terça-feira, 27 de abril de 2021

Grito de independência?

 

O presidente da República voltou a criticar, com severidade, os governadores, tendo os chamado, pasmem, de “pseudo ditadores”, por eles terem adotado medidas de restrição de circulação de pessoas, em razão da gravidade da pandemia do coronavírus.

Na ocasião, o presidente do país afirmou que está na hora de o Brasil dar “seu novo grito de independência”.

Em cerimônia de inauguração de 22 quilômetros de duplicação, na BR-101, em trecho na Bahia, o presidente afirmou que não se pode admitir que “alguns governadores imponham uma ditadura no país”.

Ele disse que “Está chegando a hora de o Brasil dar seu novo grito de independência”, não tendo especificado exatamente sobre o que ele estava se referindo, quanto à necessidade de se declarar nova independência do Brasil.

Convém se observar que as instituições republicanas estão funcionando normalmente e na sua  plenitude, não havendo sinal impactante ao exercício da cidadania, de vez que as medidas adotadas pelos governadores e prefeitos atenderam à gravidade da crise causada pela pandemia do coronavírus, em situação de excepcionalidade, que o presidente faz questão de ignorar, ante a sua primordial preocupação com a economia, que tem sido prevalente à vida humana, conforme mostram os fatos.

O presidente ainda adiantou o vislumbre do fim rápido para a situação vivida pelo país, na atualidade, de restrições de circulação e crise econômica, apesar de o Brasil ter ainda quase 3 mil mortes diárias pela Covid-19, mas sobre isso ele não demonstra a menor preocupação, porque, na opinião dele o que importa mesmo é a economia e todos vamos morrer.

         O presidente brasileiro afirmou que “Esse suplício está chegando ao fim. Logo voltaremos à normalidade”.

Não se sabe se o presidente estava se referindo ao suplício da pandemia, visto que nenhuma medida foi adotada, como novidade, por parte do governo, o que vale dizer que, se tiver que morrer, vai morrer, inapelavelmente, a exemplo da redução das doses de vacinas, quando deveria haver processo inverso, com o aumento das doses.

A CPI da Covid, que investigará a resposta do governo federal à pandemia e as ações do presidente, que frequentemente descumpre normas sanitárias básicas, como o uso de máscaras e evitar aglomerações, será instalada no Senado Federal, nesta manhã.

Nesta segunda, o presidente do país foi filmado, sem máscara, cumprimentando centenas de pessoas aglomeradas, como se nada mais estivesse existindo, em termos da pandemia.

O evento referente à inauguração, conforme programação, deveria ter sido fechado à população, para se evitar conglomeração, mas o próprio presidente revelou, em seu discurso, que pediu que fosse aberto para a entrada das pessoas que o esperavam, fato este que serviu para causar mais aglomerações, sob riscos de contaminação, fato este que somente presta para evidenciar o quanto o mandatário se preocupa em evitar contaminação da Covid, ou seja, nenhuma.

Ao que parece, sempre que o presidente do país aparece diante da imprensa, ele se mostra incontrolável e irresistivelmente disposto a se manifestar sob instinto nada republicano, por meio de descabidas ameaças, como nesse caso, onde ele se refere a “novo grito de independência”, dando a entender que o Brasil se encontra sob o jugo ou a dependência senão da incompetência administrativa e da disfunção quanto ao bom relacionamento ente as autoridades públicas da federação.

Caso o presidente do país tivesse o mínimo de consciência sobre a necessidade de liderança e coordenação sobre o efetivo combate à pandemia do coronavírus, certamente que não haveria nada desse suplício que foi colocada na cabeça dele, que é fruto da incompetência de gestão pública, uma vez que a centralização da gestão da pandemia poderia funcionar como instrumento para o levantamento das questões com o vírus e a sua solução, por meio de medidas de consenso entre as autoridades públicas da federação, no caso da União, dos estados e municípios, todas trabalhando em conjunto e tratando de único objetivo de cuidar de vidas humanas.

É evidente que a figura do suplício aqui imaginada precisou ser criada, ao que tudo indica, justamente para que o presidente brasileiro alimente a sua maneira de ser, tentando passar para a opinião pública a existência de ódio contra ele e seu governo, quando eles foram incapazes de cuidar e tratar, com a necessária eficiência, as causas da pandemia, cujos resultados certamente teriam sido outros bem favoráveis à saúde dos brasileiros, não fossem as ausências de políticas públicas cheias de interesses e boa vontade para a agregação de forças, dedicação e cuidados contra a pandemia do novo coronavírus.

A verdade é que a falta de vontade demonstrada pelo presidente do país, desde o início da pandemia, quando o próprio órgão especializado, o Ministério da Saúde, ficou quase um ano sem titular da área de saúde, que melhor teria entendido sobre as gravíssimas questões sanitárias, além de que o novo ministro ainda não disse para que veio, porque as mais vivas políticas de saúde conhecidas são no sentido de que a imunização caminha em passos lentos, em ritmo de tartaruga, por força da diminuição das doses de vacinas, o que somente mostra a precariedade da imunização e, enfim, o descaso com a saúde dos brasileiros.

Não obstante, como medida em harmonia com a incoerência, o presidente se refere a “grito de independência”, como se a parte do governo estivesse a pleno valor de eficiência, enquanto outros setores estivessem agindo em contrariedade às maravilhosas políticas em execução pelo governo federal.

À luz dos princípios do bom senso e da sensatez, certamente que o Brasil não precisa de novo grito de independência, mas de sim de urgente grito de sensibilidade, competência, responsabilidade e conscientização sobre os gravíssimos problemas brasileiros, em especial sobre a crise da pandemia do coronavírus, que estão sendo ignorados por parte de quem foi eleito precisamente para trabalhar como verdadeiro estadista.

Convém que o presidente da República se conscientize de que é preciso que haja, urgentemente, coordenação, em forma de liderança, por parte do governo federal, para a centralização das ações e políticas de combate à pandemia do coronavírus, de modo que a doença possa ser tratada com a devida e necessária eficiência, onde todas as autoridades estejam se empenhando e se dedicando bravamente contra mal terrivelmente que vem derrotando a todos, inclusive os brasileiros, exatamente, em especial, pelos desprezo, insensibilidade, incompreensão, desinteresse, desunião e incompetência.         

Brasília, em 27 de abril de 2021

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