Vem circulando, nas redes sociais, vídeo referente
à live do presidente da República, no qual, mais uma vez, ele faz emocionante apelo
aos brasileiros, com o máximo de veemência, com vistas à obtenção de maciço
apoio do povo para fazer, com o respaldo popular, algo em defesa da liberdade,
segundo é dito no discurso dele, sem que o conteúdo de importante medida “salvadora”
seja declinada na ocasião, como é do deve dele.
O aludido apelo, que tem o acompanhamento de fortes
imagens do presidente mostrando os efeitos da cirurgia realizada em razão da
facada sofrida por ele, é vazado nos seguintes termos: “Quanto mais atiram
em mim, de forma covarde, por parte da sociedade, mais vem enfraquecendo quem
pode resolver a situação. Como é que eu posso resolver a situação? Eu tenho que
ter apoio. Se eu levantar a minha caneta Bic, falar: Shazan, eu vou ser
ditador. Vou ficar sozinho nessa briga! O meu Exército, que tenho falado o
tempo todo, é o povo. Eu sempre digo que eu devo lealdade absoluta ao povo
brasileiro. Esse povo está todo na sociedade, inclusive no Exército fardado. A
vocês eu devo lealdade. Eu faço o que vocês quiserem. Eu faço o que vocês
quiserem, porque essa é a minha missão de chefe de Estado. Aquele que abre mão
de um milímetro da sua liberdade, em troca de segurança, seja o que for, não
terá nada no futuro. Eu sou a pessoa, queira ou não, critique ou não, me ofenda
ou não, que possa garantir a sua liberdade.”.
O discurso do presidente do país estarrece pela
contundência em mostrar que os brasileiros correm seríssimo perigo quanto à
iminência da perda de liberdade e somente ele tem condições de evitar a catástrofe
anunciada, embora tudo ainda se situa no cenário do imaginário, porquanto ele
não precisa a verdadeira situação que pode levar ao abismo vislumbrado à vista
e as medidas precisas para evitá-lo.
O presidente brasileiro demonstra terrível
desespero no seu trono, ao pretender proteger a sociedade, que, segundo ele, encontra-se
em perigo, mas por desconhecidas motivações, ele se esquece de detalhar o
preciso objeto da situação e o mais importante que se refere ao seu antídoto,
ou seja, exatamente o que pode ser perigoso contra os brasileiros e que ele
entende que precisa fazer para salvar o seu rebanho que se encontra correndo
perigo de perder a liberdade.
Há ainda o ponto especialíssimo do discurso
presidencial, que diz respeito ao massacre que ele vem sendo sistematicamente atacado
e agredido, por meio de covardes tiros disparados contra ele, por parte da sociedade,
fato este que o coloca como vítima, que vem sendo criticado e ofendido, evidentemente
sem motivação, talvez porque ele se coloca como o verdadeiro salvador dos brasileiros.
Não deixa de ser muito estranho, para os tempos
modernos, o mandatário da nação querer, a todo custo, ter o apoio do povo, implorando
por ele, para fazer o que ele quiser, mas se esquiva, sem justificativa plausível,
de dizer o real objeto do que ele pretende fazer para garantir a liberdade que
se encontra extremamente ameaçada, segundo a sua ideia visionária.
É extremamente preocupante a ingenuidade de muitos
brasileiros, que se deixam ser facilmente influenciados pelo sentimento
artístico e sensacionalista amador do presidente da República, que se esforça ao
máximo para representar cenário absolutamente fantasioso, com ares próprios de
perigosa e arriscada situação sem denominá-la precisamente, fato este nada
recomendável para estadista, que tem obrigação de apascentar os brasileiros e
não disseminar inquietação, como o faz, por alardear situação de perigo, cujo
remédio depende do povo, que sequer é informado do possível abismo.
Isso obriga a relembrança de situação com conotação
bem próxima dela, a exemplo que pode ter havido com base no seu emprego, de
forma estratégica, em muitos países, e a Venezuela pode servir para mostrar que
o povo assegurou total apoio ao ditador já falecido, para a implantação de
medidas que ele adiantara que seriam para salvaguardar a liberdade da população,
tendo a obtido e as consequências são os detalhes contados pela triste história.
Naquele país, o povo se dignou a conceder o apoio
pedido pelo presidente, que logo se tornou ditador sanguinário e desumano, e o
resultado da benevolência popular é precisamente a desgraça que se espraiou naquela
nação, que é do conhecimento de todos, que sabem perfeitamente como se encontra
aquele país, na atualidade, quando tudo começou com essa história de se garantir
liberdade para o povo, com a mesma promessa de que "eu faço o que o
povo quiser".
