Em sintonia com a falta de
compromisso com a transparência na administração pública, o governo conseguiu
esfriar os trabalhos das CPIs da Petrobras, sob a maquiavélica estratégia de
esticar as investigações por motivo da realização da Copa do Mundo. De forma
inadmissível e injustificável, a oposição também demonstra pouco interesse e
nenhum empenho em dar celeridade às apurações, como também não se interessou quanto
ao aprofundamento nas buscas de novos fatos e elementos sobre as
irregularidades objeto das investigações já realizadas pela Polícia Federal.
Até agora, o fato de maior repercussão, que causou maior perplexidade e estrago
político, refere-se à nota da presidente da República sobre a compra, a
preços superfaturados, da refinaria de Pasadena, nos EUA, que teve divulgação
em março último e basicamente acena para a tentativa dela de se eximir das
responsabilidades cobradas pelo ex-presidente da estatal, quando os fatos
apontam na direção da presidente do país, em razão de ter sido, à época, presidente
do Conselho Deliberativo da empresa, estando umbilicalmente ligada à decisão
sobre a compra da questionada refinaria. É evidente que o caminho e longo para
as CPIs mostrarem resultados, diante das manobras criadas pelo governo para
dificultar as apurações. Por certo, a situação da Petrobras deverá esquentar de
verdade, com a revelação de que o ex-diretor da estatal tem conta na Suíça, recheada
de algo em torno de 23 milhões de dólares. À toda evidência, essa fortuna tem
origem em esquema de grave corrupção tramada no seio da Petrobras, cujos
contornos deverão ser objeto de discussão logo após o término da copa, com grande possibilidade de
tirar o sossego do governo e de provocar incômodo e desgaste dele, a
depender da competência da oposição. Embora não haja maior dificuldade para se
imaginar qual a origem dessa dinheirama, é muito provável que governistas e
oposicionistas não tenham muito interesse em se aprofundar na sua investigação,
justamente tendo em conta os fatores relacionados com os financiadores de campanha,
cujo resultado poderá respingar negativamente sobre os políticos em geral, com possibilidade
de prejudicar ainda a sua reputação, uma vez que os envolvidos, corruptos e
corruptores poderão ser responsabilizados pelo envolvimento nas irregularidades
com recursos públicos. Enquanto milhões de reais são surrupiados dos cofres da Petrobras, por
cidadão que é acusado de ser mentor de esquema fraudulento dentro da estatal, o
governo, além de acusar a oposição pela tentativa de quebrá-la, sob o argumento
de querer apurar as falcatruas pertinentes à aquisição, a preços
superfaturados, da aludida refinaria, se esforçou ao máximo para evitar que as
pletoras irregularidades denunciadas no gerenciamento da empresa se tornassem
transparentes, porque uma das pessoas envolvidas nesse lamentável e desastroso
episódio é justamente a mandatária do país. Ou seja, além da tentativa de
abafar e blindar o mar de sujeira responsável pela decadência
econômico-financeira do Petrobras, a intenção do governo era jogá-la para
debaixo do enorme tapete palaciano, fazendo com que os fatos irregulares não
passassem de mera tentativa de enlamear o governo, com acusações absurdas,
segundo ele e seus simpatizantes. A enorme diferença existente entre as
republiquetas e os países desenvolvidos é que, naqueles, os governantes sempre
conseguem camuflar da sociedade os fatos irregulares, contrários à probidade e
ao interesse público, enquanto, nestes, os administradores públicos têm a
dignidade de determinar e de exigir a imediata investigação dos malfeitos, com
vistas à quantificação do prejuízo, à imputação de responsabilidades, não
importando as pessoas envolvidas, e ao ressarcimento dos danos causados ao
erário. A vergonhosa e indigna conduta demonstrada pelo governo nos lamentáveis
casos ocorridos na estatal, principalmente com relação à compra da refinaria em
comento e às apurações de que trata a operação Lava-Jato, tem o condão de
macular de forma indelével a administração do país, ante ao cristalino
ferimento dos salutares princípios da lisura, do decoro, da ética, da moral e
da honorabilidade. É evidente que os brasileiros, em atenção ao seu dever cívico
e patriótico, não podem ser coniventes com os homens públicos que demonstraram
extrema complacência com as graves irregularidades que foram capazes de causar
enormes rombos aos cofres da maior empresa brasileira, conforme os fatos
amplamente divulgados pela imprensa, sem o que nada seria sequer informado,
quanto mais apurado. Não há dúvida de que a dignidade de um povo se mede pela
sua conscientização sobre a aceitação ou não acerca da maneira como seus
governantes estão administrando a nação, principalmente se eles são capazes e
se, na sua gestão, estão sendo observados, com rigor, os princípios pertinentes
ao decoro, à probidade e à honorabilidade. À toda evidência, no caso da
Petrobras, houve graves irregularidades e irresponsabilidades por parte da
administração do país, ao se omitir quanto à adoção, com a necessária urgência,
de medidas indispensáveis à apuração dos fatos irregulares denunciados, tendo
por finalidade, se for o caso, a atribuição de responsabilidades pelos fatos ocorridos,
que jamais poderiam deixar de ser investigados, à vista da sua gravidade e relevância
para o interesse nacional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de junho de 2014
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