quarta-feira, 7 de abril de 2021

Em benefício do bem

 

No dia em que o Brasil registrou, pela primeira vez, mais de 4 mil mortes por causa da Covid-19, em 24 horas, o presidente da República aproveitou o ensejo não para lamentar o deplorável marco da saúde pública do país, mas para fazer críticas às medidas restritivas adotadas por alguns estados para conter a transmissão da doença, tendo se mostrado bastante irônico com o termo "genocida", que tem sido utilizado por pessoas para a caracterização sobre a lastimável atuação dele, no combate à pandemia.

Em conversas com apoiadores que ficam na saída do Palácio do Planalto, o presidente lembrou que seus críticos já o classificaram, no passado, como homofóbico, racista, fascista e torturador, mas agora colocaram-no a alcunha de “genocida”, cujo verbete tem como significado "o indivíduo que causa a morte de grupo numeroso de pessoas, em pouco tempo.".

Em ar de riso, o presidente disse: “Agora... agora é o quê? Agora eu sou aquele que mata muita gente, como é que fala? Genocida! Agora eu sou genocida.”.

Ontem, infelizmente, foram registrados no Brasil, pela primeira vez desde o início da pandemia, 4.211 óbitos, em escala praticamente incontrolável de mortes.

A verdade é que, desde o início de março último, o sistema de saúde do país se aproxima do completo colapso, com pessoas morrendo sem conseguirem transferência para leitos de terapia intensiva, cuja consequência natural é o aumento de mortes precoces, ou seja, não tendo UTI, é inevitável o óbito, por falta do preciso socorro, cuja situação se caracteriza como muito dolorosa e cruel.

          Há duas semanas, o Brasil atingiu outra marca trágica na pandemia, ao se contabilizarem mais de 3 mil mortes em um único dia, algo que estarrece a sensibilidade humana, enquanto nada de especial, de diferente do necessário, ninguém tem a iniciativa de fazer, para, ao menos, demonstrar alguma forma de sentimento humanitário, diante de inominável e horrorosa tragédia.  

No encontro com apoiadores, o presidente ouviu relatos de quem está em sintonia com a postura do presidente durante a pandemia, quando ele somente vem se especializando em críticas contra quem age diferentemente dele, desde o início do surto do novo coronavírus, principalmente contra as medidas restritivas, como o fechamento do comércio, por força do isolamento social, que é mecanismo para se evitar aglomerações e contágio com o vírus.

Um apoiador dele disse ser empresário do estado de São Paulo, tendo relatado as dificuldades ocorridas após o decreto do governador, que suspendeu o funcionamento de serviços não-essenciais, tendo por finalidade a tentativa de segurar o aumento de casos de doença.

Aproveitando o ensejo, o presidente criticou as medidas e ainda citou suposta pesquisa que já compartilhou nas redes sociais dele, que indicam que aqueles que praticam atividades físicas são oito vezes menos propensos a ter problemas causados pela Covid-19.

Segundo o presidente, “o isolamento poderia causar outros problemas piores que a doença como, por exemplo, hipertensão.”.

De acordo com o presidente, “Tem uma pesquisa recente, parece ser verdadeira, que quem tem uma vida saudável, é oito vezes menos propenso a ter problemas com a Covid. Quando você prende o cara em casa, duvido que não tenha aumentado um pouco de peso. Até eu aumentei um pouco a barriga.”.

O presidente do país afirmou ainda que “São Paulo é o estado que mais fecha o comércio, mas que é o que tem o maior número de mortes proporcionalmente.”.

Não  obstante, segundo a reportagem, a referida informação é falsa, porque, em números absolutos, São Paulo tem o maior número de mortes por coronavírus, mas não proporcionalmente, uma vez que o estado registrou 166 óbitos, por causa da Covid-19, em cada 100 mil habitantes.

