O ministro da Justiça, acolhendo representação do
PT e PCdoB, determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para
investigar possíveis crimes cometidos pelo ex-presidente da República tucano, que
teria enviado dinheiro para a jornalista com quem ele manteve caso
extraconjugal, que residia na Espanha, por meio de contrato com a empresa
Brasif Exportação e Importação.
O inquérito correrá sob sigilo de Justiça e terá
como base as afirmações da jornalista em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, na qual ela afirmou que
o ex-presidente teria celebrado contrato fictício com a aludida empresa, por
meio do qual ela teria recebido o valor de US$ 3 mil mensais, entre os anos de 2002
a 2006. Ainda segundo a delatora, o ex-presidente enviou, por meio de contas no
exterior, dinheiro para os sustentos dela e de seu filho, no exterior, quando ele
ainda era presidente do país.
A jornalista também afirma que chegou a ser
“exilada”, pois teria sofrido pressão para não voltar ao Brasil na época em que
o tucano disputava a reeleição.
O ex-presidente admitiu, por meio de nota, ter mantido contas no exterior e mandado dinheiro para pessoa que
seria seu filho, mesmo depois de os testes de DNA não terem confirmado a sua
paternidade, a par de ter negado o uso de qualquer empresa para sustentar a sua
amante no exterior.
Nesse
documento, a assessoria do tucano esclarece que as operações financeiras
internacionais do ex-presidente foram feitas com recursos próprios e por meio
de contas bancárias declaradas, sem o emprego de empresa para tanto, nestes
termos: “O presidente Fernando
Henrique Cardoso reafirma que todas as suas operações financeiras
internacionais foram feitas a partir de contas bancárias declaradas, com
recursos próprios. A empresa citada no noticiário já esclareceu que o
presidente não teve qualquer participação na contratação da jornalista. Apesar
de não haver nada de que possa ser incriminado e de o assunto ser de âmbito
privado, o presidente prestará todos os esclarecimentos que se fizerem
necessários”.
Diante da total falta de credibilidade dos homens
públicos, quando eles sempre dizem algo completamente diferente sobre a
realidade dos fatos, seria de bom alvitre que o ex-presidente tucano, ao invés
de esperar pela investigação, de forma sigilosa, apresente aos brasileiros os
comprovantes pertinentes à legitimidade das transações agora sob suspeitas, de
modo a mostrar a verdade real e a transparência que se exigem em casos que
tais, porque dificilmente alguém vai acreditar em nota assinada por assessoria,
totalmente destituída de consistência jurídica, eis que normalmente essa forma
de explicação sempre é contestada com o resultado das investigações.
Convém que o tucano se antecipe aos fatos, se é que
ele diz a verdade, e mostre que as questionadas operações foram realizadas em
estrita observância aos trâmites legais, considerando que os homens públicos
têm o dever ético e moral de prestar contas à sociedade sobre seus atos.
Também por meio de nota, a empresa Brasif, então concessionária
de lojas de free shop em vários aeroportos brasileiros, confirmou os repasses,
tendo afirmado que a jornalista foi contratada para realizar pesquisas sobre
preços em lojas e free shops na Europa, mas negou que o ex-presidente tenha
influenciado na contratação. A empresa informou que um jornalista, cunhado da
amante do tucano, foi o responsável pela indicação.
É
digno de encômio a atitude do ministro da Justiça de determinar que a Polícia
Federal investigue o ex-presidente tucano, por possível infringência da
legislação pertinente à remessa de dinheiro para o exterior, em que pesem os
fatos objeto dos cuidados dele terem origem nos idos do início do século.
Não
há dúvida de que pouco importa a época da ocorrência dos fatos suspeitos de
irregulares, porque compete às autoridades públicas, no âmbito do seu dever
funcional, cumprir e fazer cumprir o ordenamento jurídico do país,
independentemente quem der causa aos atos infracionais, à vista do princípio
constitucional da transparência.
Agora,
causa perplexidade que medidas análogas a essa, completamente revestidas de
legitimidade, não sejam adotadas com a mesma presteza com relação aos
reiterados casos de denúncias de corrupção perpetrados por petistas e aliados
do governo, no sentido de investigar a veracidade sobre os fatos, o que
demonstra evidente parcialidade e a proteção do governo àqueles que estão com
ele.
Por
questão de justiça a absoluta coerência, o ministro petista deveria manter a
mesma disposição lógica, determinando que a Polícia Federal, no âmbito da sua
incumbência constitucional e legal, investigue imediatamente os casos suspeitos
de irregularidades, independentemente das pessoas denunciadas, como forma do
estrito cumprimento dos saudáveis princípios da impessoalidade, legalidade,
transparência e verdade. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de fevereiro de 2016
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