Conforme estudo recém-publicado na revista
científica Science, o governo brasileiro cometeu grave erro no combate à
pandemia da Covid-19.
Os pesquisadores apontam fracasso do combate ao
vírus, por parte do governo, tendo constatado o eles chamam de “combinação perigosa
de inação e falhas, como o uso de tratamentos sem eficácia comprovada e a falta
de coordenação nacional entre os diferentes níveis de governo.”.
Os cientistas disseram que, “No Brasil, a
resposta federal foi uma combinação perigosa de inação e erros, incluindo a
promoção da cloroquina como tratamento, apesar da falta de evidências
científicas”.
A pesquisa aponta que o fracasso em combater o
vírus vai facilitar o surgimento de novas variantes, isolar ainda mais o Brasil
como uma ameaça à saúde global e “levar a uma crise humanitária
completamente evitável”.
Uma pesquisadora e professora da escola de
políticas públicas da Universidade Harvard, que participou do estudo, falou
sobre como a falta de alinhamento político prejudicou o combate da pandemia no
Brasil, ao afirmar que “Fica muito claro que em um contexto de extrema
desigualdade social é absolutamente fundamental que a ação seja coordenada. E
no caso do Brasil, seguindo o pacto da saúde que foi estabelecido com o SUS. A
ação precisa ser coordenada de tal forma que municípios possam implementar um
plano nacional, com apoio do estado e do governo federal”.
O estudo cita cinco motivos para a propagação do
vírus nos estados brasileiros: a) o Brasil é grande e desigual, com
disparidades em quantidade e qualidade de recursos de saúde (por exemplo,
leitos hospitalares, médicos) e renda; b) uma densa rede urbana que conecta e
influencia os municípios por meio de transporte, serviços e negócios não foi
totalmente interrompida durante picos de casos ou mortes; c) o alinhamento
político entre governadores e presidente teve um papel no momento e na
intensidade das medidas de distanciamento e a polarização politizou a pandemia
com consequências para a adesão às ações de controle; c) o SARS-CoV-2 estava
circulando sem detecção no Brasil por mais de um mês, resultado da falta de
vigilância genômica bem estruturada; d) as cidades impuseram e relaxaram
medidas em diferentes momentos, com base em critérios distintos, facilitando a
propagação do vírus; e) os pesquisadores fazem um apelo e pedem ações de
medidas para tentar frear o vírus.
Os cientistas propõem que o governo brasileiros observe,
com rigor, o seguinte: "Sem contenção imediata, medidas coordenadas de
vigilância epidemiológica e genômica e um esforço para vacinar o maior número
de pessoas o mais rápido possível, a propagação da P.1 provavelmente vai emular
o padrão mostrado aqui (no estudo), levando a uma perda de vidas
inimaginável".
De acordo com os estudos em referência, o governo brasileiro
simplesmente não teve a mínima preocupação em combater a Cavid-19 com a devida
seriedade, principalmente no que diz respeito à coordenação centralizada das políticas
necessárias, que realmente inexistiu e ainda não tem nada nesse sentido, o que
demonstra indiscutível desinteresse na solução de questão que teria enorme
relevância para a vida humana, que certamente poderiam ter contribuído para se
evitar milhares de perdas de vida, uma vez que a omissão, com relação a esse
caso, pode sim ter causado danos irreparáveis a muitas vidas.
É extremamente lamentável que o governo tenha
preferido abdicar da sua obrigação institucional de coordenar as ações de
combate à pandemia, porque a simples existência do Ministério da Saúde já
sinaliza que, em termos de saúde dos brasileiros, compete àquele órgão a incumbência
de centralizar as ações pertinentes à saúde pública, à vista do que consta da
Constituição Federal, no seu art. 196, que diz que “A saúde é direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”.
Nesse aspecto, a responsabilidade do governo fica
mais do que patente, quando ele, de forma deliberada, preferiu deixar aquele ministério
sem o comando de profissional da área médica ou de sanitarismo, o que
certamente teria condições ideais para os devidos cuidados dessa importante política
de centralização das ações da saúde pública votadas exclusivamente para cuidar
de setores importantes do combate à pandemia.
É evidente que, nessa altura da pandemia, quando
milhares de vidas foram perdidas, possivelmente em razão da omissão por parte
do governo, ninguém vai assumir a culpa pela incompetência apontada por pesquisadores
de extrema competência, tendo por base estudos confiáveis, de alto nível.
Não obstante, o estudo em apreço tem importante
valia para mostrar às pessoas defensoras do negacionismo sobre a pandemia que
nem tudo foi feito pelo governo, segundo às normas de conduta saudável e recomendável
para cuidar, com o maior interesse, de doença letal, que, apesar dos pesares,
contra ela somente se faz o estritamente necessário, quando, diante da
gravidade da crise, todas as medidas adotadas ainda são insuficientes para o
tratamento exigido e desejável.
Espera-se que, depois dos gravíssimos danos já
causados à vida humana, o governo brasileiro corra, sem perda de tempo, para a implantação
das medidas adequadas, em conformidade com os abençoados estudos em referência,
como forma de se evitar maiores danos às vidas dos brasileiros.
Brasília,
em 17 de abril de 2021
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