A presidente do país, em visita a
estados do Nordeste, para vistoriar as obras de transposição do Rio São
Francisco, rebateu críticas sobre atrasos nessas obras, declarando que “quem nunca fez nada, desanda a cobrar”. Ocorre
que a construção teve início em 2007, com a conclusão prevista para 2012. O
projeto de integração do São Francisco tem 469 quilômetros de extensão, com a estimativa
de atendimento do fornecimento de água para 11,6 milhões de pessoas, abrangendo
cidades dos estados do Ceará, da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do
Norte. Veja-se que se trata de investimento de suma importância que exige, no
mínimo, prioridade absoluta, que não houve, à vista da inexplicável
procrastinação. O atraso é tão significativo e prejudicial que as obras deverão
ficar prontas somente até o final de 2015, segundo previsão do governo federal.
Não obstante, a presidente, ignorando tamanha imprudência gerencial e
ironizando as cobranças por competência, afirmou: “Acontece uma coisa engraçada no Brasil, não sei se vocês já notaram.
Quem nunca fez, desanda a cobrar de quem fez. Então é isso que nós estamos
assistindo. Gente que nunca fez quando pôde, cobrar de quem está fazendo quando
pode”. Não deixa de ser engraçado o fato de a presidente tentar se
desculpar da incompetência do governo, acusando possível incapacidade e omissão
de outros administradores, quando se sabe, à luz do bom senso, que um erro não
justifica outro igualmente grave ou pior. O correto seria Sua Excelência
assumir a terrível culpa pelo inexplicável de quase o dobro para a conclusão de
obra tão importante para o povo nordestino. No caso, o atraso é bastante significativo
por refletir não somente na demora do abastecimento de água ao sofrido povo
sertanejo, mas no expressivo custo das obras, orçadas inicialmente em R$ 2,5
bilhões, mas, ao final, o rombo orçamentário-financeiro deverá ultrapassar,
pasmem, a cifra de R$ 8 bilhões, justamente em razão da falta de preparo dos
administradores públicos, que preferem atribuir a culpa pelos fatos ao acaso. Ao invés de rebater criticas
dos adversários, por cobrar eficiência do governo, que seria a sua normal
obrigação, principalmente em se tratando da aplicação de recursos públicos, que
não admite qualquer espécie de desperdício, a presidente do país deveria ter a
dignidade de admitir e reconhecer a injustificável inabilidade gerencial para
impedir impunemente que as obras de transposição do Rio São Francisco tivessem
passado por cruel processo de paralisação e de expressivo atraso, causando
enormes prejuízos não somente financeiros, por perdas de obras realizadas,
depósitos de material saqueados e outras precariedades contra o patrimônio, mas
pelo injustificável atraso do empreendimento, posto que a retomada das obras fosse
possível senão com a majoração dos preços, cujo valor total será mais do que
triplicado, justamente em razão da incompetência administrativa, que obrigou a
promoção de novas licitações para o seguimento dos trabalhos pertinentes à
transposição. Agora, causa enorme perplexidade o fato de a presidente visitar
as obras não na fase que elas estavam largadas à própria sorte, ao deus-dará,
mas justamente na proximidade da campanha eleitoral, possivelmente em
atendimento às orientações dos marqueteiros de plantão. À toda evidência, a
presença dela era bastante importante no momento da paralisação, quando houve
completo desprezo e abandono ao empreendimento pelas construtoras, mas, à
época, ela se fez de mouca às reclamações dos nordestinos, não demonstrando o
mínimo interesse em visitar os canteiros vazios, principalmente para mostrar
sua autoridade de principal responsável pelas obras começadas ainda na gestão
de seu antecessor. Esse fato lastimável evidencia com nitidez a personalidade e
a responsabilidade dos políticos quanto ao seu real interesse de solucionar as
questões que afetam a vida do povo brasileiro, que somente é valorizado por
ocasião dos pleitos eleitorais, a exemplo da visita da presidente do país ao
interior da Paraíba, onde aproveitou para criticar seus opositores, por terem
estranhado, embora com toda correção e justiça, o desprezo, por muito tempo, às
obras tão importantes da transposição em apreço. É absolutamente injustificável
que a presidente do país aproveite visita à obra que deveria ter sido entregue
em 2012, com preço três vezes menos, conforme previsão inicial, para tentar
ridicularizar exatamente quem critica e considera verdadeiro absurdo que, em
pleno século XXI, ainda se permita tanto desperdício de recursos públicos, na
execução de obras planejadas e executadas por quem não teve o devido preparo
para administrar com eficiência país tão importante como o Brasil, conforme
denuncia o injustificável e inaceitável atraso, que não poderia jamais ter
existido, porque este não é o momento para alegar que em qualquer outro país
haveria atraso, porquanto noutras plagas inexistem tanta incompetência como há
no país tupiniquim, onde os políticos procuram desculpas esfarrapadas para suas
incapacidades gerenciais. O povo precisa, com urgência, reconhecer que o país
não pode continuar sob o signo da incompetência, das mentiras e das evasivas sem
plausibilidade, como forma de justificar o injustificável. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 02 de junho de 2014
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