quinta-feira, 29 de abril de 2021

Haverá o despertar da letargia?

 

Nos últimos dias, a cúpula do Congresso Nacional se encontrou com importantes empresários do país, inclusive representantes de bancos e do mercado financeiro, que acenam para movimento político que pode ter reflexo no governo federal.

A inquietação dessas lideranças surgiu basicamente diante das quase 400 mil mortes causadas pela Covid-19 e da situação cada vez mais preocupante e insustentável da economia, que obrigaram os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal a correrem para o afinamento do discurso com a necessidade de conversas sérias e importantes com o presidente da República, sob pena, inclusive, do agendamento de medidas que podem abranger o impeachment dele, caso as conversas fracassarem.

A preocupação demonstrada pelos empresários diz respeito à forte crise sanitária, que tem como consequência o bloqueia de investimentos externos e atinge diretamente os planos de abertura de capital de empresas.

Um deputado esclareceu que “Quem quer fazer IPO não consegue ter grandes resultados, porque ninguém tem segurança de botar dinheiro no Brasil, principalmente pela condição sanitária”.

Os encontros de autoridades e empresários são promovidos uma vez por mês, tendo por principal objetivo a discussão dos principais assuntos estratégicos de interesse do Brasil, com enfoque para as questões que podem impactar a economia, com reflexo nos investimentos e na entrada de recursos.

Segundo se especulam, os dirigentes do Congresso têm se reunido com a Febraban, a Fiesp e outras entidades influentes do país, além de participarem de agendas fechadas em São Paulo com nomes de peso, com vistas às avaliações sobre as atividades capitais para os interesses nacionais.

Os líderes do Congresso, mais especificamente do Centrão, entendem com muita clareza que a sobrevivência do governo depende das mudanças que se fizerem necessárias para o ajustamento das políticas que estão sendo trabalhadas, à vista do atingimento da melhor performance administrativa.

Um empresário afirmou que o objetivo das conversas foi o de se buscar o melhor para a economia, de modo que “O que a gente percebe é um alinhamento entre as duas Casas (do Congresso). E o que é o melhor para a economia? Primeiro, resolver a pandemia. Depois, um país com capacidade de investimento e crescimento. A prioridade é vacinar.”.

Como queixa principal, os empresários sublinharam que “as medidas para conter o avanço da pandemia dependem do Executivo, razão pela qual, desta vez, não há como tratar Bolsonaro como café com leite”.

Em sintonia com empresários, líderes do Centrão afirmaram que, “diante do notório fracasso no controle da pandemia, o presidente do país não terá mais a tolerância do Congresso. Bolsonaro está no fio da navalha. Se a coisa fugir do controle, se ele quiser fazer tudo do jeito dele, fora da ciência, não tenha dúvida de que nós vamos atropelar.”, conforme disse um deputado do Progressistas de São Paulo.

Já outro deputado advertiu que “Ninguém quer afrontar o presidente, mas ele precisa assumir a liderança dentro de uma racionalidade mundial, e não na destemperança da ala ideológica. O impeachment está descartado, desde que ele mantenha esse diálogo construtivo. Se tiver ameaça de choque institucional ou sair da racionalidade no combate à pandemia, ninguém vai pular no buraco com ele, não.”.

O que se percebe é que empresários, banqueiros, economistas – a elite do que se convencionou chamar de “mercado financeiro” – deixaram claro recado ao governo, no sentido de que terminou a paciência, precisando, de agora em diante, colocar o Brasil nos trilhos do trabalho e do progresso.

Prova disso foi a carta escrita ao governo, por economistas, que também foi subscrita por pesos-pesados do PIB nacional, contendo cobrança de mudança radical nos rumos da administração federal, tanto no plano do combate à Covid-19 quanto na área econômica, a qual se tornou a face mais visível da insatisfação, enquanto as conversas de alto nível, em termos de articulações, vão muito além disso, diante da abrangência de articulação entre autoridades influentes.

Há o entendimento que mudança no comando do Congresso, com a chegada dos novos presidentes, abriu, segundo empresários, novo e importante caminho para suas demandas.

Esse fato se confirma, segundo foi apurado pelo jornal O Estadão, porque os dois presidentes já se reuniram em pelo menos nove oportunidades com grupos de banqueiros, empresários e executivos, de modo que o principal objetivo é sobre a conveniência de se “controlar” o presidente do país.

Um empresário que participou de encontro com os dois presidentes do Congresso disse, na condição de anonimato, que o que se pretende, à vista da gestão “catastrófica” da pandemia, é diálogo produtivo com o Legislativo, por meio dessas autoridades, que são figuras “sensatas”.

