O presidente da
Câmara dos Deputados teve a iniciativa de rebater as graves acusações sobre as
condutas aviltantes dos políticos brasileiros constantes de reportagem exibida pelo
Fantástico, que teve por inspiração livro intitulado "O Nobre
Deputado", de autoria de um juiz de Direito, onde revela, com minudência,
o modus faciendi protagonizado por parlamentares
e políticos para comprar votos necessários à conquista de seus mandatos. No
livro, consta um personagem, criado de forma fictícia, que é responsável,
segundo seu autor, por uma série de ilícitos. O mencionado presidente enfatizou
que “Inexiste qualquer relação entre os
ilícitos referidos na reportagem e a competência constitucionalmente conferida
ao Congresso Nacional. Cabe à Polícia Judiciária e ao Ministério Público
investigar e à Justiça Eleitoral punir a compra de votos ou a captação ilegal
de recursos destinados a campanhas eleitorais. Devendo-se realçar, a propósito,
que qualquer cidadão - ainda que investido no cargo de Juiz de Direito, como o
autor do livro objeto da reportagem - pode representar ao Ministério Público
com vistas à investigação da prática de crimes e ao oferecimento da denúncia
cabível; por outro lado, as obras superfaturadas e as licitações dirigidas
mencionadas na matéria jornalística não dizem respeito, seguramente, às
atividades do Congresso Nacional”. Para ele, as denúncias sobre emendas
parlamentares são falsas, tendo criticado as acusações que não apontam nomes
concretos, in verbis: “Note-se, também, ser flagrantemente
inverídica a reiterada afirmação de que parlamentares reteriam parte do valor
de emendas orçamentárias, haja vista que, fique muito clara, a liberação desse
valor, em favor de Estados e Municípios, é de responsabilidade exclusiva do
Poder Executivo Federal. Não se pode deixar de repudiar as denúncias genéricas,
sem individualização ou indicação de nomes, que minam as instituições
fundamentais da democracia brasileira, reforçam nos eleitores a falsa ideia de
que a política de nada lhes serve e, ao contrário do suposto pelos autores da
reportagem, desestimulam o exercício da cidadania. Nós pedimos respeito à Casa
mais legítima, mais verdadeira, mais democrática do povo brasileiro. Esta é a
palavra que faço e sei em nome do parlamento brasileiro". Não há a
menor dúvida de que as acusações ficam no plano do imaginário, sem a indicação
de fatos concretos nem de nomes dos envolvidos, mas há fortes indícios de que
situações manejadas na obra literária demonstram enorme possibilidade de serem
verossímeis, à vista das condutas manifestadas por políticos, que agem sem o
menor pudor e a transigência com a promiscuidade apenas em legítima defesa de
seus interesses, a exemplo da arraigada e ferrenha luta em defesa da aprovação
da Emenda à Constituição que obriga o Executivo a repassar, sem restrição, os
valores das emendas dos parlamentares, em afrontosa contrariedade aos
princípios insculpidos na Carta Magna, que dá competência privativa àquele
poder para a execução das despesas constantes dos orçamentos públicos, à
exceção das dotações exclusivamente destinadas aos custeios dos Poderes
Legislativo e Judiciário, que têm autonomia para o empenhamento das despesas
com seu pessoal e sua manutenção. As acusações mostradas pelo Fantástico
representam a imagem da indignidade dos políticos tupiniquins, que são
verdadeiros profissionais em defesa de seus interesses, que são preservados às
custas dos recursos dos bestas dos contribuintes, principalmente por meio das
emendas parlamentares e das licitações arranjadas e adaptadas às conveniências
eleitoreiras, em prejuízo do interesse público, ante o desvio de significativa
parcela dos recursos aprovados, com a aparência de legitimidade. Diante da
enorme repercussão causada pela reportagem do Fantástico, que tem certamente
fundo de verdade, à luz do comportamento de alguns políticos, conviria que a
sociedade tivesse a dignidade de expurgar da vida pública os maus políticos que
alimentam as sórdidas e ilícitas relações com o manuseio de verbas públicas, em
proveito próprio e em cristalino prejuízo aos interesses da sociedade. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de junho de 2014
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