segunda-feira, 23 de junho de 2014

Absurda reunião da discórdia

Segundo notícia publicada no site da Folha de S.Paulo, o ex-presidente da República petista teria realizado reunião dos coordenadores da campanha à reeleição da presidente do país, em São Paulo, sem a presença do assessor mais próximo da petista. Esse fato gerou mal-estar no Palácio do Planalto, tendo criado ruído entre aliados do ex-presidente e da sua sucessora. O encontro foi realizado dez dias depois da reunião do Instituto Lula, com cerca de trinta pessoas, para a discussão da conjuntura econômica. A ausência do aludido assessor, que é fiel escudeiro da presidente do país, não a agradou, por ter dado a impressão de que o ex-presidente o isolou do encontro para se discutirem, à vontade, mudanças na campanha presidencial. O fato é que o citado assessor representa os olhos e ouvidos da mandatária da nação, sendo considerado de suma importância para ela no comando da sua campanha. Pessoas da confiança da petista confirmaram o mal-estar, mas elas preferiram pôr panos-quentes no curto-circuito havido, sob a alegação de que a reunião não havia sido agendada oficialmente, porquanto ela teria sido realizada apenas em aproveitamento da presença dos petistas para “pacificar” divergências que os separavam. Já alguns petistas entenderam que a notícia sobre a ausência do assessor teria sido informada com distorção à presidente, levando-a a acreditar que o ato teria por objetivo avaliação crítica sobre o desempenho e o comportamento dela no governo. Embora, em público, seja negada a existência de divergência entre a presidente e o PT, a relação entre ambos não tem sido das melhores e a presidente tem sido alvo de críticas constantes do ex-presidente, tanto nos bastidores e até em público, a exemplo do ocorrido num recente seminário, na qual ele defendeu mudanças na economia, com a cobrança de medidas objetivando o aumento da oferta de créditos. A forma obtusa e truculenta como costuma proceder a liderança do PT deixa transparecer que a sua cúpula é capaz de atropelar sem piedade o sentimento das pessoas, inclusive dos companheiros e até da autoridade da presidente da República, como no caso da reunião comandada pelo ex-presidente, que se acha não somente dono do partido, mas também do país, pelo simples fato de ter sido seu mandatário e de ter realizado uma das piores administrações em todos os tempos, salvo no que ele se refere à distribuição de renda, mediante o Bolsa Família, como se os recursos fossem da exclusiva propriedade dele. Veja-se que, na sua deletéria gestão, a qualidade de vida dos brasileiros foi considerada péssima e os índices de desenvolvimento humano do país despencaram para os mais ínfimos patamares, com a evidência do progressivo aumento da criminalidade, o fomento do tráfico de drogas, a precariedade do ensino público, a crônica deficiência da saúde pública, o sucateamento das estradas, dos portos e, de resto, da infraestrutura, que fazem com que o país, com a sétima economia do mundo, seja considerado uma das nações de sofrível qualidade na prestação de serviços públicos, em que pese o absurdo contraste de ela figurar entre aquelas que possuem uma das maiores cargas tributárias do planeta. A reunião em comento evidencia tremendo desrespeito ao verdadeiro princípio da decência e da lealdade, que deveriam imperar no âmbito da sociedade, quanto mais na vida partidário, que, na teoria, tem por ideologia a unidade entre seus filiados. No caso, a demonstração de autoridade suprema do ex-presidente talvez seja justificável, para ele, pelo fato de a presidente passar por momento de descrédito junto à opinião pública, quanto à sua efetividade e eficiência no comando da nação, não obstante esse episódio não é motivo capaz de justificar e abonar a monstruosidade de se desconsiderar a importância da maior autoridade da nação, de modo a causar indiscutível e horrível mal-estar entre o criador e a criatura, por evidenciar absoluta falta de civilidade entre correligionários. Agora causa estranheza que, nos bastidores, as desavenças são gritantes e notórias, como mostra a reunião em causa, mas, em público, como ocorrido na recente convenção do partido, ambos juraram fidelidade e múltiplos companheirismos, deixando visível o tamanho da hipocrisia que existe entre políticos tupiniquins. O fato é que os últimos acontecimentos, mostrando a queda na avaliação da presidente e possíveis dificuldades para a campanha presidencial petista, são indicativos do visível desespero por parte daqueles que não estão acostumados a conviver com as adversidades e os contratempos da política, quando esta, pelo menos nos últimos tempos, somente vem servindo para a satisfação de escusos e inescrupulosos interesses político-partidários. Os brasileiros têm a responsabilidade cívica e patriótica, como forma de contribuir para a purificação e a moralização da administração pública, de excluir da vida pública, com urgência e o seu poder nas urnas, os maus políticos que, de forma maquiavélica, estão aproveitando as funções públicas eleitorais para a satisfação de interesses pessoais ou partidários, em cristalino ferimento aos princípios democrático e republicano da ética, da moral, do decoro e da honorabilidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de junho de 2014

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