sexta-feira, 6 de junho de 2014

Celibato, por quê?

Conforme notícia divulgada no site do G1, várias companheiras de sacerdotes, residentes na Itália, solicitaram ao Santo Pontífice a eliminação do celibato na Igreja Católica. Na carta endereçada ao papa, as signatárias esclareceram que “Nós amamos estes homens e eles nos amam (...) nós somos um grupo de mulheres de todas as regiões da Itália (e não somente) que escrevemos para romper a parede de silêncio e de indiferença que nos cerca todos os dias. Cada uma de nós vive, viveu ou gostaria de viver uma relação de amor com um membro do corpo eclesiástico, por quem somos apaixonadas. (...) com humildade, levar aos seus pés nosso sofrimento até que alguma coisa mude, não apenas por nós, mas também pelo bem de toda a Igreja”. Não obstante, caminhando na contramão da modernidade conseguida pela humanidade, o papa dá sinal de fervorosa defesa da manutenção do celibato dos padres. Tanto isso é verdade, que, num recente pronunciamento, ele foi bastante enfático ao afirmar que os futuros padres devem ser bem formados desde o seminário, “para viver de verdade as exigências do celibato eclesiástico, assim como ter uma relação justa com os bens materiais”. Trata-se de fato que vem suscitando enorme interesse no seio dos seguidores do cristianismo, porquanto é notória a existência de pressão para o exame da obrigatoriedade do celibato, mas a liderança da Igreja Católica não se flexiona diante da palpável realidade sobre o encolhimento dos templos, com o afastamento progressivo de parcela significativa do seu rebanho, certamente causado, entre outros fatores, pela falta de iniciativa sobre a discussão de assuntos que precisam ser atualizados para adequação à mera realidade dos novos tempos, sem que isso modifique os dogmas e os princípios basilares do cristianismo, que o caso em apreço. Com todo respeito à Igreja Católica, mas o celibato é regra que tem o condão de negar os princípios cristãos, por afastar o filho de Deus, que é seu mais próximo discípulo - o sacerdote -, do convívio com o núcleo familiar e de ceifar, de forma discriminatória, a possibilidade de poder cumprir importante princípio cristão, segundo o qual o homem teria sido instruído a crescer e multiplicar a espécie, em nome do pai celestial. Não há dúvida de que o celibato é princípio imposto que não faz o menor sentido prático e não corresponde a qualquer justificativa plausível, porque a sua existência não fere os dogmas e os princípios fundamentais do cristianismo, não havendo qualquer obstáculo ao normal exercício do sacerdócio, cujo titular é impedido, de forma inexplicável, de usufruir os saudáveis dons e belezas naturais propiciados ao homem por Deus, que são, entre tantas, o direito da efetiva participação do amor entre seu semelhante e, em especial, do relacionamento, em igualdade de condições, com quem ama, podendo constituir família e ter filhos, como os demais filhos de Deus, que, com absoluta certeza, não concorda com essa injustificável e desumana exigência do celibato, que não prejudica senão a quem o aceita pacificamente, como forma de servir a Deus, que poderia exercer tal ofício da mesma forma ou ainda melhor se tivesse a possibilidade de se relacionar intimamente com seu semelhante, pois teria até mais condições de conhecer profundamente as vicissitudes humanas. Aliás, a modernidade alcançada pela humanidade já era mais do que suficiente para a Igreja Católica perceber que a prática do celibato não mais se justifica, principalmente porque a evolução dos princípios não se coaduna com regras impostas em passado remotíssimo, quando ele foi implantado por algum motivo necessário ao fortalecimento da fé cristã. Contudo, como os tempos mudaram e a história se beneficiou do aperfeiçoamento das relações humanas, não se justifica que, na atualidade, os cardeais da Igreja Católica não vislumbrem a premente necessidade de haver modernização de práticas e costumes que não fazem mais sentido e que, ao contrário do que se possa imaginar, a sua reformulação funcionaria como verdadeira oxigenação da estrutura arcaica e resistente à modernidade e certamente se harmonizaria com os verdadeiros sentimentos de humanização, fraternidade e amor sabiamente pregados pelo Mestre Jesus Cristo.
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de junho de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário