sexta-feira, 27 de junho de 2014

Deterioração dos princípios morais

Em sintonia com a falta de compromisso com a transparência na administração pública, o governo conseguiu esfriar os trabalhos das CPIs da Petrobras, sob a maquiavélica estratégia de esticar as investigações por motivo da realização da Copa do Mundo. De forma inadmissível e injustificável, a oposição também demonstra pouco interesse e nenhum empenho em dar celeridade às apurações, como também não se interessou quanto ao aprofundamento nas buscas de novos fatos e elementos sobre as irregularidades objeto das investigações já realizadas pela Polícia Federal. Até agora, o fato de maior repercussão, que causou maior perplexidade e estrago político, refere-se à nota da presidente da República sobre a compra, a preços superfaturados, da refinaria de Pasadena, nos EUA, que teve divulgação em março último e basicamente acena para a tentativa dela de se eximir das responsabilidades cobradas pelo ex-presidente da estatal, quando os fatos apontam na direção da presidente do país, em razão de ter sido, à época, presidente do Conselho Deliberativo da empresa, estando umbilicalmente ligada à decisão sobre a compra da questionada refinaria. É evidente que o caminho e longo para as CPIs mostrarem resultados, diante das manobras criadas pelo governo para dificultar as apurações. Por certo, a situação da Petrobras deverá esquentar de verdade, com a revelação de que o ex-diretor da estatal tem conta na Suíça, recheada de algo em torno de 23 milhões de dólares. À toda evidência, essa fortuna tem origem em esquema de grave corrupção tramada no seio da Petrobras, cujos contornos deverão ser objeto de discussão logo após o término da Copa, para tirar o sossego do governo e provocar incômodo e desgaste para o governo, a depender da competência da oposição. Embora não haja maior dificuldade para se imaginar qual a origem dessa dinheirama, é muito provável que governistas e oposicionistas não tenham muito interesse em se aprofundar na sua investigação, justamente tendo em conta os fatores relacionados com os financiadores de campanha, cujo resultado poderá respingar negativamente sobre os políticos em geral, com possibilidade de prejudicar ainda a sua reputação, uma vez que os envolvidos, corruptos e corruptores poderão ser responsabilizados pelo envolvimento nas irregularidades com recursos públicos. Enquanto milhões de reais são surrupiados dos cofres da Petrobras, por cidadão que é acusado de ser mentor de esquema fraudulento dentro da estatal, o governo, além de acusar a oposição pela tentativa de quebrá-la, sob o argumento de querer apurar as falcatruas pertinentes à aquisição, a preços superfaturados, da aludida refinaria, se esforçou ao máximo para evitar que as pletoras irregularidades denunciadas no gerenciamento da empresa se tornassem transparentes, porque uma das pessoas envolvidas nesse lamentável e desastroso episódio é justamente a mandatária do país. Ou seja, além da tentativa de abafar e blindar o mar de sujeira responsável pela decadência econômico-financeira do Petrobras, a intenção do governo era jogá-la para debaixo do enorme tapete palaciano, fazendo com que os fatos irregulares não passassem de mera tentativa de enlamear o governo, com acusações absurdas, segundo ele e seus simpatizantes. A enorme diferença existente entre as republiquetas e os países desenvolvidos é que, naqueles, os governantes sempre conseguem camuflar da sociedade os fatos irregulares, contrários à probidade e ao interesse público, enquanto, nestes, os administradores públicos têm a dignidade de determinar e de exigir a imediata investigação dos malfeitos, com vistas à quantificação do prejuízo, à imputação de responsabilidades, não importando as pessoas envolvidas, e ao ressarcimento dos danos causados ao erário. A vergonhosa e indigna conduta demonstrada pelo governo nos lamentáveis casos ocorridos na estatal, principalmente com relação à compra da refinaria em comento e às apurações de que trata a operação Lava-Jato, tem o condão de macular de forma indelével a administração do país, ante ao cristalino ferimento dos salutares princípios da lisura, do decoro, da ética, da moral e da honorabilidade. É evidente que os brasileiros, em atenção ao seu dever cívico e patriótico, não podem ser coniventes com os homens públicos que demonstraram extrema complacência com as graves irregularidades que foram capazes de causar enormes rombos aos cofres da maior empresa brasileira, conforme os fatos amplamente divulgados pela imprensa, sem o que nada seria sequer informado, quanto mais apurado. Não há dúvida de que a dignidade de um povo se mede pela sua conscientização sobre a aceitação ou não acerca da maneira como seus governantes estão administrando a nação, principalmente se eles são capazes e se, na sua gestão, estão sendo observados, com rigor, os princípios pertinentes ao decoro, à probidade e à honorabilidade. À toda evidência, no caso da Petrobras, houve graves irregularidades e irresponsabilidades por parte da administração do país, ao se omitir quanto à adoção, com a necessária urgência, de medidas indispensáveis à apuração dos fatos irregulares denunciados, tendo por finalidade, se for o caso, a atribuição de responsabilidades pelos fatos ocorridos, que jamais poderiam deixar de ser investigados, à vista da sua gravidade e relevância para o interesse nacional. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de junho de 2014
