sábado, 21 de junho de 2014

A esperteza como virtude?

Diante das dificuldades anunciadas para a reeleição da presidente do país, o ex-presidente da República petista se dar ao luxo de não levar a sério nem a si mesmo. O projeto dele é “partir para cima” daqueles que representem qualquer risco à trajetória vitoriosa da sua predileta afilhada política, que tem a obrigação de garantir a perpetuação do seu partido no poder. Ele não tem perdido nenhuma oportunidade para mostrar a sua extrema capacidade de impudência, ao tentar isentar a cúpula do seu partido, inclusive ele, de qualquer participação nos horrorosos casos de corrupção protagonizados por seus companheiros, a exemplo da sua entrevista à TV portuguesa, quando ele chegou ao cúmulo de negar peremptoriamente que não tinha qualquer nível de relações com os principais líderes do PT condenados pelo Supremo Tribunal Federal. Ele renegou o ex-ministro da Casa Civil do seu governo, o ex-presidente do PT e do então tesoureiro do partido e do mensalão, ao afirmar, sem o menor escrúpulo, que "Não se trata de gente de minha confiança". As mentiras e as contradições atribuídas ao ex-presidente são memoráveis, principalmente no que diz respeito ao escândalo do mensalão. Em 2006, no auge desse lamentável episódio, ele veio a público para declarar completamente “arrasado” e “contristado”: "Quero dizer, com franqueza, que me sinto traído. Não tenho vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas". Ao se referir que se sentia traído, o ex-presidente certamente estava mirando justamente seus fiéis amigos, aqueles acima referidos, ante o importante vínculo deles com o seu governo. Acreditando na memória curta do pobre povo tupiniquim, em novembro de 2009, ele se deu de esperto e simplesmente houve por bem ignorar completamente aquelas declarações feitas para o país nas telas da televisão, com respeito ao mensalão, ao afirmar, pasmem: "Foi uma tentativa de golpe no governo. Foi a maior armação já feita contra o governo". Mas tarde, na comemoração da eleição da sua sucessora, ele, no alto da sua onipotência, declarou que "Vou desmontar a farsa do mensalão", justamente na convicção de que a sua autoridade seria capaz de interromper qualquer tentativa de julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Todavia, esse órgão enxergou gravidades enormes nas irregularidades apontadas nos autos pertinentes, ante a robusteza dos fatos apurados e das provas coletadas, não tendo dúvida quanto à culpabilidade dos acusados, que foram condenados por vários crimes perpetrados contra a administração pública e a sociedade. Certamente que esse fato constituiu expressivo golpe para o ex-presidente, que resiste em aceitar a realidade dos acontecimentos, por entender que ele e seus companheiros são imunes a acusações e incapazes de cometerem falhas, bem assim por considerar que deuses jamais erram. Ele insiste em não admitir a verdade sobre os fatos que maculam a imagem dele e a dos integrantes do seu partido, preferindo aceitar as versões apropriadas às suas conveniências, como forma de perpetuação no poder, principalmente porque as mentiras contadas repetidamente e com a maior frequência passam a ser verdades incontestáveis, segundo o entendimento dos “sábios” inspiradores da ideologia da ignorância. Não à toa que o ex-presidente, depois dizer, no passado, que se sentia traído e que não tinha vergonha de pedir desculpas ao povo brasileiro, naturalmente por acreditar na existência do maior caso de corrupção da República, mas, agora, com a cara mais lisa e sem o menor pudor, ele simplesmente declara que: "O que eu acho é que não houve mensalão". Mas o petista, sem surpreender, extrapolou em criatividade oportunista, ao declarar, como pura imaginação, à televisão portuguesa que "O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica", dando a entender que a Excelsa Corte de Justiça teria atuado politicamente em cumplicidade com a "maior armação já feita contra o governo", quando, ao contrário do que ele afirma, as provas dos autos do mensalão não deixam a menor dúvida quanto à existência dos fatos e à culpabilidade dos envolvidos, em cujo rol, de forma inexplicável, não constou o nome do principal responsável por tamanha “façanha” que envergonhou o povo brasileiro e desmoralizou o país. É lamentável que os homens públicos tupiniquins, em pleno século XI, ainda façam uso das atividades políticas tendo por seu principal pilar de sustentação a esperteza, que a consideram grande virtude como princípio moral e valores éticos, em proveito das suas conveniências politicas, a exemplo dos fatos em comento. Compete à sociedade desacreditar os maus e mentirosos homens públicos, cuja atuação na política não condiz nem longe com a dignidade que se espera deles, e repudiar seus atos visivelmente oportunistas e contrários aos princípios ético, moral e do decoro, como forma de se contribuir para a construção de um país com dignidade e seriedade, em harmonia com os saudáveis princípios republicano e democrático. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de junho de 2014

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