quinta-feira, 26 de junho de 2014

Indisciplina ou descontrole emocional?

Os jogos da Copa do Mundo transcorriam conforme a normalidade planejada para o evento, mas um episódio despertou a curiosidade mundial, com a inusitada mordida de um jogador no adversário, sem a menor plausibilidade, o que veio a causar reações entre os telespectadores, os jogadores e até mesmo a cartolagem da Fifa, que garante punição exemplar ao atleta. O fato suscitou a formulação de diferentes teorias para explicar o comportamento surpreendente do jogador, com a participação dos especialistas da mente humana. Um psicólogo disse que “A mordida pode ser resultado da pressão do jogo. Uma ‘resposta primitiva’ a fortes emoções e até uma consequência de sua infância difícil, em que ele teve de lutar pela sobrevivência”. Já o próprio jogador já havia dito por ocasião de mordida anterior, descrevendo seu comportamento, que se trata de “uma questão de frustração no calor do jogo. Você reage em uma fração de segundo. Algo que pode não parecer uma grande coisa, de repente é e você não está consciente de sua reação ou das repercussões”. A conclusão dos especialistas é no sentido de que o uruguaio precisa de tratamento profissional, para controlar seus impulsos violentos. Não obstante, como a atitude do jogador caracteriza agressão antidesportiva, a Fifa determinou que a Associação Uruguaia de Futebol apresentasse defesa, em razão dos fatos ocorridos. As justificativas foram apresentadas, tendo sido argumentado, basicamente, que “Não houve mordida. Foi uma jogada casual, em que o jogador perde o equilíbrio e o choque ocorre. Poderia ter sido um duro golpe na nunca, no pescoço ou nas costas. E isso é o que você vê: um choque, nada mais.”. Na defesa, alega-se ainda sobre a possibilidade de o jogador italiano já ter lesão no ombro: “Temos algumas fotos do Chiellini com uma lesão nessa área do ombro esquerdo. Por isso pedimos um relatório forense para ver se as imagens que surgiram após o jogo correspondem à realidade ou se o jogador italiano já tinha uma lesão lá.”. Não há menor dúvida de que se trata de argumentações absurdas e fajutas, imaginadas por quem não pretende enxergar a realidade dos fatos, em que pese haver fortes indícios de que é muito provável que o comportamento do jogador tivesse sido influenciado pelo fator psicológico, com dificuldade para controle do raciocínio lógico, emocional e até racional, em momento de pressão causado pelo calor do jogo, que valia a classificação do país para seguimento no torneio. Trata-se de atitude antidesportiva capitulada nos artigos 48 e 57 do Código Disciplinar da Fifa, cuja mordida, mesmo não tendo sido pensada nem proposital, veio agredir e ferir profissional do futebol. É lamentável que os causídicos não tenham conseguido encontrar álibi perfeito e compatível com a realidade do acontecimento, mas, compelidos por gordos honorários, tenham a infeliz iniciativa de criar versão absolutamente absurda e inverossímil, apresentando própria desculpa de João sem braço, na tentativa de enganar os "ingênuos" julgadores da Fifa. Somente uns trouxas iriam dar crédito às bobagens de que não teria havido mordida, mas tudo não teria passado de simples jogada ou esbarram casual, oriunda do desequilíbrio do jogador, vindo a se chocar com o italiano. É estranho se perceber que a televisão mostre os fatos na versão absolutamente diferentes da descrita pela defesa escrita, numa comparação ridícula e grotesca, dando a entender que os telespectadores são verdadeiros idiotas e imbecis, que não teriam enxergado que o jogador italiano foi barbaramente cravado aos princípios de civilidade e racionalidade, a qual não condiz com a modernidade e as conquistas alcançadas pela humanidade, no que se refere às regras desportivas. O certo é que o jogador uruguaio deu nítida demonstração de descontrole emocional, tendo causado enorme constrangimento aos cultores das práticas modernas do desporto, fato que evidencia a necessidade de tratamento, sob pena de o seu destempero se tornar prática comum entre os atletas, o que seria bastante desagradável se pagar ingresso para assistir jogadores mordendo cangote e bochecha de outros atletas. A Fifa tem obrigação de corta o mal pela raiz, para que a punição sirva de lição pedagógica para se evitar casos semelhantes ao episódio em comento. Há pessoas que defendem pena mínima, mas o fato em si não aconselha medida apaziguadora, porque isso não se coaduna com a magnitude do evento, que simplesmente representa a máxima importância para a prática do futebol. A leniência com a impunidade somente tem guarida, infelizmente, no país tupiniquim, que, por coincidência, é onde o fato horroroso da dentada aconteceu. Espera-se que a Fifa mostre no país da “Copa das Copas” como se deve aplicar penalidade em caso de infração ao regramento disciplinar, como forma de servir de ensinamento modelar de combate aos desvios de conduta e às transgressões à legislação penal. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de junho de 2014

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