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A oposição ao governo até que poderia, para o benefício do interesse público e o aperfeiçoamento dos princípios republicano e democrático, aprofundar as fiscalizações e as investigações sobre a revelação do depósito de mais de vinte e três milhões de dólares na conta do ex-diretor da Petrobras, que se encontra preso na Polícia Federal, por acusação de envolvimento em esquema fraudulento que movimentou mais de dez bilhões de dólares, cujos fatos podres tiveram origem na estatal, de onde foi desviada montanha de recursos mediante contratações irregulares. A forma mais adequada para a devida apuração sobre a origem dos dinheiros guardados no exterior e enviados para partidos e políticos, segundo os levantamentos da operação Lava-Jato, deve passar pelo crivo das competentes Comissões Parlamentares de Inquérito do Congresso Nacional, que foram instaladas, em princípio, para apurar as irregularidades ocorridas naquela empresa. Trata-se de excelente oportunidade para serem levantadas importantes revelações sobre as roubalheiras que grassam na administração pública, principalmente na petrolífera e noutras empresas públicas, que têm servido, sem o menor escrúpulo, para o aparelhamento do governo, com o loteamento, em especial, dos cargos de direção, entregues a pessoas completamente despreparadas e sem a menor competência gerencial, mas gozam da maior destreza para a satisfação de interesses pessoais ou partidários. Diante desse quadro de distribuição de cargos públicos, em troca de apoio político, o governo não tem o menor interesse em investigar com profundidade os casos de corrupção com recursos públicos, à vista da extrema dificuldade imposta por ele para se esmiuçarem os fatos, cuja orientação é fielmente seguida pelos aliados e beneficiários das benesses do poder, que demonstram total oposição não somente na instalação das comissões pertinentes, mas exatamente para se evitar a revelação sobre as falcatruas consistentes nas contratações milionárias envolvendo recursos da Petrobras e seus contratados, que são os potenciais financiadores das campanhas eleitorais, notadamente dos governistas. A sociedade nutre a mais firme esperança de que, passada a Copa do Mundo, não importando qual seja seu resultado, as investigações incumbidas às comissões em apreço sejam efetivamente intensificadas para o bem da moralidade e da lisura da administração pública. Espera-se que seus trabalhos se desenvolvam com a proficuidade capaz de possibilitar o aprofundamento das investigações, inclusive com a abrangência do universo objetivado. É conveniente que a oposição seja competente e tome a iniciativa na busca de novos elementos, com vistas à revelação de mais casos de corrupção, que estão interferindo no resultado econômico-financeiro da estatal. É muito importante que o titular da conta na Suíça seja devidamente interrogado, tendo em vista que o seu testemunho poderá trazer à baila fatos reveladores e relevantes sobre o envolvimento de pessoas poderosas, notadamente no âmbito da política. A descoberta da conta recheada de dólares na Suíça seria mais do que suficiente para que um governo sério e comprometido com a honestidade, moralidade e legitimidade na administração pública adotasse urgentes providências no sentido de apurar os fatos irregulares, com a finalidade, se for o caso, da quantificação dos danos causados ao erário, da responsabilização dos envolvidos e do ressarcimento dos valores desviados. Não há a menor dúvida de que os fatos enfeixados na corrupção endêmica, que vêm envergonhando os brasileiros e o mundo, não representam nenhuma novidade para o cacique-mor do PT, por ter vaticinado que, quando conquistar o poder, a partir de então, seu partido se manteria nele por 50 anos e ninguém seria capaz de tirá-lo dele, custasse o que custasse, ou seja, agora dá para entender exatamente quais eram os objetivos do líder maior do partido, que soube planejar com enorme “sabedoria” a estratégia de dominação do poder mediante a disseminação de práticas contrárias aos princípios da legalidade e da moralidade, em completa desarmonia com os objetivos primaciais do interesse público. Infelizmente, é induvidoso que impera no país a cultura da impunidade da corrupção e dos homens públicos que são lenientes com ela. Em razão disso, as contratações públicas normalmente são superfaturados, para possibilitar o repasse de parcela de verbas públicas para o financiamento de campanhas eleitorais, em verdadeira triangulação mafiosa para desviar recursos públicos, contribuindo para que os maus políticos permaneçam ad aeternum no poder. As irregularidades com origem na Petrobras, principalmente com a farta contratação de empresas, sem critérios definidos e justificados, demonstram o modus faciendi como os dinheiros são facilmente desviados dos cofres da empresa e depositados nas contas de diretores e dos partidos políticos, contribuindo para garantir a perpetuação no poder e a continuidade das maracutaias. Somente a sociedade tem condições de corrigir a grave distorção existente na administração do país, mediante a extirpação da vida pública dos maus políticos e a imposição da imediata reformulação dos sistemas político e administrativo, como forma de moralização das instituições e dos princípios republicano e democrático, que se encontram completamente deteriorados com a dominação do poder vigente no país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de junho de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário