quarta-feira, 14 de abril de 2021

A insensibilidade letal

 

Há 126 dias da vacinação oficial, o Reino Unido se tornou a primeira nação a iniciar a imunização em massa da população contra a Covid-19, o que significa importante exemplo para o resto do mundo.

Os especialistas garantem que os países que combinaram medidas restritivas com campanha intensa de vacinação têm melhores resultados para o enfrentamento da pandemia e recuperar a economia, inclusive com a volta à quase normalidade, à vista dos cuidados preventivos, que ainda são necessários.

Um brasileiro, que mora em Israel, disse que viu a vida mudar com a pandemia, com o enfrentamento de três lockdowns, tendo afirmado que “Ficou em casa acho que 3 semanas, sem sair de casa. Assim, eu saí de casa para ir ao supermercado e voltava. Não saí de casa para nada mais”.

Ele disse que uma semana depois de tomar a segunda dose da vacina, ele recebeu o passaporte verde, no celular, e a vida da família foi voltando ao normal: “viagens, visitas. As máscaras continuam obrigatórias nos lugares públicos. Agora, as pessoas já podem frequentar espaços fechados, mas ainda sem comer nem beber. Poder entrar na academia, poder entrar no cinema, ainda que não possa comer pipoca, mas eu acho que é voltar à vida”.

A propósito, Israel já conseguiu imunizar mais de 50% da população, com a segunda dose, tendo reduzido, segundo levantamentos, 87% das hospitalizações e os casos graves caíram 92% entre os vacinados.

Aquele país conta com um sistema público de saúde informatizado, teve o cuidado preventivo de comprar bem cedo as vacinas e tem excelente exemplo sobre a conscientização sobre a gravidade da doença, por parte do governo, posto  que o seu primeiro-ministro foi um dos primeiros a tomar a vacina, ainda em dezembro, quando o Brasil nem pensava em imunização.

Tendo se mudado para Escócia, logo no início da pandemia, uma brasileira disse que está contribuindo para combater o vírus por lá, estando ajudando na área de detecção de casos e orientação aos cidadãos do sistema público de saúde.

Ela disse que “A gente passa para essas pessoas que os contatos precisam fazer agora o teste, para saber se eles também têm Covid”.

O referido controle, mais o lockdown e a vacinação, tiveram impacto, à vista da constatação de que, depois de 4 semanas da primeira dose, as hospitalizações caíram 94% entre os que tomaram a vacina da AstraZeneca e 85%, entre os que foram imunizados com a da Pfizer.

Ela comentou que “É muito devagarinho, é um processo bem lento, mas, pelo resultado, tem valido a pena”.

É evidente que os países têm as suas peculiaridades, mas a experiência mostrada por brasileiros e os estudos sobre a pandemia reforçam a necessidade da adoção de recomendações semelhantes no Brasil, com a aplicação com a maior abrangência possível das vacinas e a adoção de medidas comprovadamente eficazes, em especial na coibição de aglomerações.

Os especialistas entendem que esse é o verdadeiro caminho para livrar a população da Covid-19.

Com a experiência em imunização do Brasil, pode-se considerar que a campanha pertinente teve enorme prejuízo com a demora para o início da vacinação, que ainda contou com a escassez das doses e o pouco interesse por parte das autoridades públicas em promover verdadeira mobilização contra o vírus, quando as medidas, em regra geral, foram tomadas em regime de normalidade, quando existe, no caso, verdadeira calamidade humanitária, que não é vista sob esse ângulo por quem tem o dever constitucional de cuidar e zelar pela vida dos brasileiros.

Uma especialista em saúde pública, da Escola de Saúde da Universidade de Harvard, disse que “há necessidade de mirar no que dá certo: vacinação, distanciamento e valorização do SUS.”.

A mencionada pesquisadora, que também é professora, disse que “O Brasil tinha um modelo ideal para poder responder a essas desigualdades com equidade, que é a sua estratégia de saúde da família. Ao mesmo tempo que o lockdown acontece e contribui para essa redução, é preciso começar a treinar essa rede de atenção primária para que na hora que os casos e as mortes estiverem caindo, a gente entre com essa resposta e garanta que a gente vai prevenir uma terceira onda. A gente sempre tem tempo para fazer a coisa certa”.

O que se percebe, nessa gigantesca tragédia humanitária, é que, no Brasil, faltam os principais ingredientes capazes de servir como antítese do vírus, em especial vontade política, vivo interesse na defesa da causa pública, iniciativa das autoridades incumbidas das efetivas ações e principalmente completo e decidido engajamento da sociedade, que, muito ao contrário, se mostra omissa e aceita a prevalência da insensibilidade aos princípios humanitários e ao negacionismo, que certamente são responsáveis por tantas mortes, em processo absolutamente inadmissível e repudiável.

Com absoluta certeza, jamais seria possível se constatar tantas mortes pela Covid-19, em nação com o mínimo de seriedade e amor aos princípios humanitários, porque, à vista dos danos à vida humana, algo já teria sido feito em defesa das pessoas e da dignidade dos seres humanos.

Com o sentimento de muita tristeza no coração, sem o mínimo de demagogia para afirmar, porque me sinto imune a isso, principalmente porque tenho sido ferrenho defensor de verdadeira revolução quanto às medidas contra essa tragédia humanitária, jamais acreditaria que os brasileiros, desde autoridades públicas e civis, entidades e organizações representativas de classes profissionais e a população em geral, fossem tão desprezíveis e insensíveis à montanha de vidas perdidas, em números superiores a 350 mil óbitos, a ponto de praticamente todos se conformarem, se acomodarem e permitirem a continuidade do status quo, completamente fora dos padrões de aceitabilidade, diante do verdadeiro caos, que somente compraz com o sentimento de insensibilidade e irresponsabilidade.

A minha maior revolta é perceber que o fanatismo cúmplice da perversidade humanitária não demonstra a menor preocupação com a tragédia em si, atribuindo culpa pela desgraça da economia, quando todos deveriam não ir em busca responsáveis por isso, mas exigir que todas as autoridades se conscientizassem sobre a efetiva gravidade da pandemia do coronavírus e se unissem em um só corpo, em homenagem a tantas mortes já acontecidas por culpa do sistema insensível e irresponsável.

É importante que todo mundo se digne a suspender temporariamente todos os demais projetos não essenciais à nacionalidade e apenas passe a se dedicar ao mais essencial de todos os projetos, que é a salvação de vidas humanas, de modo que possa haver mobilização nacional de todas as forças da sociedade, tendo por objetivo exclusivo a união em torno do combate à desgraça que ainda tem sido incapaz de tocar os corações de muita gente.       

Brasília, em 14 de abril de 2021

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