O
presidente da República aproveitou a reunião com empresários paulistanos para xingar
duramente o governador de São Paulo, quando disse textualmente que “O
governador de vocês é um vagabundo, (palavra impublicável)”, segundo relato de
pessoas que estavam no evento.
Outras
pessoas presentes no evento disseram que, segundo o presidente do país, o
referido governador é “um destruidor de vidas e que está acabando com os
empregos ao manter o comércio e os restaurantes fechados no estado de São Paulo.”,
conforme notícia publicada no jornal Folha de S.Paulo.
Segundo
o jornal O Globo, o chefe do Executivo declarou no encontro que espera
que o Congresso Nacional aprove as reformas enviadas pelo governo, tendo
declarado ainda que a pandemia da Covid-19 não pode levar o Brasil à miséria
total.
Em
que pesem as severas críticas do presidente sobre as medidas restritivas adotadas
pelo governador, o estado de São Paulo bateu, ontem, novo recorde de mortes
diárias, por causa da Covid-19, tendo sido registrados 1.389 óbitos pela doença,
em apenas 24 horas.
Os
altíssimos números de óbitos levaram o governo e o Centro de Contingência a
decretarem a "fase emergencial", a mais restritiva do Plano São
Paulo.
Naquele
estado, o Centro de Contingência faz a avaliação da situação da pandemia e encaminha
o resultado ao governador, que decide sobre as medidas a serem adotadas no
combate à doença, sendo que as restrições são aconselhadas segundo o aumento de
mortes e a maior incidência do contágio da doença.
O
governador de São Paulo declarou que as decisões são adotadas segundo as
necessidades recomendadas para o estado e que, de acordo com ele, "Não
cabe aqui fazer avaliação sobre decisão da ciência, eu não interpreto a ciência".
Quanto às declarações do presidente do país, o governador o
respondeu, nas redes sociais, fazendo apelo no sentido de que ele tenha "Calma,
@jairbolsonaro. Além da Coronavac, o Butantan é especialista na anti-rábica (sic).
Fique tranquilo, vou te vacinar".
A
propósito, a vacina antirrábica humana serve para prevenir a raiva em pessoas
mordidas por animais, em especial cães e gatos.
A raiva é
uma doença que afeta o sistema nervoso central, levando à inflamação do cérebro
e geralmente pode resultar em morte da pessoa infectada.
Não
há a menor dúvida de que o baixíssimo nível da interlocução tem como protagonistas
as duas principais autoridades públicas do país que têm a incumbência de cuidar
e combater a mais grave doença que vem abatendo vidas humanas, em escala jamais
vista na história do Brasil, mas nada disso tem sido suficiente para amainar os
ânimos de pessoas que precisam agir com bom senso e racionalidade, diante de situação
extremamente delicada da pandemia.
Isso
por si só pode sim concorrer para justificar a quantidade de mortes que se
acumula no dia a dia, quando essas autoridades não têm a menor sensibilidade
para entender o momento de dificuldade na saúde pública, preferindo ficar
discutindo, em público, sobre algo absolutamente estranho às causas do maior infortúnio
humanitário.
O
dever institucional dessas autoridades é exatamente o de estarem unidos, de
mãos dadas, discutindo, implantando e executando medidas urgentes e necessárias
ao extermínio ou até mesmo o estabelecimento ou a minimização de tanta desgraça
contra a vida humana.
O
pior é que tem sido sintomático que o presidente do país fique alegando o caos
para o Brasil, quando ele afirmou que a pandemia da Covid-19 não pode levar o
Brasil à miséria total, dando a entender que tem sido o desejo de muita gente,
exatamente diante da falta de iniciativa por parte de quem tem o dever de
coordenar e liderar a criação de ideias e planejamento das medidas indispensáveis
ao saneamento das questões nacionais, inclusive no que se refere aos problemas
inerentes à saúde pública.
A
verdade é que o Ministério da Saúde é o principal órgão do governo que tem a
primordial incumbência de trabalhar e apresentar importantes contribuições ao
combate da pandemia do coronavírus, mas, infelizmente, a sua participação como
agente vital contra a terrível doença tem sido extraordinariamente invisível,
quase que nula, ressalvadas as medidas absolutamente necessárias, no âmbito de
recursos financeiros e outras não relacionadas com a saúde.
O
que se esperava daquele órgão, diante da sua especialização propriamente dita,
que diz respeito diretamente à saúde pública, era precisamente a sua efetiva participação,
em caráter de urgência, urgentíssima, especialmente porque não faz o menor
sentido que órgão com a estrutura de ministério fique apenas acompanhando
acontecer a maior tragédia na sua área e nada fazer em benefício ativo da
população, à vista da sua indiscutível acefalia por quase um ano e isso
representa gravíssimo prejuízo ao interesse dos brasileiros.
Enfim,
a alegação de fato relacionado com a miséria acena para situação lastimosa, em
que o presidente dá a entender antevisão de desastre à vista, como sendo o visionário
do Apocalipse, a se demonstrar absoluta impassividade diante de suas terríveis projeções
catastróficas, não esboçando, ao contrário, qualquer iniciativa para impedir o
caos, como maneira esperada e razoável para combatê-lo, em defesa do interesse do
Brasil e dos brasileiros, o que só evidencia seu sentimento de alardeador de
fatos impossíveis e desnecessariamente alarmantes e intranquilizadores, que somente
contribuem para desestabilizar o ânimo e o desempenho da economia e do próprio
progresso do país.
À
toda evidência, fica patente a total inconformidade dos pronunciamentos desairosos
de governantes de relevância nacional, ante a gravíssima situação da saúde
pública nacional, que implora, em vão, para a convergência de vontades e
interesses dos governantes da federação, para, ao menos, a discussão de medidas
visando ao enfrentamento contra a pandemia do coronavírus, algo que poderia
contribuir decisivamente para justificar o mínimo de sensibilidade para com os
princípios humanitários, que foram, à vista dos fatos, relegados a planos secundários,
à custa de possíveis causas indefensáveis, em termos do interesse público.
Os
brasileiros, a par de repudiarem o deselegante comportamento de homens públicos,
pugnem por que, neste momento extremamente delicado da pandemia do novo
coronavírus, os governantes do país se dignem somente à preocupação com as urgentes medidas que visem
ao efetivo tratamento e combate à doença que já ceifou muitas vidas, o que já é
motivo mais do que suficiente para que a sensibilidade de autoridades públicas possa
compreender a real importância de se deixar de lado, momentaneamente, desavenças
e interesses políticos.
Brasília,
em 9 de abril de 2021
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