sábado, 7 de junho de 2014

Medo da imprensa livre

O portal da Folha de S. Paulo deu destaque sobre a pretensão demonstrada pela presidente da República de "ceder" e prometer ao PT que irá incluir no seu programa de governo, no caso de possível continuidade do mandato, proposta para regulamentar os meios de comunicação, na qual haverá a importante ressalva no sentido de não interferir no conteúdo produzido pelos grupos midiáticos, porquanto a medida deverá abranger, segundo o governo, apenas aspectos econômicos. O maior temor que podem nortear as diretrizes dessa media prende-se ao fato de que o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do primeiro governo petista, que atua na campanha digital da presidente do país, será o responsável pela formatação do projeto de regulação midiática, por ser bandeira que ele empunha há anos. Segundo foi apurado pelo citado jornal, a presidente concorda com projeto que regulamente o disposto nos artigos 220 e 221 da Carta Magna, que estabelecem que os meios de comunicação não possam ser objeto de monopólio ou oligopólio e que a produção e a programação de rádios e televisões devem atender a princípios de produção regional e independente, além de definirem como deve ser a publicidade. Ocorre que o ex-secretário é favorável que a imprensa escrita precisa obedecer à lei que contenha regras sobre o direito de resposta, que ainda não existe no Brasil, e que ela seja rápida e proporcional ao agravo. Também é pretensão dele que a lei disponha ainda sobre punição quando houver excessos contra alguém. Ele entende que isso tem que estar na legislação, mas não precisa de regulação, porque a regulação é necessária somente para concessão pública, no caso da radiodifusão, no que pertine ao rádio e à televisão. Não há a menor dúvida de que ninguém acredita que esse governo cuidaria de regulamentar apenas situações referentes a aspectos econômicos, envolvendo a mídia, quando os petistas estão ávidos e até loucos para enquadrar a imprensa, conforme recente explanação do vice-presidente do partido, que exige a imposição de limites para a atuação da mídia, à vista de vídeo vazado pela internet, mostrando indignação, esbravejamento e sanha do petista, inconformado e transtornado com a plena liberdade de informação, que vem prejudicando a “honestidade” do seu partido. Uma coisa indiscutível é a necessidade de regulamentação das atividades monopolística e oligopolista, que não pode se confundir com a possibilidade, extremamente perigosa, de se incluir matéria ideológica com cunho impeditivo à liberdade de imprensa, por menor que seja o comprometimento ao cerceamento do livre exercício dos meios de comunicação de prestar importante informação à sociedade. Nada justifica que, em pleno século XXI, quando a modernidade permitiu avanços em todos os sentidos do conhecimento humano, venha o governo com essa história de pretender pôr mordaça na mídia, pautando o que a imprensa pode ou não fazer, uma vez que a censura somente tem cabimento nas republiquetas subdesenvolvidas, que ainda não alcançaram nem conhecem os horizontes da liberdade de expressão. Não há a menor dúvida que se trata de discussão que deveria acontecer às claras em plena campanha eleitoral, para que o povo tenha direito de expressar seu sentimento sobre a regulação da mídia, as limitações do seu alcance, as reais intenções e finalidades, como forma de não restar dúvida quanto a possíveis prejuízos aos sublimes e saudáveis princípios da liberdade de expressão da imprensa, que não pode sofrer qualquer forma de rédea e restrição de bem informar. O pleno exercício da democracia se opera mediante o uso das condições essenciais de liberdade para o desempenho das atividades empresariais, que repudiam as restrições ideológica, criativa ou produtiva, sob pena de desrespeito ao cumprimento da livre iniciativa, própria dos países evoluídos. Não há dúvida de que o governo pretende alcançar o “glorioso” caminho trilhado pelo pleno subdesenvolvimento escolhido por países em decadência democrática, a exemplo da Argentina, do Equador, da Venezuela e de outras nações de índole socialista, que devem ser únicos do mundo que optaram pelo suicídio da implantação da lei da mordaça, por representar cristalina abdicação ao aprimoramento dos preceitos salutares de estímulo à liberdade de expressão, com o fortalecimento da imprensa autônoma, independente e fortalecida para bem cumprir o seu legítimo e imprescindível papel de informar na plenitude. Chega ser risível, em pleno Estado Democrático de Direito, alguém achar que a mídia vai ficar amordaçada com as medidas restritivas de liberdade, como tentativa de subestimar a sua capacidade criativa de informar e de denunciar os desmandos, a prepotência e a irracionalidade dos governantes, que jamais deveriam existir com tal mentalidade nas nações civilizadas, como o Brasil. Essa regulação não passa de ideia absurda e equivocada, por representar nítido menoscabo à inteligência da imprensa, como se isso fosse capaz de calar a mídia em benefício dos malfeitos da administração e do subdesenvolvimento do país. Na verdade, a imprensa somente deixará de apontar as falhas, os desgovernos e as falcatruas quando esses malfeitos não mais existirem, pois é exatamente assim a sua atuação nos países desenvolvidos, social, econômico, político e democraticamente. A instituição de sistemas diferentes disso representa inominável retrocesso e a confirmação da pequenez e da nítida falta de bom senso da classe política dominante. O PT nunca esteve tão sequioso e ávido para tentar amordaçar a imprensa, que os petistas qualificam-na de burguesa, apenas pela maneira como são denunciados os malfeitos e as esculhambações originadas na administração pública, que nunca esteve tão à deriva em relação a tudo que se possa imaginar de precariedades e má gestão. Ao imaginar que haverá silêncio da mídia, o governo vai sentir-se à vontade para continuar reinando tranquilamente, sem ser mais incomodado, porque não haverá mais notícia sobre as irregularidades, as corrupções, que continuarão acontecendo normalmente, com a diferença de que a imprensa não poderá torná-las ostensivas, ante as amarras decorrentes da regulação, a exemplo do que já ocorreu no Equador, na Venezuela, na Argentina etc., que deram desagradável lição de como não deve ser tratada a imprensa em pleno século XXI. A sociedade tem amplas condições de evitar que essa tragédia de regulação das comunicações possa ser objeto sequer de discussão, quanto mais de implementação, porque será a glória para aqueles que têm o ideário de calar o Quarto Poder, que ainda é poderoso, por ser livre e poder denunciar as irregularidades que são tristes realidades do país tupiniquim. Essa história de tentar regulamentar o funcionamento das comunicações será o fim das liberdades democráticas e o início do controle, da censura, da imprensa, que não pode ter cerceado o direito de informar os fatos, na sua plenitude, em harmonia com a modernidade da civilização e os avanços científico e tecnológico, que tanto benefícios proporcionam à humanidade. Não fosse a imprensa livre, o homem jamais teria alcançado tamanho progresso do seu conhecimento. Antes que esse assunto seja cogitado para discussão, é imprescindível que seus defensores, idealizadores, sejam defenestrados, expulsos mesmo, do templo, para não dizer dos palácios, para que a desgraça da restrição sobre a livre imprensa seja sepultada em definitivo, com as maiores honras de desprezo, para que o seria seu legado infeliz possa ser esquecido como a pior tragédia que alguém, com o pensamento retrógrado e contrário aos princípios democrático e republicano, teria imaginado com o objetivo específico de crucificar a sagrada imprensa livre. Compete exclusivamente ao povo dizer não a essa bestialidade de atraso e de retrocesso, porquanto a modernidade não condiz com os desprezíveis tempos de censura e de controle da imprensa, que tem o legado importante de guardiã e de salvaguarda dos reais interesses nacionais e da sociedade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de junho de 2014

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