A citado empresário afirmou que, com o presidente do país não foi possível nenhum diálogo, já que “Bolsonaro não consegue se aprofundar em nenhum assunto e só faz piada e fala palavrão”, enquanto que “Lira e Pacheco sabem da gravidade da situação e estão funcionando como interlocutores”.

Esse empresário disse que um dos pontos que mais têm preocupado os empresários é a imagem “nefasta” do Brasil no exterior.

Os dirigentes de bancos afirmaram que “eles querem previsibilidade para mitigar as incertezas e evitar novas crises de confiança em relação ao Brasil. A gravidade da pandemia vai desorganizando a economia gradativamente. As diferenças políticas, neste momento, têm de ser colocadas de lado. Temos de dialogar para mobilizar a sociedade, trabalhadores, governos, parlamentares e empresários numa frente de solidariedade se quisermos vencer essa crise, que já ganhou características de crise humanitária. As divergências e brigas políticas podem ficar para depois.”.

Um empresário, que se qualificou “otimista com o Brasil”, disse que “Não pode haver confusão entre os governos estaduais e federal. As brigas vão ter de acabar ou a sociedade vai cobrar.”.

Nos bastidores do empresariado, a insatisfação é enorme contra o governo, posto que um presidente de grande associação nacional declarou que “A paciência com Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, está acabando. O que move o empresariado é a economia, e a obviedade do fraco desempenho e a ausência total de plano e capacidade de gestão começam a movimentar até os setores que ganham na crise.”.

Um importante banqueiro teceu severas críticas ao governo, tendo afirmado, in verbis:O despreparo de Jair Bolsonaro está levando ao colapso da saúde e da economia. Seus erros estão fartamente documentados. Chegou a hora de dar um basta a tudo isso. O presidente precisa assumir um compromisso com a ciência e com pessoas que trabalhem e deixem a ideologia de lado. Se for incapaz disso, melhor deixar o cargo.”.

As informações constantes deste texto têm total transparência e ostensividade, porque elas foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, o que significa dizer que o presidente da República deve ter tomado conhecimento da real avaliação sobre o desempenho do seu governo pela elite econômica dominante do Brasil, que a qualifica de pífia e preocupante, à vista do negativismo que vem triunfando por meio de seus atos e isso tem péssimo reflexo no exterior, por mostrar imagem extremamente prejudicial aos interesses nacionais.

Esses fatos são da maior preocupação para os interesses do Brasil, por haver forte conscientização por parte do empresariado, que forma a força produtiva do país, na composição da riqueza nacional, que fomenta a produção e dá empregos, tendo a capacidade de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da nação, cujos integrantes se mostram descontentes com o mandatário do país, precisamente diante da insensibilidade dele perante os problemas nacionais, à vista de sequer haver diálogo acerca das crises econômica e pandêmica.

Não há a menor dúvida de que o presidente do país nutre discurso inverossímil, exatamente por defender os sentimentos de nacionalidade, mas, na prática, ele dá as costas para questões de suma importância para os interesses do Brasil, ao deixar de dialogar e discutir sobre matérias afetas ao seu governo, à vista das declarações dos empresários, que decidiram procurar interlocução com os presidentes do Congresso, como tentativa de alternativa na busca de algum entendimento sobre as questões relegadas no plano do Executivo, conforme evidenciam, de forma minudente, as queixas dos empresários.

É bastante preocupante a situação explanada pelos empresários, porque a tratativa para a solução pretendida depende exclusivamente do governo federal, que tem a incumbência constitucional de cuidar das principais estratégias nacionais, a exemplo da economia, em especial, mas o presidente se encontra em órbita completamente diferente, voltado exclusivamente para as suas ideias de reeleição e massacrar e sufocar adversários pessoais, políticos e de governo, em detrimento da preocupação com as questões políticas relacionadas com as causas nacionais, como os assuntos que dizem respeito, em especial, à economia, objeto da indignação evidenciada pelos empresários.

Convém sim que haja boa vontade e interesse por parte dos presidentes do Congresso, no sentido de atuarem como importantes interlocutores na tentativa da consecução de urgente solução para questões fundamentais do Brasil, por afetarem basicamente o cérebro da máquina produtora nacional, que é azeitada com os recursos provenientes dos industriais, empresários, banqueiros e outras elites da economia, os quais precisam estar alinhados, em mão-dupla, com as políticas de governo, porque o distanciamento entre ambos somente interessa ao fracasso e ao subdesenvolvimento socioeconômicos, que são algo que precisa urgentemente ser evitado, evidentemente a depender do despertar da sensibilidade, da competência, da consciência e da responsabilidade por parte de quem tem demonstrado gigantesca dificuldade para se despertar de enorme letargia político-administrativa.

Brasília, em 29 de abril de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário