Conforme vídeo postado na internet, duas pessoas fazem relato sobre a falta de água no local que eles chamam de “cinturão das águas”, que fica situado no interior do Ceará, cujo projeto foi realizado com recursos públicos, no valor de R$ 50 milhões de reais, totalmente jogados no ralo da incompetência e do descaso, à vista do abandono do aproveitamento da transposição das águas do Rio São Francisco.
Posso afirmar que eu sou cria da seca, uma vez que experimentei as piores estiagens já impingidas ao Nordeste, quando o governo promovia o alistamento dos sertanejos, fornecendo alimentos, água e medicamentos.
A pior seca que já houve no Nordeste aconteceu, precisamente, em 1958, quando nenhum pingo de água caiu e tudo foi dizimado, na região, em razão da brutal escassez do precioso líquido.
Nessa época, eu apenas tinha nove anos e fui alistado, por meu pai, na frente de trabalho, que consistia na construção de estradas e açudes, como forma de justificar os altíssimos investimentos na região.
Tudo isso é para dizer que eu senti na pele as agruras e o sofrimento impostos ao sertanejo, que, pelo visto, nunca vai levantar a voz contra o descaso das autoridades públicas, que simplesmente transformam as secas em importante indústria do enriquecimento fácil e vergonhoso com o uso do dinheiro dos contribuintes, na maior demonstração de inescrupulosidade humana da face da Terra.
A imagem mostrada no vídeo em causa sintetiza, com muita propriedade, o irracional desprezo à dignidade do sertanejo, sobrelevando a desumana banalização do sacrifício dos brasileiros, que custearam importantíssima obra de transposição das águas do Rio São Francisco, a preço de ouro, evidentemente, como se vê, na tentativa de vã salvação dos nordestinos abrangidos pela calamidade das secas.
Infelizmente, o que se ver são o império da seca e do abandono dos canais, que estão vazios, em estridente, bárbara e inaceitável crueldade contra os outrora bravos nordestinos, que agora se acomodam e não conseguem reagir contra o conjunto das injustificáveis atrocidades perpetraras contra eles.
Lamenta-se, profundamente, a falta de zelo à própria dignidade do povo sertanejo, que se vangloriou, com desvairada veemência, em ajudar a colocar no poder pessoa sabidamente indigna e desqualificada, em termos de moralidade e competência gerencial, à vista de seus podres e desprezíveis antecedentes de criminalidade e aproveitamento de recursos públicos, assim atestados pela Justiça brasileira, que o condenou à prisão, justamente pela comprovação dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, quando a autoria das irregularidades não foram refutadas nem demonstra a sua inocência sobre os casos acusados de improbidade administrativa.
O fato é que esse mesmo povo simplesmente some, agora, de mansinho, como nuvens, sem nenhuma voz contra as terríveis maldades inerentes à nefasta negativa da água, de se estranhar tratar-se de precioso líquido essencial à própria vida, mas, nem por isso, pasmem, nem povo, nem políticos nem poder público são capazes de se posicionarem contra a mais nefasta desumanidade imposta sobre o povo nordestino.
Diante de tamanha prova de desprezo e desamor aos nordestinos, só resta o consolo, por parte dos brasileiros de bem, no sentido de se afirmar que tem sido perda de tempo alguém tentar se preocupar com o melhor para o povo do Nordeste, frise-se, na quase generalidade, que faz questão de demonstrar pleno comodismo diante de terrível desgraça materializada com a falta de água, quando existem efetivas condições substanciais para a mudança desse quadro de deplorabilidade, desde que houvesse interesse em defender a própria dignidade.
Enfim, é preciso compreender e aceitar a mentalidade do povo, quando ele próprio não tem interesse algum em mudar o status quo, certamente por achar que assim é muito mais conveniente para os seus interesses, que deve ser assim para os nordestinos, que aceitam, com naturalidade, a “barragem” construída contra os seus interesses.
Brasília, em 5 de novembro de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário