domingo, 25 de abril de 2021

Respeito à dignidade pública?

         É evidente que ninguém tem o direito de criticar as pessoas por suas preferências ideológica, religiosa, política etc., porque isso seria desrespeito ao sentimento e à intimidade pessoais, que fazem parte do patrimônio de cada cidadão, diante da livre manifestação de escolha e preferência comportamental de cidadania.

Ou seja, cada pessoa é livre para exercer a sua vontade de expressão e pensamento e ninguém tem nada com isso, porque cada qual assume as suas posições dentro da sociedade.

Agora, não deixa de ser sintomático, conforme se verifica nas redes sociais, muitas pessoas ficarem se manifestando favoravelmente e até defendendo políticos que se envolveram ou foram implicados em casos de irregularidades com recursos públicos, estando ainda extremamente complicados, em termos de moralidade e dignidade, ante às exigências que são próprias quanto à imperiosidade de conduta ilibada, imaculada, acima de qualquer suspeita, no âmbito das atividades político-administrativas.

A impressão que deflui é a de que todas as pessoas que se manifestam abertamente em defesa de políticos importantes que estão, de alguma forma, envolvidos ou implicados com a Justiça aparentam estar em plenas lucidez e consciência das suas faculdades mentais e intelectuais, embora não denotem o mínimo de sensibilidade em defender seus ídolos, completamente sujos, mal lavados ou maculados pela suspeita da prática de atos que envergonham e são capazes de reduzir a sua dignidade ao nível mais vil da criatura política, tornando-se, à luz dos princípios da ética, da honorabilidade e da moralidade, indignos de ser lembrados como homens públicos, enquanto não demonstrarem, à saciedade, a sua inculpabilidade, em relação aos casos inquinados de irregulares, cuja autoria é atribuída a eles, por força de investigações autenticadas pela Justiça.

A severa restrição que aqui se coloca diz respeito precisamente com relação aos casos em que a Justiça reconheceu e acolheu as investigações indicando a constatação da prática de atos sobejos de irregularidade, porque isso já é mais do que suficiente para que as pessoas honradas e conscientes sobre a importância dos valores da dignidade e da moralidade entenderem que não podem simplesmente desprezar a gravidade que isso representa para o exercício de atividades públicas, que pressupõem que as pessoas estejam no estado de graça da imaculabilidade e inume às suspeitas de qualquer forma de envolvimento com irregularidade com recursos públicos, posto que nem precisa terem sido condenadas pela Justiça, porque o sentido de ficha limpa é o de terem conduta acima de qualquer suspeita, o que não o caso de muitos políticos que não conseguem provar a sua inocência nos casos denunciados.

Em outras palavras, o homem público precisa ser modelo de dignidade e honorabilidade, para ter condições de exercer cargos públicos ou se manter na vida pública, ante as exigências de conduta ilibada e folha corrida bem limpinha, porque o contrário disso apenas significa o desrespeito aos saudáveis princípios de decência, moralidade, correção, que são os pilares da administração pública.

É possível que os idólatras desses políticos denunciados na Justiça, pela suspeita da prática de atos irregulares, acreditem, no seu íntimo, que eles são inocentes e pessoas dignas da sua credibilidade, o que até possa justificar, para elas, a defesa intransigente da volta delas à vida pública, mas é preciso convir que se trata de opinião pessoal que não pode sobrepor ao sentimento das demais pessoas, que têm os mesmos direitos de pensar e precisam ser respeitadas, principalmente no sentido de que a representatividade política deve ser exercida somente por quem preencher os requisitos da imaculabilidade na vida pública, devidamente comprovados, não cabendo outra interpretação.

Com todo respeito às pessoas que não têm o menor escrúpulo em defender a livre representatividade política de quem se encontra implicado com a Justiça, exatamente porque isso não encontra legitimidade nos consagrados princípios republicano e democrático, que exigem a participação no jogo político somente daqueles que estejam em poder da ficha limpa, com relação às suas atividades na vida pública, o que, repita-se, à toda evidência, não é o caso de muitos políticos que estão sendo defendidos nas redes sociais, porque eles são indignos de representar o povo, em termos políticos.

