínimo de sobressalto, a ponto de tentar a criação de
atos de exceção democrática.
Ao
que tudo indica, por enquanto, ele ainda não se conscientizou de que já foi
eleito, mas continua fazendo o pífio papel de candidato presidencial, não
aceitando assumir o trono que, de fato e de direito, é dele.
Não
existe nada mais irracional do que esse anúncio presidencial da espera da
"sinalização do povo" para se agir sobre algo que, à luz do
princípio constitucional da transparência, não faz o menor sentido que seja adotado
às escuras e sem o conhecimento prévio do povo, que tem o direito conhecer as
medidas para então concordar ou não com elas, porque, ao contrário disso, há
flagrante violência ao referido princípio.
O
governo sério, capaz, competente e responsável pelos destinos do país como o
Brasil não tem o mínimo direito de propor medida tão indecente como essa de
querer o respaldo do povo para agir sobre algo tão obscuro quanto às ideias que
estão por trás desse pensamento indecente e indigno, à luz do princípio da transparência,
que é dos pilares da democracia.
À
primeira vista, é lícito se imaginar que essa ideia absurda tenha as piores características
de pensamento revolucionário, respaldado em ato mórbido de exceção, que não se compadece
com os saudáveis princípios democrático e republicano.
A
situação da governabilidade atual do Brasil parece complicadíssima, quando o
mandatário pós na cabeça que espera que o povo diga o que precisa fazer, dando
autorização para agir conforme o seu pensamento, que não deve ser nada salutar
para o interesse público, porque se o fosse ele teria a dignidade de anunciá-lo
previamente para os brasileiros, expondo exatamente o que ele pretende fazer, com
base nas ideias tais e tais.
Infelizmente,
por enquanto, essas ideias só ele e Deus podem imaginar e certamente o que elas
representam, que certamente não serão nada diferentes de vingança, retaliação ou
truculência e, o pior, sem nenhuma responsabilidade pessoal, porque a desgraça,
depois de deflagrada, passaria a ter o respaldo dos ingênuos brasileiros, sendo
muitos dos quais se acham igualmente injustiçados, em apoio ao grande idealista
desse cenário bufo e horroroso.
Senhor
presidente, à toda evidência, o Brasil não está no limite, mas sim o seu nível
de pensamento e tolerância, que pretende agir, com o respaldo do povo, para
praticar ato fora da normalidade e possivelmente em desarmonia com os
princípios democrático e republicano, porque, ao contrário disse, não haveria
necessidade dessa tão sonhada “sinalização”, que tem cara de algo ditatorial, discricionário
e bem estranho aos costumes de civilidade, racionalidade e verdade, estes que
são próprios dos governos transparentes e cônscios da sua responsabilidade
pertinente à administração do país sob equilíbrio e tranquilidade, de modo a
apenas satisfazer aos requisitos de satisfatoriedade do interesse público.
Se
os fatos que incomodam o presidente forem motivados pela fome, a miséria e o
desemprego, como alegados por ele, não haveria, por isso, qualquer necessidade
para que o presidente dependesse da sinalização do povo para agir, porque ato visando
ao saneamento de questão com essa origem não precisa do aval do povo, porque
ele já integra o rol das suas atribuições presidenciais, o que, se isso é
verdade, somente haveria a confirmação da incompetência gerencial do mandatário,
que precisa agir com urgência nas situações difíceis colocadas no seu governo.
Contrário
senso, causa enorme perplexidade o presidente do país alegar que espera a “sinalização
do povo” para agir, porque isso acena para medidas nada agradáveis, diante de o
fato de nem os generais terem concordado com elas, à vista da recente exoneração
de altos comandos das Forças Armadas, que não aceitaram a absurda politização
pretendida por ele, que vem certamente engendrando iniciativas nada republicanas,
à vista do seu sentimento externado para o seu público alvo, na esperança de
merecer acolhida para algo com ares ditatoriais.
Com
a negação das Forças Armadas ao inaceitável plano revolucionário em curso, o
presidente houve por bem mirar como alvo o povo, para obter dele o aval para a implementação
de possível estrepolia que fora rechaçada por quem garantiria a sua “legitimidade”
com base na espada, o que seria bem diferente do que ele pretende agora, por
meio do respaldo do povo.
Em
princípio, há toda pertinência por parte do presidente do país em esperar que a
sua ideia possa ser implementada após a sinalização do povo, porque é
exatamente assim que o governo democrático, competente e responsável procede,
ouvindo o povo, em se tratando de medida da maior importância para o Brasil e
os brasileiros, naturalmente na esperança de que ela esteja absolutamente em sintonia
com os ditames do ordenamento jurídico e os princípios republicano e democrático.
Assim,
convém urgentemente que o presidente do país se conscientize de que o Brasil
precisa retomar os caminhos do progresso e do desenvolvimento socioeconômico,
porém em clima de tranquilidade institucional, com o devido respeito aos atos
praticados pelos poderes da República, em estrita obediência ao ordenamento jurídico
pátrio, conforme compromisso demandado no ato de posse, além da necessidade da
consolidação dos princípios republicano e democrático.
É
extremamente preocupante que o Brasil tenha governante com esse triste e
deplorável sentimento de retaliação, exatamente quando ele, no exato momento,
tem obrigação institucional de priorizar as atenções para o combate à pandemia
do coronavírus, que já foi capaz de matar mais de 360 mil brasileiros, mas essa
tragédia humanitária tem sido incapaz para despertar o mínimo de sentimentos e
preocupação para a mobilização do povo, no sentido de se adotar todas as forças
em conjunto com o resto da sociedade, para, em primeiro plano, se buscar
alternativa de medidas mais efetivas contra a Covid-19.
Diante
da mentalidade nada transparente do presidente da República, concito os
brasileiros cônscios da sua responsabilidade cívica e patriótica, a lançarem
campanha nacional, no sentido de dizer, em alto e bom som, para quem, no
presente momento, tem a esperança de receber do povo não o sinal pretendido
conforme quer, mas sim o de que, à unanimidade, a população deseja que o
governo já deva imediatamente resolver trabalhar em prol da mobilização
nacional contra a tragédia que se abate sobre a saúde e a vida dos brasileiros,
deixando muito claro que, quem tiver com a mente voltada para outros planos, é
preferível que esclareça o quanto antes seus mirabolantes projetos, que, por certo,
são em detrimento da prioridade das prioridades, no presente momento, que é o combate
à pandemia do novo coronavírus.
Brasília,
em 15 de abril de 2021
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