quarta-feira, 25 de junho de 2014

Irregularidades e irresponsabilidades na Petrobras

Em sintonia com a falta de compromisso com a transparência na administração pública, o governo conseguiu esfriar os trabalhos das CPIs da Petrobras, sob a maquiavélica estratégia de esticar as investigações por motivo da realização da Copa do Mundo. De forma inadmissível e injustificável, a oposição também demonstra pouco interesse e nenhum empenho em dar celeridade às apurações, como também não se interessou quanto ao aprofundamento nas buscas de novos fatos e elementos sobre as irregularidades objeto das investigações já realizadas pela Polícia Federal. Até agora, o fato de maior repercussão, que causou maior perplexidade e estrago político, refere-se à nota da presidente da República sobre a compra, a preços superfaturados, da refinaria de Pasadena, nos EUA, que teve divulgação em março último e basicamente acena para a tentativa dela de se eximir das responsabilidades cobradas pelo ex-presidente da estatal, quando os fatos apontam na direção da presidente do país, em razão de ter sido, à época, presidente do Conselho Deliberativo da empresa, estando umbilicalmente ligada à decisão sobre a compra da questionada refinaria. É evidente que o caminho e longo para as CPIs mostrarem resultados, diante das manobras criadas pelo governo para dificultar as apurações. Por certo, a situação da Petrobras deverá esquentar de verdade, com a revelação de que o ex-diretor da estatal tem conta na Suíça, recheada de algo em torno de 23 milhões de dólares. À toda evidência, essa fortuna tem origem em esquema de grave corrupção tramada no seio da Petrobras, cujos contornos deverão ser objeto de discussão logo após o término da copa, com grande possibilidade de tirar o sossego do governo e de provocar incômodo e desgaste dele, a depender da competência da oposição. Embora não haja maior dificuldade para se imaginar qual a origem dessa dinheirama, é muito provável que governistas e oposicionistas não tenham muito interesse em se aprofundar na sua investigação, justamente tendo em conta os fatores relacionados com os financiadores de campanha, cujo resultado poderá respingar negativamente sobre os políticos em geral, com possibilidade de prejudicar ainda a sua reputação, uma vez que os envolvidos, corruptos e corruptores poderão ser responsabilizados pelo envolvimento nas irregularidades com recursos públicos. Enquanto milhões de reais são surrupiados dos cofres da Petrobras, por cidadão que é acusado de ser mentor de esquema fraudulento dentro da estatal, o governo, além de acusar a oposição pela tentativa de quebrá-la, sob o argumento de querer apurar as falcatruas pertinentes à aquisição, a preços superfaturados, da aludida refinaria, se esforçou ao máximo para evitar que as pletoras irregularidades denunciadas no gerenciamento da empresa se tornassem transparentes, porque uma das pessoas envolvidas nesse lamentável e desastroso episódio é justamente a mandatária do país. Ou seja, além da tentativa de abafar e blindar o mar de sujeira responsável pela decadência econômico-financeira do Petrobras, a intenção do governo era jogá-la para debaixo do enorme tapete palaciano, fazendo com que os fatos irregulares não passassem de mera tentativa de enlamear o governo, com acusações absurdas, segundo ele e seus simpatizantes. A enorme diferença existente entre as republiquetas e os países desenvolvidos é que, naqueles, os governantes sempre conseguem camuflar da sociedade os fatos irregulares, contrários à probidade e ao interesse público, enquanto, nestes, os administradores públicos têm a dignidade de determinar e de exigir a imediata investigação dos malfeitos, com vistas à quantificação do prejuízo, à imputação de responsabilidades, não importando as pessoas envolvidas, e ao ressarcimento dos danos causados ao erário. A vergonhosa e indigna conduta demonstrada pelo governo nos lamentáveis casos ocorridos na estatal, principalmente com relação à compra da refinaria em comento e às apurações de que trata a operação Lava-Jato, tem o condão de macular de forma indelével a administração do país, ante ao cristalino ferimento dos salutares princípios da lisura, do decoro, da ética, da moral e da honorabilidade. É evidente que os brasileiros, em atenção ao seu dever cívico e patriótico, não podem ser coniventes com os homens públicos que demonstraram extrema complacência com as graves irregularidades que foram capazes de causar enormes rombos aos cofres da maior empresa brasileira, conforme os fatos amplamente divulgados pela imprensa, sem o que nada seria sequer informado, quanto mais apurado. Não há dúvida de que a dignidade de um povo se mede pela sua conscientização sobre a aceitação ou não acerca da maneira como seus governantes estão administrando a nação, principalmente se eles são capazes e se, na sua gestão, estão sendo observados, com rigor, os princípios pertinentes ao decoro, à probidade e à honorabilidade. À toda evidência, no caso da Petrobras, houve graves irregularidades e irresponsabilidades por parte da administração do país, ao se omitir quanto à adoção, com a necessária urgência, de medidas indispensáveis à apuração dos fatos irregulares denunciados, tendo por finalidade, se for o caso, a atribuição de responsabilidades pelos fatos ocorridos, que jamais poderiam deixar de ser investigados, à vista da sua gravidade e relevância para o interesse nacional. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de junho de 2014

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