Ocorre que nove estados têm taxa maior de mortes do que São Paulo, segundo o sistema MonitoraCovid, da Fiocruz, dando como exemplo os estados do Rio de Janeiro e do Amazonas e do Distrito Federal.

Diante da tragédia que somente se acentua, no dia a dia, a principal autoridade da República ainda tem motivação para ficar fazendo comício com a desgraça que se abate contra a população, que tem sido a marca do governo com relação à saúde pública, que vem trabalhando muito acima do limite da sua capacidade operacional.

Não tem o menor cabimento que alguém fique perdendo tempo para se justificar que não seja genocida ou algo que o valha, porque isso é absolutamente dispensável, exatamente porque a gravidade da situação falimentar exige que o presidente do país e as principais autoridade do seu governo, que têm a primordial incumbência de cuidar, intensa e severamente da saúde dos brasileiros, deveriam estar enfurnados nos seus gabinetes trabalhando no maior afinco e esforço possíveis e impossíveis na busca de urgentes alternativas, soluções e o que seja necessário para se encontrar alguma medida capaz de, ao menos, frear imediatamente essa tragédia humanitária, de alarmantes proporções.

Mesmo que não se conseguisse absolutamente nada, diante das intransponíveis dificuldades apresentados pela configuração da doença, com características extremamente incontroláveis, mas o presidente e o seu governo teriam o respeito e o acatamento dos brasileiros que pensam diferente dele, no sentido de que, ao menos, há seriedade e dignidade perante situação que se exige não perder tempo com gracejos e críticas que não levam a absolutamente nada, como tem sido a principal ocupação do mandatário, à vista dos fatos vindos diariamente a público.

O governo, com o mínimo de competência e seriedade, já teria se conscientizado, há muito tempo, de que qualquer crítica somente teria alguma validade para combater a pandemia se ela tivesse no seu bojo a preocupado em apresentar medidas e sugestões completamente diferentes das que são feitas normalmente, que são críticas apenas para caçoarem da situação em si, sem que elas sejam capazes para produzir alguma eficácia contra a pandemia.

É extremamente lamentável que o governo seja absolutamente incapaz para contribuir com medidas efetivas contra o coronavírus, em que pese só aumentar em gravidade a triste realidade de calamidade da saúde que precisa urgentemente contrapor ao grande infortúnio público, mas a falta de iniciativa, exatamente por da insensibilidade humanitária, tem sido a principal causa de tamanha desgraça, que apenas serve de motivação para gracejos, acompanhados por gente igualmente insensata e desumana.

Tenho sim motivos suficientes para criticar e me indispor contra tamanha aberração como a pandemia vem sendo combatida, posto que, ontem mesmo, eu disse precisamente o que o governo, com o mínimo de responsabilidade cívica e pública, deveria ter feito com bastante antecedência, para, pelo menos, mostrar preocupação e seriedade perante a gravidade da terrível situação de calamidade humanitária.

Eu disse exatamente que, apesar dos pesares, de passado horroroso e monstruoso, diante das incompetências humana e operacional, ainda é possível se mudar esse cenário de extrema desolação para a população, se houver o mínimo de sensibilidade humana capaz de vislumbrar medidas que levem à mobilização geral, em forma de mutirão, com o envolvimento das autoridades públicas da federação, do mundo científico nacional, das entidades e organizações de representação de classes e da população interessada, tendo por finalidade à busca de mecanismos em melhores condições de lidar com essa tragédia.

Diante do exposto, faço veemente apelo à consciência das autoridades públicas do país e dos brasileiros que se voltem em ações e atitudes exclusivamente para o combate à pandemia do novo coronavírus, de modo que a gravidade da situação somente tenha por propósito a convergência de ideias, esforços e dedicação capazes de se mudar tanta desgraça, o mais urgentemente, por meio de medidas uníssonas de apenas agressividade contra o vírus e não contra quem ainda tenta agir em benefício do bem dos brasileiros.       

Brasília, em 7 de abril de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário