A presidente da República
aproveitou a rede de televisão para fazer pronunciamento à nação, na tentativa de
mostrar satisfação principalmente com o término das obras destinadas à Copa do
Mundo, a iniciar-se daqui a poucas horas, com a partida de abertura feita com a
participação do esquete Canarinho. No entendimento dela, a superação das adversidades
evidencia “derrota para os pessimistas”.
Segundo a mandatária do país, “O Brasil
venceu todos os principais obstáculos e está preparado dentro e fora de campo.
Para que a vitória seja ainda mais completa, é preciso que o brasileiro tenha
total noção do o que está acontecendo, sem falso triunfalismo. Como se diz na
linguagem do futebol, treino é treino e jogo é jogo. No jogo que começa agora,
os pessimistas começam perdendo. Os pessimistas diziam que não teríamos Copa.
Os estádios estão aí prontos, foram derrotados pela capacidade de trabalho e
determinação dos brasileiros, que não desistem nunca. Diziam que não teríamos copa porque não teríamos aeroportos.
Praticamente dobramos a capacidade dos nossos aeroportos. Prontos para dar
conforto. Chegaram a dizer que haveria racionamento de energia. Não haverá
falta durante ou depois”. Ela aproveitou para defender os investimentos aplicados
nas obras da Copa do Mundo e para discordar da opinião de que as verbas pertinentes
deveriam se destinar à saúde e à educação, alegando que os valores aplicados
nesses serviços públicos representam 212 vezes maiores do que as quantias
destinadas aos estádios. Não há a menor dúvida de que poderia ser motivo de
enorme satisfação, alegria e orgulho para o Brasil poder sediar a Copa do
Mundo, caso não houvesse tantas precariedades e mazelas entravando as melhorias
das condições de vida da população, cujas necessidades básicas são desprezadas
pela inexistência de priorização das políticas públicas. O povo brasileiro não
tem o direito de endossar iniciativa como esse empreendimento, por não ser em
nada beneficiado por ele, tendo em conta que o pouco dos gastos com mobilidade
urbana, algo que lhe pode ser útil e aproveitável, não corresponde em nada
comparável a tanto de tributo que é pago ao Estado, cujas obras já deveriam ter
sido feitas há bastante tempo, sem a menor necessidade da realização desse
evento, uma vez que se trata de empreendimentos normais na evolução e na
modernização exigidas na infraestrutura das metrópoles, como forma de facilitar
as relações pertinentes à mobilidade. O certo é que nenhuma cidade do mundo vai
vincular, como fez o Brasil, a modernização da sua infraestrutura somente à realização
de megaeventos, como forma de justificar os investimentos públicos. As
justificativas da petista são absolutamente descabidas, impróprias e demonstram
que as poucas obras foram realizadas intempestivamente, confirmando a
incompetência da administração de implementá-las somente pelo motivo de ter
sediando a copa, quando a sua premência já se fazia presente independentemente
de qualquer evento grandioso. O ataque da presidente aos que ela qualifica de
pessimistas é completamente demagógico e despropositado, por não haver motivo
plausível que o justifique, senão pela própria incompetência da administração
do país, evidenciada nos reiterados atrasos no cumprimento dos cronogramas das
obras para a copa. O discurso da presidente mostra apenas oportunismo
em nome da conveniência política, pela proximidade da campanha eleitoral. Vejam-se
que, a duras penas, o governo conseguiu entregar à organização da Fifa os
estádios, mesmo assim quase acima do início do evento. A incompetência do
governo foi mais do que notória, tendo dado azo a reiteradas reclamações dos
organizadores da copa, que, preocupados, exigiam urgente efetividade das obras,
sem menosprezo às ameaças de chute nos traseiros dos brasileiros, para o fim de
alertá-los sobre a necessidade de cumprir os compromissos assumidos diante da
Fifa. Chega ser risível se verificar que a presidente se apresenta ao país
cheia de prepotência como se tivesse conseguido realizar extraordinária façanha
de entregar as maravilhosas arenas à Fifa, como se isso não constituísse apenas
parte do compromisso assumido, enquanto os hospitais continuam sucateados e
menosprezados, prestando serviços médicos de péssima qualidade, a ponto de as
pessoas serem mal atendidas e até falecerem nos hospitais, por falta de
assistência ou atendimento adequado, em que pese a suntuosa destinação de
recursos para o Sistema Único de Saúde, conforme declarado pela presidente,
cujos dispêndios são, na verdade, realizados de forma ineficiente, em razão de não
haver acompanhamento quanto à sua efetividade e ao custo-benefício. Não assiste
à presidente a mínima razão para se ufanar sobre a realização da Copa do Mundo
no país, sem antes ter a comprovação da eficiência e da eficácia dos serviços
públicos. Somente depois de satisfazer às necessidades plenas da população e
ainda de comprovar a inexistência de reclamações quanto às precariedades da
administração do país, no que diz respeito à satisfação do povo com o ensino
público de qualidade, o atendimento médico-hospitalar com presteza e
efetividade, a segurança pública protegendo a população contra a criminalidade
e a violência, entre tantos serviços públicos compatíveis com as elevadas
cargas tributárias, além do rigoroso controle dos gastos públicos, talvez o
governo pudesse, apesar disso se inserir na sua obrigação, vangloriar-se sobre
alguma realização fora dos padrões inerentes à sua incumbência constitucional e
legal, a exemplo dessa famigerada Copa do Mundo, que veio em mau momento,
máxime porque, à toda evidência, o país ainda não estaria preparado para
hospedá-la, ante a notória incompetência administrativa de seus governantes,
considerando que as políticas públicas não contemplam, de forma prioritária, as
ansiedades da população. A sociedade tem o dever cívico e patriótico de
rechaçar, com veemência, o indevido e inapropriado pronunciamento da mandatária
do país, por não condizer com a realidade socioeconômica da nação. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de junho de 2014
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