terça-feira, 24 de junho de 2014

Medidas de conveniência política

Na proximidade da eleição e seguindo orientação sob o princípio publicitário, próprio da precária imaginação dos marqueteiros, a presidente da República anuncia conjunto de medidas com a finalidade de estimular a indústria brasileira. Trata-se de medidas visivelmente eleitoreiras, com a tentativa de recuperação do terreno perdido junto ao empresariado. A reação palaciana nada mais é do que forma de contrapor avanço dos principais candidatos da oposição à Presidência da República, que conseguiram acenar mais cedo por mais aproximação com os responsáveis pela produção nacional. É evidente que não fosse à percepção presidencial que os empresários podem ter forte influência no resultado da eleição, podendo inclusive atrapalhar as pretensões do candidato que demonstrar indiferença aos interesses daqueles que comandam os negócios nacionais, tais medidas jamais teriam sido idealizadas. Há algum tempo, o empresariado vem pressionando o governo para o atendimento de medidas capazes de melhorar o desempenho da produção industrial, mas a quede na avaliação de voto a seu favor fez a presidente atender a pressão, não propriamente do empresariado, mas do ex-presidente da República petista, que defendia as medidas agora adotadas, como forma de mostrar aos empresários que o possível segundo mandato será mais aberto às sugestões deles. Causa enorme perplexidade se verificar que governo age ao sabor das conveniências pessoais ou político-partidárias, como no caso em comento, quando deveria decidir exclusivamente em função do interesse público, que não se harmoniza com a ideologia do governo, com seu sistema assistencialista, que é arredio ao trabalho, à produção e às causas nacionais. Os brasileiros não devem ser levados à ilusão de que sejam para valer as mudanças de atitude da presidente, que, de repente, adota medidas compatíveis com verdadeira jogada de interesses, totalmente adversas das normais e espontâneas ações próprias da lide da administração do país. É totalmente inadmissível que a chefe da nação venha agora, bem se avizinhando a campanha da reeleição e somente diante do quadro contrário ao seu governo, aprovar uma série de medidas populares, visivelmente com a finalidade de recuperar o prestígio que se esvai à medida que as deficiências e as precariedades da sua gestão ficam cada vez mais patentes e evidenciadas para os brasileiros, que estão percebendo o estrago do governo que não teve condições de estabelecer prioridades das políticas públicas e que contribuiu para que o crescimento econômico permanecesse quase estagnado, em razão da falta de reformas dos sistemas obsoletos e das estruturas arcaicas do Estado, que se engana que a pesada carga tributária, os elevados encargos, as taxas de juros estratosféricas e demais gargalos da economia não sejam prejudiciais ao desenvolvimento na nação. Essa forma maquiavélica de reaproximação da presidente do país com o empresariado apenas confirma a falta de credibilidade do governo petista de sempre atuar em aproveitamento do momento, exatamente para conseguir a obtenção de dividendos e de simpatia de determinado segmento. Não há dúvida de que, ao invés de melhorar o conceito da mandatária, a sua atitude tem o condão de demonstrar a insensibilidade no comando do país, tendo em conta que muitas medidas estão sendo adotadas agora em atendimento às conveniências, em consonância com orientação de marqueteiro de plantão ou de aliados políticos. Nos países desenvolvidos, a sociedade simplesmente repudia tais medidas, por serem absolutamente contrárias aos princípios da ética e da moralidade e ainda por não se coadunarem com a decência e o altruísmo que devem predominar nos estadistas. Caso a mudança de atitude da presidente decorresse por força do atendimento da premência própria da gestão pública, certamente que ela não teria sido efetivada no presente, quando se aproxima a campanha eleitoral, dando a entender, à toda evidência, que se trata de mais um agrado que não se harmoniza com os salutares princípios republicano e democrático. A experiência tupiniquim demonstra que nenhum governo é capaz de mudar de atitude, de repente, senão para satisfazer interesses pessoais, políticos ou partidários. Convém que a sociedade tenha sensibilidade e bom senso para vislumbrar o tamanho do rombo causado ao país, em termos de conquistas social, econômica, política e democrática, decorrente da omissão, da incompetência, da ineficiência, dos conchavos, das coalizões fisiológicas, das ingerências, dos compadrios e de tantas precariedades gerenciais incompatíveis com a decência e a dignidade que devem imperar na administração do país. Não há a menor dúvida de que compete à sociedade repudiar essa forma espúria de o país ser administrado, que não corresponde à governabilidade à altura dos anseios dos brasileiros e muito menos à grandeza e à dignidade que se esperam do estadista que tenha pelo salutar propósito tão somente a satisfação do interesse público. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de junho de 2014

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