sábado, 28 de junho de 2014

Morte às oligarquias

O senador maranhense do PMDB-AP desistiu de concorrer ao Senado Federal, nas eleições deste ano, tendo alegado necessidade para acompanhar tratamento da saúde de sua mulher, mas, na verdade, ele vem enfrentando sérios problemas de rejeição dos eleitores do Amapá, o que indicaria grande possibilidade de ele ser fragorosamente derrotado, exatamente por falta de apoio político. Ele declarou que "Essa decisão já estava tomada. Comuniquei isso ao meu partido na semana passada. Entendo que é chegada a hora de parar um pouco com esse ritmo de vida pública que consumiu quase 60 anos de minha vida e afastou-me muito do convívio familiar". Não deixa de ser decepcionante para o político, que atuou por quase sessenta anos de mandato eleitoral sempre ao lado do poder, afastar-se da vida pública sob os aplausos da sociedade, no sentido inverso de reconhecimento, por sentir-se feliz e aliviado com a sua saída da vida pública, achando que ele já se despede tarde demais, por estar mais do que superado como político, que significava peso morto nas atividades públicas, sob o agravante fato de ter conseguido a fama de ser o velho “coronel” que se enriqueceu à sombra das benesses e das facilidades da administração pública. Nos países evoluídos, o afastamento de políticos da vida pública, via de regra, representa estrago para a sociedade, porque lá as atividades políticas têm por escopo sempre a satisfação do interesse público, em contribuição aos princípios republicano e democrático, em contraposição ao que acontece no país tupiniquim, onde a saída definitiva da política é motivo de comemoração pela sociedade, exatamente pela possibilidade da purificação vida pública e do ingresso de sangue novo nela, como forma de enxergar os cargos públicos eleitorais como eles são verdadeiramente senão para a satisfação do interesse público. Esta noticia não poderia ser mais auspiciosa, porque a aposentadoria do fundador da principal oligarquia do Maranhão pode significar grande contribuição para a dignidade da política brasileira, à vista do noticiário da imprensa de que ele teria sido responsável por conduzir o Estado do Maranhão à pobreza extrema, onde a população padece dos mínimos serviços públicos, quase inexistentes no estado, em contraste com a opulência da família do senador, que tem patrimônio avantajado em relação ao povo. A notícia, pela sua importância para o país, poderia servir para incentivar outros políticos a seguirem o belo exemplo do senador maranhense e se dignar a também se aposentar, em beneficio da renovação do pensamento político, que não pode continuar sob a predominância do atraso e da ideia segundo a qual a atividade pública é o caminho fácil para a conquista das benesses propiciadas pelo poder, quando a sua finalidade é exatamente a satisfação do interesse da sociedade e do país. O crônico e profundo atraso econômico e a enorme desigualdade social do Maranhão representam símbolos nefastos do legado do longevo político, que o dominou política e administrativamente, por tão longo tempo, sempre visando à satisfação dos interesses pessoais, dos familiares e dos correligionários políticos, segundo as informações da mídia. Nem sempre as boas notícias podem ser comemoradas, como essa, porque, por precaução, é preferível soltar o foguetório somente depois do prazo para o registro de candidaturas, prevista para o último dia deste mês, porque a notícia tão auspiciosa para a política tupiniquim pode ainda sofre revés com a desistência da desistência, podendo o velho político, até lá, decidir peitar a dignidade dos brasileiros e resolver se candidatar, na tentativa de se tornar imortal também no Parlamento. Não obstante, caso seja para valer a aposentadoria do senador maranhense, isso seria ainda mais importante, em termos de benefício para o país, se outros homens públicos tivessem a dignidade de também se afastar em definitivo da vida pública, como forma de moralização dos princípios democráticos, possibilitando que as pessoas dignas, honradas e observadoras dos conceitos de honestidade e moralidade sejam encorajadas a abraçar a vida pública, como forma de possibilitar a renovação das práticas políticas, no sentido de que seus princípios e suas finalidades institucionais sirvam exclusivamente para a satisfação do interesse público, em contraposição ao predatório e deletério aproveitamento dos cargos públicos eletivos pela atual classe política. Compete à sociedade se conscientizar, com urgência, sobre a necessidade da purificação e da valorização dos princípios político e democrático, não permitindo que as oligarquias predominem sobre o interesse da sociedade. Não há dúvida de que o afastamento com bastante retardo do politico maranhense significa evidente atraso e despreparo político do povo, que não demonstra dignidade e consciência política, por eleger continuamente cidadãos que são incapazes de representá-lo no estrito sentido constitucional, exatamente por não cumprirem fielmente o compromisso de zelar e defender o interesse da sociedade, mas sim as suas conveniências pessoais e políticas. Urge que o povo se conscientize sobre a necessidade de somente eleger pessoas que comprovem ser capazes de dignificar as funções político-administrativas, no sentido de ser fiel ao seu princípio inspirador de que o povo deve ser o cerne e a razão das práticas políticas. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de junho de 2014

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