As questões que se relacionam à honestidade e à moralidade, principalmente quando há o envolvimento de homens públicos, precisam ser cuidadosamente analisadas, tanto pelo interesse da nacionalidade como tão somente diante do viés da ideologia, a se considerar que o político pode ser confiável sob a ótica pessoal, mas isso não corresponde bem para muitos brasileiros, o que vale se afirmar que a visão ideológica pode ser diametralmente diferente e contrária ao ideal do sentimento que se nutre no sentido de que o Brasil seja verdadeiramente passado a limpo, não se permitindo a participação de quem já demonstrou, na prática, o cometimento de atos indignos e reprováveis ao interesse público.

Não faz o menor sentido, porque isso só pode ser desvio de mentalidade, completamente desfocada da realidade, sabendo-se que o líder do governo que protagonizou horrorosos escândalos de corrupção, a exemplo dos famigerados esquemas do mensalão e do petrolão, seja simplesmente exaltado e endeusado, na atualidade, sem o menor critério de avaliação, ante os princípios ético e moral, em especial, como homem público modelo para governar o país com a grandeza econômica e social como o Brasil, depois do seu envolvimento em denúncias da prática de ato de irregularidade, com sede em desvio de bilhões de reais de cofres de empresas públicas, a exemplo da Petrobras, atos estes absolutamente comprovados, tanto é verdade que vultosas quantias já foram devolvidas aos cofres da petrolíferas.

Caso esse líder político tivesse o mínimo de sensibilidade sobre a importância de voltar às atividades políticas, depois inclusive de ter sido preso, em condenação por crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, quando não conseguiu provar a sua inocência perante a Justiça, com relação aos fatos denunciados, que são da maior gravidade para quem pretende voltas à vida pública, diante da necessidade da comprovação de conduta ilibada e ficha corrida limpidíssima, que é algo que exige que ele se esforce em provar a sua inculpabilidade quanto aos processos em tramitação da Justiça, porquanto, nas condições atuais, não passa de extrema desmoralização tanto para as pessoas idólatras e sabujos de político que se mostra, de maneira indiscutivelmente indigna de representar o povo, como para ele próprio, que precisa provar para os brasileiros honrados a sua lisura na vida pública, em condições normais de exercer cargo público, quanto mais da maior importância de presidente da República.

É forçoso o reconhecimento de que o arraigado sentimento ideológico possa contribuir para tornar pessoas completamente cegas, evidentemente impedidas de enxergar a realidade sobre os fatos, a exemplo do que acontece com o envolvimento de políticos em casos de corrupção, que, mesmo assim, ainda têm o merecimento do apoio político, mesmo que eles não tenham conseguido provar a sua inocência perante a Justiça, fato este que permite se intuir sobre a necessidade do imperioso respeito aos brasileiros que têm como válidas e verdadeiras as denúncias sobre a prática de atos irregulares, enquanto eles não forem infirmados e isso leva à recusa na vida política de quem estiver sob suspeita do desvio da moralidade pública.  

Enfim, é extremamente decepcionante que as pessoas, muitas das quais militantes da vida pública, aparentemente normais, responsáveis e intelectuais, em termos cívicos, se prestem ao ridículo de defenderem o político com os predicativos extremamente maculados por acusações sobre a prática de irregularidades, pelo menos de que os desgraçados citados esquemas do mensalão e petrolão realmente aconteceram no governo dele, conforme provam as investigações, julgamentos e sentenças proferidas pelo Poder Judiciário, o que já são mais do suficientes para que as pessoas nessas condições não tenham mais o mínimo de credibilidade para representarem o povo em atividade da maior relevância político-administrativa.

Essas pessoas que ficam defendendo políticos sem a mínima qualificação de moralidade, dignidade e responsabilidade perante a administração pública, à vista dos fatos investigados e das provas materiais robustamente acostadas aos autos, precisam se conscientizar de que os brasileiros honrados merecem o devido respeito, em especial porque eles têm o direito de desejar que o Brasil seja a República onde prevaleçam firmes e consolidados os princípios republicanos da moralidade, da dignidade e da legalidade, não se permitindo mais que a depravação administrativa volte a ter vez, como no passado recente, onde o câncer da corrupção campeou banalizada na vida pública, ainda com o beneplácito desses brasileiros cegos pela ideologia, que são capazes de endeusar políticos consagrados por atos indignos de desvio de recursos públicos, conforme os fartos registros da história brasileira.             

          Brasília, em 25 de abril de 2021

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