Isso até pode ser verdade, mas o que o povo mais
queria era extremos interesse e boa vontade do mandatário do país para combater
com a maior seriedade possível a pandemia do coronavírus, mas o resultado é
exatamente o desastre que já são contabilizadas quase 400 mil mortes, que
certamente não chegariam a tanto, caso tivesse havido forma de tratamento com a
eficiência que a situação exigia de agressividade, no bom sentido, contra a
doença terrível.
Nesse caso específico da possível perda de
liberdade, o povo precisa, acima de tudo, ser bastante astucioso e inteligente
para garantir seus direitos de cidadania, porque, se não se cuidar, termina
batendo com a cara no paredão, se for, na base da confiança e da boa vontade
pretendida pelo presidente do país, caso acredite piamente na conversa apelativa
dele, que vem dizendo que é vítima de parte da sociedade e até pode ser, mas o
que não se pode ser admitida, de maneira alguma, é essa história de ter apoio
do povo para garantir liberdade, sem serem mencionadas claramente quais são os
perigos e as suas verdadeiras pretensões, depois de receber o aval dos
brasileiros.
O governo com propósito de seriedade e
responsabilidade cívica e administrativa, que respeita a dignidade dos
brasileiros, tem a hombridade de dizer ao povo, com as devidas clareza e
transparência, as medidas importantes para as quais ele espera que os ingênuos
brasileiros concedam o seu aval, de olhos vendados e sem saber exatamente quais
elas sejam, diante do fato de que depois da sua adoção, o presidente simplesmente,
conforme o conteúdo delas, poderá nem assumi-las, em absoluto, e ainda atribuir
ao povo toda responsabilidade, porque ele vai alegar que jamais faria o que fez
sem o respaldo popular, ou seja, ele pode alegar que é apenas o intérprete da vontade
do povo.
Para o bom entender, o extremo sentimentalismo do
presidente pode sim se transformar em algo muitíssimo perigoso, diante da falta
de informações sobre as pretensões dele, porque, em termos de interesse
público, nada justifica o sigilo, principalmente diante da importância dramatizada
para os fatos.
É até possível se imaginar que, se o presidente do
país tivesse em poder de sentimentos nobres para agir com as melhores e honrosas
das intenções, ele não precisava vir com essa conversa de vítima e possível
perda da liberdade do povo, porque o que ele imagina que seja precisa realmente
fazer já deveria ter sido exposto para os brasileiros, diante da imperiosidade sobre
o prévio conhecimento do que ele denomina de situação, que deve e precisa ser urgentemente
discutida com o povo, de forma absolutamente transparente, para que não reste a
menor dúvida de que as medidas pretendidas estão em total harmonia com o
interesse público e sem qualquer perigo de haver algo ilícito nem
inconstitucional.
O presidente da República acerta precisamente quando
decide, com a devida prudência, em contar com o apoio do povo para adotar
medida que ele considera indispensável à proteção das liberdades individuais,
porque isso é exatamente evolução das nações que procuram respeitar os
princípios consagrados sob o amparo do princípio ínsito do Estado Democrático
de Direito.
Não obstante, o presidente do país erra
redondamente ao esperar que os brasileiros deem esse aval sem que ele diga, em
minúcia, exatamente o que pretende realizar com o consentimento do povo, porque
é precisamente assim que procedem os estadistas sérios, competentes e responsáveis,
que valorizam os princípios republicanos, em especial os que se referem à transparência
e ao compromisso com a verdade e a honestidade na gestão pública.
Ao contrário disso, na forma como o presidente do
país pretende ter o apoio dos brasileiros, muito mais tentando se passar por
vítima maltratada e enjaulada e ainda sem dizer precisamente o objetivo do ato
pertinente, isso condiz com cena de teatro bufo e com tudo o mais, menos com
atitude de estadista que privilegia a liturgia do cargo, levando-se em conta
que o Estado é senão o próprio povo.
Fazendo apologia a um célebre presidente norte-americano,
pode-se afirmar que o presidente brasileiro até pode enganar as pessoas, por muito
tempo; algumas, por algum tempo; mas não consegue enganar os
brasileiros, por todo o tempo.
Ante o exposto, para o bem da verdade, faço esse importante alerta, para que os brasileiros não aleguem depois que não sabiam bem sobre as pretensões presidenciais, e realmente não sabem mesmo, mas esse artificialismo não tem absolutamente nada de seriedade e até espera-se que haja engano na interpretação dessa história palaciana, para que resulte no bem dos brasileiros, que precisam ser governados sob o pálio da seriedade, da transparência e da confiança.
Brasília, em 26 de abril de 2021
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