terça-feira, 17 de junho de 2014

Menosprezo ao mérito

A presidente da República brasileira está tão sem credibilidade junto à opinião pública que ela resolveu abdicar da entrega da taça ao campeão da Copa do Mundo, que se realiza no Brasil. Recentemente, durante a abertura da copa em São Paulo ela foi duramente xingada pelos torcedores presentes ao estádio, com palavra de baixo calão. Na abertura da Copa das Confederações, realizada também no Brasil, no ano passado, ela já havia sido vaiada. Certamente que esses fatos podem ter contribuído para que ela resolvesse não se arriscar e entregar o troféu ao vencedor, haja vista a enorme possibilidade de ela ser novamente hostilizada diante da plateia mundial de telespectadores, que poderia alcançar repercussão da maior gravidade para quem tem projeto de se reeleger no cargo. Diante da desistência da presidente brasileira, será a primeira vez que o mandatário do país-sede da copa não entregará a taça ao capitão da seleção campeã. Coube à Fifa convidar a rainha das modelos brasileiras, que não entende nada de futebol, mora nos EUA e vem ao Brasil, de vez em quando, faturar nos desfiles de moda,  para fazer a entregar da taça ao campeão. Em princípio, a modelo ainda impôs condições para aceitar o convite, ao exigir que somente viria ao país tupiniquim dependendo do “clima político” durante a realização do evento, ou seja, que não haja manifestações contra os gastos da copa. Segundo se especula, ela não queria associar sua imagem milionária e impecável ao possível momento tão politizado e recheado de manifestações e violência. Não obstante, ante a aparente tranquilidade nos empreendimentos, ela aceitou o convite e confirmou sua presença no Maracanã, no dia 13 de julho vindouro. Embora a Fifa tenha consolidado a tradição de o chefe de Estado do país-sede da copa entregar o principal troféu ao campeão do evento, cabe aqui apropriada crítica no sentido de que essa incumbência deveria circunscrever ao seio do futebol, como forma inteligente da prestação de merecida homenagem aos atletas que contribuíram para o engrandecimento dessa prática desportiva e para o estimulo aos novos futebolistas. Não é justo que os políticos sejam prestigiados por ocasião da entrega da taça, por não ser, à toda evidência, a sua seara de atuação. A importância da Copa do Mundo deveria permanecer no âmbito do futebol, como forma de valorização dos profissionais que são a razão de grandioso evento. Não há a menor justificativa para que políticos, muitos quais desrespeitosos dos direitos humanos e dos princípios democráticos, sejam protagonistas em solenidade que não lhes diz respeito, tendo ainda possível agravante de o fato em si poder até contribuir para elevar o prestígio de quem efetivamente não faz jus, por demonstrar incapacidade de administrar com dignidade e competência o seu país. Caso a presidente do Brasil tivesse qualificação - no que diz respeito ao apoio da sociedade, segundo o qual ela não seria hostilizada - para entregar a taça, certamente que ela iria enaltecer seu gesto em homenagem aos brasileiros sofridos, aproveitando o momento para propagar a ideologia em seu proveito político e que mais interessa à massa carente, que seria tratada como integrante de verdadeiros heróis, embora esses prestigiados sejam aqueles beneficiários dos programas assistencialistas, que não trabalham nem contribuem para a produção nacional. Também não parece justo que a Fifa pague gordo cachê para a modelo estranha ao futebol exibir seu charme no final da copa, exatamente por falta de mérito e de plausibilidade para tanto, quando um ilustre e renomado atleta do país-sede poderia representar com o maior brilhantismo o ato com a maior dignidade e justo merecimento, em consonância com os princípios desportivos e ainda com a vantagem de não cobrar nada por sua participação honrosa, cujo ato teria o condão de servir de maneira pedagógica para incentivar os futuros jogadores de futebol de todo mundo. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de junho de 2014

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